in REVISTA PROGREDIR | NOVEMBRO 2023
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Perante um diagnóstico de uma doença crónica, o paciente assim que ouve a notícia da boca do médico, o mundo parece desabar. A notícia de grande impacto ressoa dentro do próprio corpo da pessoa, torna-se quase indiscritível. Pela forma como algumas pessoas já descreveram essa sensação, é percetível que para elas TUDO ali se transformou, há quem recorde, “as cores da sala mudaram”; “fora do consultório, os barulhos da rua silenciaram-se”; levei um murro no estômago, senti uma náusea enorme”; “chorei sem parar”; “nunca tive tanto medo”. Pergunta-se; por que razão o despertar do individuo está tão associado aos processos de dor, das perdas das doenças e dos traumas?
Curiosamente e inclusive de alguma maneira irónico e até controverso, o que tem vindo a ser estudado há milhares de anos, filosofias e correntes literárias já o profetizam há muito tempo, a frase “conhece-te a ti mesmo” de Sócrates, será que foi levada a sério e realmente trazida aos dias de hoje? Até que ponto a velha máxima, cujas palavras estão gravadas nas pedras no Templo de Apólo e, de algum modo, também em nós, estarão ao serviço da humanidade, do desenvolvimento pessoal e espiritual nesta vida?
Porque a Espiritualidade Importa
O que é Ser Espiritual? Há muitas teorias à volta do tema, estudos revelam que a formação espiritual nas escolas é praticamente inexistente, existe sim uma maior abertura e aceitação face a diferentes práticas religiosas, mas a espiritualidade em si não tem expressão no ensino; no entanto, ela cresce com o individuo, mesmo que não se fale nela.
Quem sou Eu? Quais são os meus valores? Qual o meu papel ou missão na vida? Há um propósito? Que mundo ajudo a criar? Em que pessoa me quero tornar? Que faço aqui? É vulgar designar-se este processo como “exame de consciência”, ou seja; é quando a consciência se manifesta, acontece em idade jovem, mas não é levada em consideração, ao ponto de se perder no tempo, diminuindo a sua essência no estado do adulto. Chamemos-lhe de primeiro passo, os seus subsequentes seriam os mais importantes a dar; passar da pergunta existencial à fase da vida em si, à entrega e confiança, à infinita curiosidade, imaginação, crença, ao reconhecimento do lugar do individuo no seio do grupo, à felicidade, ao amor, à criação. Por várias razões conhecidas e desconhecidas, a vontade primordial de o individuo querer Ser, é remetida para segundo plano, esvai-se, a vontade fica no segredo, a imaginação na vergonha e a curiosidade no medo da desaprovação. Os valores de alguma maneira são interrompidos pelo frenesim diário e pelas metas instituídas de descida à terra para cumprir os desígnios de uma estrutura social apoiada em larga medida pelo lado material.
Se olharmos às grandes questões que assolam o ser humano, entendemos que elas são perguntas de cariz espiritual, revelam uma inquietação profunda, cuja resposta em muito depende de alcançar uma Certeza, certeza essa não concreta, nem palpável, mas que convidará o sujeito a fazer as suas escolhas, a estar presente no presente, a vida que para ele se sucede a cada dia.
Os mecanismos de autorreflexão podem desencadear um processo importante para que a pessoa se cure do desfasamento em relação a si mesmo e possa estabelecer-se um diálogo interno e interessante, que poderá ajudar à (auto) resolução de Si mesmo e consequente processo de autocura.
Monica Berg, no seu livro, Fear is not an Option (Medo não é uma Opção) fala da importância em se ultrapassar os medos, subjacentes aos processos de dor: “abandonar os medos não acontece de um dia para o outro e sim com o passar do tempo, com pensamento introspetivo e o empenho em ver a beleza naquilo que é mais desafiante, tendo certeza no processo”.
Como aqui já referido, os processos de desenvolvimento espiritual são individuais, no sentido em que dizem respeito à própria pessoa, mas podem ser desenvolvidos em grupo, em práticas de respiração, meditação, oração, de relação com a natureza, na liberdade do pensamento. É muito importante não se confundir autorreflexão com mente em ação. Michael Singer no extraordinário livro da sua autoria Living Unthethered (A Libertação da Alma), consegue explicar muito bem a necessidade que existe em a pessoa se libertar do ruído permanente dos pensamentos e ao mesmo tempo saber habitar dentro de si, saber observar os seus pensamentos e tomar consciência das emoções que se passam no seu interior. “Se entrar profundamente dentro de si, é aí que vive. Vive no lugar da consciência (….) ciente. (A pessoa) está por detrás de tudo, a observar”.
O propósito da evolução espiritual no que se refere à autorreflexão, será o de encontrar o estado de consciência pura no qual não há uma identificação real com os objetos ou pensamentos, é conduzir na direção de um processo de autodescoberta, um Eu que não é uno, mas plural, em comunicação com tudo e todos, de modo amplo, na resolução dos bloqueios ou entraves que estão na origem dos seus medos. Uma pessoa espiritual tem em Si qualidades como o amor, a equidade, a compaixão. O medo é a maior mentira que espoleta e justifica todos os sentimentos que possam estar na base da raiva, inveja, dos preconceitos, juízos, da guerra no mundo, dentro da casa, no interior de cada pessoa, é a origem de muitos conflitos e doenças, é comum ouvir dizer-se, aquela pessoa tem maus fígados, a outra não tem coração, ou há quem viva ao nível das entranhas. Esta jornada torna-se mais simples quando interiorizada e levada a cabo através da Verdade que reside em nós, em liberdade e sem constrangimentos, o que é fundamental para que a pessoa possa libertar-se de qualquer dor e vislumbrar a possibilidade da sua cura. A frase “está tudo certo” vem traduzir uma Verdade muito importante, é a escolha de como se quer viver no mundo, não é um encolher de ombros. A aceitação dos processos ao nível da alma, pressupõe uma entrega e rendição em vez de uma luta - a palavra luta que se associa aos processos oncológicos não é a melhor, induz em erro, o que se quer é que não haja luta. Ninguém luta contra um cancro, nem há batalhas a serem travadas, há um despertar, isso sim, uma oportunidade para desenvolver-se um estado de consciência plena e de entender-se o poder da energia que é a felicidade em si mesma.
Não existe uma receita para a autocura, não há uma resposta intelectual possível, a resposta é a própria pessoa. A autorreflexão como aqui se pretende, é uma ideia de afastamento que se dá através da auto-observação, no contraponto à tendência habitual para concentração nos pensamentos, nas emoções ou sensações que dominam a perceção que se tem do exterior. A autocura está ligada à responsabilidade individual e pessoal, de quem se vê em consciência, de uma forma subjetiva que é a espiritual. Só assim se poderá ultrapassar a ideia de finito, nada mais do que os grandes sábios de todos os tempos e religiões não nos tenham dito ao longos dos séculos. Para quem vive a resposta do que há em Si, consegue mais paz e tranquilidade para que o que é desejável realmente possa acontecer e para que a morte não seja um fim.
Uma última reflexão; ninguém precisa de mais tempo, aquilo de que necessitamos é de uma maior profundidade.
TERAPEUTA DO SISTEMA DO CORPO ESPELHO, DE MARTIM BROFMAN. TRABALHO APOIADO EM ESTUDOS DE ASTROLOGIA E KABBALAH
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