Por Carlos Lourenço Fernandes
in REVISTA PROGREDIR | JULHO 2012
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Hoje, suponha-se, observamos, no nosso percurso de vida, estabilidade financeira, a saber, as receitas (os rendimentos, os salários, o que for) concordam com o quadro de despesas (rendas, alimentação, saúde, pagamentos de eletricidade e água, transportes, etc) e, ainda, numa gestão cuidada ou prudente, verificamos alguma poupança. No momento seguinte tudo pode descompor-se. A perda do salário, a diminuição brusca de um rendimento, uma doença súbita a convocar despesas não consideradas, um esmagamento da poupança por imprevistos. Nos afetos, uma relação amorosa, uma amizade duradoura, assiste, subitamente, a ruturas ou ensombramentos. Na família, a estabilidade (um ganho), torna-se instabilidade por ruturas anunciadas progressivamente mas não apercebidas. Desgastes sistemáticos atingem tensões de rutura. A prospetiva (os cenários possíveis) é companheira da prudência e de consideração na gestão de riscos.
O país confronta-se (e surpreende-se) com dimensão excessiva de dívida pública (os empréstimos que o Estado realiza para cobrir o excesso de despesa face à receita produzida), o país confronta-se (e surpreende-se) com a dimensão excessiva da dívida privada (os empréstimos que as empresas realizam para cobrir excessos de despesa ou realizar investimentos, os empréstimos que as famílias realizaram para cobrir excesso de despesas face ao perfil de receita disponível). Entendamo-nos: a dívida significa (sempre) consumir hoje o que se não tem, com suporte na hipótese de que se mantêm os rendimentos disponíveis e a obter no futuro. E se quem nos empresta (ao Estado, às empresas e às famílias) começa a desconfiar do excesso de dívida, começa a desconfiar da incapacidade provável de obter a devolução do dinheiro emprestado (e dos juros associados)? Ocorre aumento dos juros quando empresta e, no limite, não empresta. E se os rendimentos disponíveis ou a crença que se manterão no futuro falham, como liquidamos as responsabilidades assumidas? Entramos em necessidade de resgate (alguém que gosta muito de nós, empresta, ou alguém que é muito solidário connosco, empresta. Com custos associados, claro. Ou perda dignidade, ou juros solidários. A Troika é da família dos juros solidários. Emprestam mas cobram juros. Que bela prospetiva ocorreu por aqui….
Há soluções? Há: a primeira solução passa por mudar modos de vida. Transformar, mudar o life style que se traduziu em ter vivido (o Estado, a empresa, a família, a pessoa singular) claramente acima das posses, claramente contando com o ovo no () da galinha. Uma competente, atenta, prudente, gestão de riscos assegura (melhor) a possibilidade de progredir em estabilidade. Sem choques emocionais (de qualquer natureza). Viver, aprender a viver, com prudência e atento aos sinais e aos quadros emocionais do outro, garantem um percurso com menos surpresas desagradáveis, com menor tensão conflitiva. A estabilidade é um valor, é um ciclo virtuoso. A estabilidade garante melhor condição de raciocínio, melhores decisões (de natureza emocional ou de outro tipo).
Gerir riscos é um processo de aprendizagem: exige investimento em formação. Os equilíbrios do ginasta (ou no circo da vida) obrigam a esforço, trabalho, sendo certo que o resultado é traduzido em melhor e maior prazer. É enorme e saudável a compensação derivada da prudente (e sábia) gestão de riscos. Em favor, da estabilidade em progresso.
Professor, escritor, conferencista
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REVISTA PROGREDIR | JULHO 2012