Por Sofia Rodrigues
in REVISTA PROGREDIR | ABRIL 2023
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Na maioria das vezes queixas como uma sensação subjetiva de desconforto generalizado, um estado mental em alerta constante, uma dificuldade em relaxar, dificuldades de concentração e memória, insónias, despertares frequentes durante a noite, um constante ruminar mental com pensamentos constantes que se seguem uns a seguir aos outros.
Estas são queixas cada vez mais frequentes. Que causas poderão estar associadas a esta ansiedade crescente? Na minha opinião, questões como desequilíbrio de tempo, investimento e saúde nas várias dimensões que fazem parte da nossa vida (pessoal, familiar, amorosa, social, profissional).
É desafiante conseguir ouvir, compreender e satisfazer as nossas necessidades nestas várias dimensões. Vivemos, muitas vezes, em constante esforço, num ultrapassar regular dos nossos limites mentais, físicos e espirituais. Por vezes podemos sentir dificuldade em tomar decisões, em ser assertivos com os outros, em ter coragem de enfrentar uma mudança. O nosso corpo fala connosco e essa linguagem precisa ser descodificada e compreendida. A ansiedade não é mais do que um pedido de ajuda para ser visto, ouvido.
Em muitas e diversas situações de consultório clínico, observam-se temas traumáticos, situações do nosso passado, desde a infância à idade adulta cujo conteúdo é emocionalmente marcante, desafiante.
Estes temas permanecem enraizados em nós, contribuem para bloqueios emocionais e dificultam uma vivência livre e saudável. Estão na base de quadros de ansiedade, depressão, baixa auto-estima, dificuldades relacionais, conjugais e sexuais, entre outras.
Uma das estratégias que utilizo atualmente com resultados bastante positivos em várias das problemáticas apontadas é a Terapia EMDR (Eye Movement Desensitization and Reprocessing), dessensibilização e reprocessamento através do movimento ocular.
Foi criada por Francine Shapiro nos anos 80 e baseia-se na estimulação bilateral do cérebro (hemisférios direito e esquerdo) através de movimentos oculares ou através de uma estimulação bilateral auditiva ou tátil.
A terapia EMDR promove uma dessensibilização das memórias perturbadoras e um reprocessamento da informação associada. Crenças negativas e desadaptadas são transformadas e, em oposição, são instaladas crenças mais reais, positivas e equilibradas sobre nós e sobre o que nos rodeia.
Como consequência, ganhamos uma maior consciência e lucidez sobre os nossos processos interiores, as nossas necessidades e sobre o que é realmente importante no nosso caminho.
Esta terapia pode ser útil em questões como ansiedade generalizada, perturbação de pânico, stress pós-traumático, fobias, ansiedade escolar e social, perturbação obsessiva/compulsiva, depressão, dificuldades de comunicação (assertividade/agressividade/passividade/dizer não), dificuldades relacionais, conjugais, sexuais, entre outras.
Paralelamente à Terapia Individual encontramos hoje uma maior procura de acompanhamento em casal. A Terapia de Casal surge como uma alternativa quando o casal sente que já não consegue por si só encontrar uma resposta para as demais dificuldades que possa estar a enfrentar.
De entre as questões mais comuns destacam-se as dificuldades de comunicação, a falta de confiança, o ciúme, a violência física e emocional, as dificuldades sexuais, a adaptação à vivência com filhos, a rotina, entre outras.
A Terapia de Casal pode coexistir com a Terapia Individual e procura ajudar a encontrar estratégias positivas de comunicação através de um treino prático e consciente, identificação de necessidades individuais pelos membros do casal e de necessidades do casal assentes nos pilares que para cada um são importantes numa relação amorosa.
O trabalho das dificuldades de comunicação implica uma consciencialização por cada elemento do casal da forma como comunica (falamos de fatores como tom de voz, palavras escolhidas, intenção colocada na comunicação escolhida, entre outros), do impacto que a comunicação do outro tem em si e do impacto que a sua forma de comunicar tem no outro e das necessidades por detrás de cada emoção sentida.
Muito frequentes são também as questões de falta de confiança no outro por motivos diversos como a mentira, a omissão e a traição ou, ainda, por questões de ciúme patológico.
É fundamental o trabalho em equipa, já que ambos devem assumir responsabilidade pelo restauro dessa confiança e realizar o necessário nesse sentido. E mais uma vez também o trabalho individual ganha preponderância. Não é possível voltar a confiar sem dar um voto de confiança genuíno no outro, mas o outro tem igualmente a responsabilidade de cooperar no que for possível, dentro dos limites adequados.
Associados a estes temas surgem tantos outros como a rotina, a falta de qualidade de tempo em casal, a adaptação do casal ao nascimento de um ou mais filhos e toda a reorganização logística que isso implica a par de uma quase total falta de tempo e energia para o namoro, a sedução e a sexualidade.
Seja a Terapia Individual ou de Casal, o mais importante é que consigamos tomar a decisão de investir na nossa felicidade e realização pessoal, que tenhamos a coragem de enfrentar as nossas dificuldades, traumas e medos. Nascemos connosco e morremos connosco e seremos sempre os elementos mais importantes neste caminho.
PSICÓLOGA CLÍNICA, PSICOTERAPEUTA E FORMADORA | MEMBRO EFETIVO DA ORDEM DOS PSICÓLOGOS. CÉDULA PROFISSIONAL Nº 12368
www.sofiarodrigues.pt
[email protected]
in REVISTA PROGREDIR | ABRIL 2023
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