Por Ricardo Fonseca
in REVISTA PROGREDIR | NOVEMBRO 2012
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Serve este pensamento como mote para um dos maiores desafios da nossa Vida: o conhecimento de nós mesmos!
O autoconhecimento está intimamente relacionado com a autoestima e é base de grandes estudos na área do desenvolvimento pessoal, sendo trabalhado com diversas técnicas terapêuticas que têm como objetivos comuns a promoção do conhecimento do ser humano, a sua valorização e seu crescimento.
Quanto menor o conhecimento de nós mesmos, menor é a nossa autoestima e simultaneamente menor a força interior para lutarmos pelos nossos sonhos vivendo com uma constante desconfiança e medo do que nos rodeia. É fundamentalmente o medo, o grande impeditivo para desenvolvimento do processo de nos conhecermos como realmente somos e de nos aceitarmos como tal.
Bernhard Haring escreveu um dia “Para viver uma existência autenticamente pessoal, a pessoa deve estar presente em si mesmo, no seu próprio eu. Sem isso ser-lhe-á impossível encontrar o tu do outro.”.
O primeiro passo no processo de conhecimento pessoal é adquirir a consciência do querer, compreender e integrar a vontade de ir além do visível, daquela imagem que visualizamos no espelho e aquele cartão-de-visita pessoal que oferecemos nas relações humanas que estabelecemos no nosso dia-a-dia.
Somos mais do que aparentamos, do que sentimos e do que partilhamos nas nossas vivências! Há locais escondidos no nosso ser que não visitamos pelo medo de não nos apaixonarmos pelo que é observado e imaginando também, que os outros não gostarão de nos conhecer tal como nós somos verdadeiramente.
Com a consciencialização da nossa vontade de ir além do visível, do palpável realizamos diversas viagens ao nosso âmago, às fontes das emoções, dos comportamentos, dos pensamentos. Questionamo-nos sobre todos os porquês e tentamos responder e justificar as nossas atitudes baseadas a maioria das vezes, no pensar e sentir das pessoas com quem nos relacionamos.
Esquecemo-nos de perguntar quem somos, o que temos em nós de que gostemos e que sejam válidos de valorização e de partilha. Todos temos características internas que são aquelas que dependem unicamente do nosso reconhecimento e as externas, que são as dependentes do reconhecimento dos outros.
É o equilíbrio entre estas características que interfere com o nosso processo de descoberta pessoal, pois quanto mais significativas forem as opiniões dos outros, mais vulneráveis nos tornamos e temos menos capacidade de nos valorizarmos e reconhecermos a nossa autoestima.
Séneca referiu-se a este equilíbrio de características com a seguinte citação: “O que pensas de ti próprio é muito mais importante do que o que os outros pensam de ti!”.
No título deste artigo foi colocado o imperativo “Sê tu mesmo!”, mas afinal o que é sermos nós mesmos?
É um exercício de vida onde somos os avaliados e os avaliadores e onde somos aqueles que podem definir as regras, porém ao definirmos as regras e sendo os seus mentores temos que nos comprometer a segui-las seriamente para que possamos realizar uma caminhada genuína, ao encontro de nós mesmos.
Certamente questionamo-nos se podemos ser verdadeiramente como somos, se não ocorrerão reestruturações das relações estabelecidas e a resposta que iremos obter será afirmativa. Sim, irão ocorrer alterações nas nossas relações, mas única e simplesmente pelo facto de que a nossa consciência e a nossa genuína forma de ser, irão condicionar o sentir e estar dos outros, pelas diferenças de comportamentos, atitudes e emoções.
O aspeto crucial nesta jornada de vida é nunca desistir de nos conhecermos, de percebermos as qualidades que temos, os defeitos que possuímos e que podemos aperfeiçoar a cada minuto. A aceitação da nossa realidade interior e pessoal é uma linha ténue onde nos balançaremos diversas vezes empurrados pelo medo de não ser aceite.
Não é um processo fácil e que possa ser concretizado de forma amena e sem algum sofrimento associado, pois afinal de contas estaremos a explorar algumas facetas que sempre quisemos camuflar, a dar voz a emoções que impedimos de falar, a preencher lacunas que julgávamos repletas de sentimentos. Se por si só fosse uma jornada desassociada da dor, não seria de todo sentida, pois é na perceção da dor que encontramos as nossas forças e valorizamos genuinamente as nossas fraquezas e reconhecemos os nossos verdadeiros receios.
Pablo Neruda resumiu estas ideias de uma forma sublime em uma citação sua: “Algum dia, em qualquer parte, em qualquer lugar, indefetivelmente, encontrar-te-ás a ti mesmo e essa, só essa, pode ser a mais feliz ou a mais amarga das tuas horas.”.
Quando nos aceitamos, vivemos em plenitude com o nosso sentir e agir, demonstramos um nível de confiança supremo, uma força renovada e verificamos que cada novo elo é alicerçado numa base de transparência e verdade. Abandonamos as máscaras que usamos para não sermos vistos tais como somos e assumimos o nosso Ser, como uma forma única e materializada de quem somos e do que queremos.
Aceita este grande e único desafio! Qualquer desafio é uma base inesgotável de novas construções e de reestruturações, que permitem sermos conscientes e vivermos a vida na sua imensa plenitude.
“Nós somos casas muito grandes, muito compridas. É como se morássemos apenas num quarto ou dois. Às vezes por medo ou por cegueira, não abrimos as nossas portas.” António Lobo Antunes
Enfermeiro / Escritor
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REVISTA PROGREDIR | NOVEMBRO 2012