Por Tamar
in REVISTA PROGREDIR | MARÇO 2014
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Mostraram-te que os teus filhos, companheiro, amigos e comunidade
Precisavam de ti enquanto mãe, pois esse o teu único papel era,
Quiseram negar as tuas faces múltiplas e tu deixaste de vê-las.
Quiseram moldar-te. E tu moldaste-te.
Mas tu sabes. Tu ouves.
Tu sentes que Ser mulher é ser também fluída,
Imprevisivelmente criativa, fértil e abundante,
Mágica e nutridora. Sensual e sexual, amorosa
A cada mês, a cada lua.
Una com a terra, com as marés, com o cosmos.
Infinita. Circular. Abençoada.
Embora se esteja a assistir a um crescente movimento de religação ao feminino, a verdade é que em cada ser e, sobretudo, na mulher esta energia carece de purificação e cura de uma série de condicionalismos e tabus culturais, bem como da violência física e psicológica – uma em cada três mulheres, a nível mundial, é ainda hoje violentada e a terra encontra-se num ponto de perigoso esgotamento, tal foi e continua a ser o desrespeito e abuso infligidos, o que tornou a energia feminina efetivamente fragilizada.
Por outro lado, o predomínio de energia masculina, que impele à ação (fazer) num maior número de mulheres, a partir dos anos 60 do séc. XX, como resposta a essa fragilidade quase que imposta, permitiu-lhes tornarem-se um ser completo e realizado na família, no círculo de amizades e na carreira, definindo um conjunto de objetivos alinhados com o seu propósito, com impacto na movimentação da energia masculina do homem para o seu pólo feminino, despertando-lhe a vontade de criar, expressar, fluir, harmonizar, curar, apreciar e celebrar a vida (ser). No entanto, em vários casais, esta dinâmica foi levada a um ponto extremo, no qual a mulher deixou de conseguir contactar com o seu feminino (e logo, largar a necessidade excessiva de controlo, de pensar e agir) e o homem ficou dominado pelo medo ou perdido, esquecendo porque e para quê está vivo. A tendência do homem que não resgata o seu propósito e visão, é sentir-se enfraquecido, não conseguindo estar presente com a profundidade da sua consciência, culpando a mulher. Por seu turno, uma mulher que viva exclusivamente direcionada para a consciência e ação como mecanismos de defesa, impede a ligação ao seu coração e a abertura que convida o homem a penetrar, arriscando-se a desenvolver doenças físicas (sobretudo relacionadas com os órgãos femininos).
O contributo da energia feminina para o equilíbrio dinâmico entre as duas polaridades é o da abertura e recetividade do seu coração e do seu corpo, da oferta à energia masculina de sugestões de visão que vêm da sabedoria, amor, empatia e compaixão do coração, inspirando à concretização. É a partir da abertura do coração que ela pode confiar no homem e irradiar a energia que a torna ainda mais magnética, ainda mais o pote sagrado do mistério da vida. No feminino, a proposta é permitir que o coração esteja em tudo o que se faz: quando respira, fala, caminha, olha, emanando doçura, paciência, persuasão, encanto e beleza interior.
Esta energia é extremamente forte e totalmente suave, ao mesmo tempo. Por ser vida, por ser natureza, muda a cada momento, tal como o estado do tempo, tal como a corrente do rio. O modo de ser feminino aceita e aprende a dançar fluidamente numa espiral que tende para a harmonia e para o caos, ciclicamente.
Quanto mais a mulher se aceitar na imprevisibilidade e palete de emoções que é, mais compreenderá que, para o masculino, é mais desafiante sentir e interpretar a comunicação a nível energético e empático, o que o faz, várias vezes, adotar mecanismos de luta, fuga ou bloqueio (os tradicionais “virar costas”, “deixar a mulher a falar sozinha” numa discussão) e não estar presente, oferecendo ao feminino a profundidade da sua consciência. Embora o que ressoa no feminino é o masculino permitir que a sua atitude demonstre o “estou aqui, amo-te”, se magoada ou triste, ao invés de também ela adotar comportamentos defensivos, permite-se ficar na reação primária, não temer a dor ou desconforto e partilhar com o homem, desde o sentir do coração, a dor face à ausência da sua presença perante ela.
Passos para incorporar as qualidades da energia feminina: abandonar o controlo; desenvolver a capacidade de se auto nutrir; conhecer e curar a relação com as ancestrais (mãe, avós, bisavós…); aceitar-se tal como é, bem como ao seu corpo e libertar plenamente a sua sexualidade; confiar e seguir a intuição; ligar-se à sua energia interior, respirando desde o coração; observar e interiorizar os ciclos da natureza; enraizar, através de práticas de respiração e visualização, caminhadas descalça pela terra, jardinagem; tomar consciência das características do seu ciclo menstrual (físicas, emocionais e mentais); rodear-se de mulheres inspiradoras e sábias; ler informação sobre a energia e arquétipos femininos e o papel da mulher nas sociedades ancestrais (leitura fundamental: “Mulheres que correm com os lobos” de Clarissa Pinkola Estés, Rocco Edições); participar de círculos de mulheres, entre outros.
SOCIÓLOGA, FORMADORA COMPORTAMENTAL
TERAPEUTA SEXUALIDADE SAGRADA FEMININA
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Facebook: Omeldadeusa
in REVISTA PROGREDIR | MARÇO 2014
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