in REVISTA PROGREDIR | MAIO 2019
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Quando me convidaram a escrever sobre "Alma" não hesitei um segundo. Esta palavra povoa o meu interior desde que me conheço, é a razão de tudo o que faço, é por ela que vivo, com ela que existo e cresço.
Quem é a minha alma? O que é a alma? Gosto de a chamar de "Ser". Aquela parte que começa por ser invisível e que se revela no nosso sentir, a nós próprios e ao outro a cada segundo da vida.
Sem a respeitar, sem a ouvir, percorremos um constante limbo à procura de quem somos, à procura do (nosso) sentido da vida.
Existirão provas para a sua existência? Na minha opinião, é suficiente ouvir a linguagem do nosso corpo para a ver e sentir... a forma como cada célula do nosso corpo vibra de forma diferente a cada momento, umas vezes a sorrir em êxtase, deliciada e entusiasmada, outras vezes com medo, ansiosa e triste.
A "Alma" será sempre um tema controverso e debatido, sentida e respeitada por uns, negada e ignorada por outros.
De forma simples, independente de como este conceito é visto e sentido por cada um, todos nós queremos apenas e em última instância ser felizes.
Por isso, gosto de olhar para a Alma como o sinal luminoso que nos guia rumo a essa felicidade. É inegável a forma como perdemos energia, motivação e entusiasmo na vida quando ignoramos o que vibra no nosso interior.
A doença, seja ela física, mental ou emocional é apenas um reflexo desse desequilíbrio, desse desviar do caminho, desse desrespeitar, silenciar ou ignorar o que mais vive em cada um de nós.
Em praticamente todos os quadros de ansiedade existem sempre traços como necessidade de controlo, insegurança, uma "vazio existencial", um medo que não se consegue traduzir de forma objetiva.
Tal como habitualmente refiro "Ninguém nos explica o que é que andamos aqui todos a fazer, não nos entregam à nascença um manual de instruções com as demais explicações sobre quem somos, o propósito da vida e o nosso caminho no meio de tudo isto..."
Por isso em "salvação" dessa angústia interior, de não termos respostas ou um guia orientador para um final feliz entra em ação a nossa mente. Racional, analítica, compartimentada e estruturada.
Uma mente que nos invade constantemente de pensamentos, tantas vezes obsessivos, negativos, cansativos com o intuito de nos conseguir apenas desviar desse "vazio existencial". Afinal enquanto pensamos não sentimos e isso significa muitas vezes um escape à dor, ao medo, à impossibilidade de controlar.
A ansiedade disfuncional (já que a ansiedade a um nível normal é fundamental no nosso processo de adaptação, sobrevivência, criatividade e crescimento) não é mais do que um medo, habitualmente subjetivo, da Vida. Um não saber lidar com a ausência de explicações objetivas, com a falta de controlo.
A depressão, por exemplo, é um calar da nossa essência. Significa baixa de energia e a energia só baixa quando não ouvimos e respeitamos o nosso Ser, a nossa Alma.
A energia desce quando vivemos na nossa mente teimosa, insegura, medrosa e obsessiva, povoada por pensamentos constantes e ruminantes. Desce quando não respeitamos os nossos limites, quando não respeitamos o nosso valor, quando não cuidamos ou deixamos de cuidar de nós.
Acredito que a auto-estima e o amor-próprio não são mais do que um reflexo direto da nossa relação com a nossa Alma.
Se a respeitarmos, ouvirmos e seguirmos então o pior que pode acontecer é sermos felizes.
Seguir e respeitar a nossa intuição, o que verdadeiramente vibra e ecoa dentro de nós mantém a nossa energia elevada, e energia elevada é sinónimo de Felicidade, e Felicidade é sinónimo de "Ser".
Faz-me sentido olhar para a doença como uma chamada de atenção da nossa Alma.
De entre as várias estratégias emocionais, espirituais, mentais e comportamentais que podemos trabalhar ao longo da nossa vida, uma delas é "descobrir e seguir a nossa Alma/Ser".
Para isso ganham peso conceitos como o Mindfulness com o objetivo de trabalharmos a nossa capacidade de observação e de estar plenamente no momento presente.
Afinal como é possível ouvirmos o que quer que seja dentro de nós se na maioria das vezes estamos em piloto automático a viver na nossa mente e nem sequer ouvimos o nosso corpo, os nossos desejos e motivações?
Viver o nosso caminho com consciência e de forma desperta é um pré-requisito fundamental para sermos felizes.
Aceitar os nossos traços tão únicos e insubstituíveis, mesmo que por vezes dolorosos e difíceis, bem como aceitar os outros tal como eles são e o carácter inevitável e fora do nosso controlo de tanto do que nos acontece, é uma peça fundamental no nosso crescimento, no nosso amadurecimento emocional e na nossa felicidade.
Lutar contra o que ou quem simplesmente é como é retira-nos energia e enaltece a zanga, a raiva, a contrariedade, o rancor, a desmotivação, entre tantas outras emoções que em última análise conduzem à doença e à infelicidade.
Eis algumas regras muito simples que deixo como sugestão para aplicarmos no nosso dia-a-dia:
"Se me faz feliz, se faz o meu corpo vibrar de entusiasmo, se me arranca um sorriso genuíno, uma boa gargalhada, um sentimento de serenidade e paz interior... então estou no caminho."
"Se me sinto triste, sem energia, se não vejo sentido, se acordo por acordar e deambulo por deambular, então estou doente, perdi o contacto comigo próprio e preciso urgentemente de me encontrar".
"Esta é a minha vida, nasci comigo, tenho a certeza que vou morrer comigo e ninguém a vai viver por mim. Ninguém consegue viver as minhas emoções, os meus desejos, os meus traços. Tudo passa e muda muito rápido. Por isso prefiro olhar para trás e para o presente e sentir que vivi e estou a viver."
"Se tiver que me comparar com alguém que seja comigo próprio. Se tiver que escolher um desafio na vida que seja descobrir quem sou, o que sou e ser fiel a mim mesmo, independente do que os outros possam dizer ou fazer."
Sentir e respeitar o que verdadeiramente faz o nosso corpo estremecer, o nosso sorriso rasgar e o nosso coração disparar de entusiasmo e alegria é o melhor antídoto para qualquer doença! E esta é a melhor definição que encontro para "Alma".
PSICÓLOGA CLÍNICA, PSICOTERAPEUTA
E FORMADORA
www.sofiarodrigues.pt
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