in REVISTA PROGREDIR |NOVEMBRO 2024
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Historicamente, uma grande parcela da população com útero e ovários vivencia um confronto desde o momento em que inicia sua vida menstrual. A menarca, o primeiro sangramento, marca o início de profundas mudanças no corpo e na mente, para as quais muitas vezes não há preparo adequado, tanto emocional quanto informativo. O conhecimento transmitido sobre esse processo geralmente se limita ao seu papel reprodutivo, deixando de lado suas demais implicações e sua relevância para a saúde geral.
Pouco se fala sobre como as variações hormonais influenciam diversos sistemas do corpo, indo muito além da possibilidade de engravidar. O ciclo menstrual impacta na formação óssea, no funcionamento do sistema imunológico, no metabolismo, na microbiota intestinal, na regulação dos níveis de açúcar no sangue e até a atividade cerebral. A saúde de órgãos como o fígado, os rins e a tireoide também refletem diretamente nas oscilações hormonais e no padrão do sangramento. No entanto, essa conexão vital é muitas vezes ignorada, deixando uma lacuna no entendimento de como o corpo como um todo deve ser cuidado.
Ao longo dos anos, diversas narrativas culturais condicionaram as pessoas a acreditar que menstruar é sinônimo de dor e sofrimento. Frases como "ser mulher é isso, dói mesmo", "quem é mulher sofre" ou "menstruar é um castigo" perpetuam mitos prejudiciais, normalizando condições que não deveriam ser aceitas. Cólicas debilitantes, sangramentos irregulares ou até mesmo a ausência completa da menstruação são sinais de que algo não está funcionando corretamente. Quando surgem desconfortos, irregularidades ou anomalias, o corpo está pedindo por atenção, e esses sinais não devem ser ignorados.
O verdadeiro confronto, portanto, não é com o ato de menstruar, mas com o tabu que envolve esse processo natural. O silêncio em torno da menstruação gera consequências graves, especialmente para a saúde física e mental de quem menstrua. Muitas pessoas sofrem com dores intensas, mas acreditam que é normal, e acabam não buscando ajuda. O tabu também faz com que evitem falar abertamente sobre o tema, considerando-o algo vergonhoso e sujo. Isso impede que as mulheres se conheçam melhor, que entendam sua sexualidade e sua fertilidade, desconectando-se daquilo que são.
Além disso, a menstruação ainda é usada como desculpa para desqualificar as opiniões e as emoções de quem menstrua, com frases como "deve estar naqueles dias", diminuindo a validade das experiências e expressões dessas pessoas. Isso também ajuda a reforçar a ideia de que menstruar é um fardo, algo a ser escondido, quando, na verdade, é um processo natural e essencial para a saúde.
O ano é 2024, e ainda seguimos permitindo que tamanhas desinformações perpetuem? Continuaremos alimentando o tabu menstrual e ignorando as suas consequências para a saúde e qualidade de vida de quem menstrua?
Estudos mostram que até 80% das mulheres experimentam dores menstruais intensas em algum momento da vida, mas poucas sabem que essas dores podem ser resolvidas ou aliviadas com ajustes na alimentação, no estilo de vida ou no autocuidado, e muitas não procuram ajuda médica, o que poderia auxiliar na descoberta de doenças mais cedo, perdendo assim a oportunidade de iniciar tratamentos.
A verdadeira transformação só ocorrerá quando enfrentarmos o tabu menstrual de frente, entendendo que menstruar não é um problema, mas sim um processo vital. Por isso, é urgente promover a educação menstrual, para que mais pessoas tenham acesso à informação correta, possam entender o que é natural e “normal" em si e começar a ler os sinais do próprio corpo. A normalização de discussões sobre menstruação é fundamental para desmistificar o tema e quebrar os mitos que envolvem o assunto, proporcionando assim bem-estar físico, emocional e psicológico de quem menstrua, e isso começa com diálogos abertos, sem constrangimento, em todos os espaços — nas escolas, nas famílias, no ambiente de trabalho e nos consultórios médicos.
O tabu não apenas distorce a percepção do que é normal, mas afeta diretamente a autoestima e a saúde de milhões de pessoas. Para muitas, a menstruação se torna um fardo social e emocional, reforçado por anos de desinformação e vergonha. Quebrar esse ciclo exige coragem para desafiar as narrativas ultrapassadas e criar um ambiente em que a menstruação seja compreendida e reconhecida como um reflexo natural do corpo.
Portanto, o verdadeiro confronto está no tabu menstrual. É necessário confrontar as narrativas que perpetuam o silêncio e a vergonha em torno de algo que é completamente natural, não existe nada de errado em menstruar, muito pelo contrário, menstruar é sinônimo de vida, é sinal vital.
EDUCOTERAPEUTA MENSTRUAL
Website: davulvapradentro.com
Email: [email protected]
in REVISTA PROGREDIR |NOVEMBRO 2024
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)