Por Ana Mafalda Ferreira
in REVISTA PROGREDIR | DEZEMBRO 2018
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Já se perguntou porque é tão difícil comunicar o que precisamos? Muitas vezes nem sequer temos tempo para reflectir nessa questão. Pensamos que pode ser simples e claro como água, mas pressões externas podem muito bem atrapalhar um processo que parece simples.
Comunicar e comunicar bem, pode muito bem ser uma arte, como também uma necessidade. Seja no trabalho, seja numa relação, seja numa atrapalhação.
Palavras, símbolos são componentes importantes para nos expressarmos. Até molda a forma como pensamos, por isso um primeiro passo pode mesmo ser apenas escutarmo-nos. O que significa isto para mim? Do que estou a precisar agora? O que é que esta pessoa está a dizer e o que é que isto me faz sentir?
Não nascemos todos com o dom de nos exprimirmos eximiamente! Por vezes, este pode ser um objectivo de vida, mas vale toda a pena, pois permite-nos a oportunidade de “crescer”, de nos sentirmos bem connosco e sermos verdadeiros com os outros.
Comunicação é a base de qualquer interação e relação, e estamos sempre em relação até numa relação connosco. Ao pensarmos, ao fantasiarmos, utilizamos símbolos, palavras, que se tornam histórias, ideias, fantasias e sonhos. A nossa própria construção passa pela expressão desses sonhos, opiniões, ideias a outros. Comunicarmos é a base fundamental para relações saudáveis, seja ela com quem for.
A forma como nos expressamos, é parte de nós e compreende toda a nossa experiência de vida e aprendizagens. Falar a um nível prático ou mais abstrato, do mais simples ao mais complexo, é fundamental para a nossa existência. Fundamental pela nossa necessidade de interagir, de nos relacionarmos. Somos seres sociais e toda a nossa cultura baseia-se em sistemas, como família, trabalho, companheiros de vida, amigos, etc, aos quais atribuímos significado. Como nenhum homem/mulher é uma ilha, (e mesmo querendo ser, a forma como pensa é comunicar consigo mesmo), temos de nos expressar.
Podemos comunicar verbalmente, e ai encontraremos uma variedade de idiomas, ou não verbalmente, onde nos podemos manifestar sem palavras - um esgar, um franzir de sobrancelhas, um sorriso, a forma como nos colocamos para com o outro.
Encontrar a melhor forma de nos expressarmos numa mesma situação pode ser engraçado num mínimo, termos oportunidade de experimentar um “agora não posso” ou “mais logo podemos falar sobre isso” ou simplesmente “Não apetece”. Há quem consiga ser manipulador, passivo, agressivo, mas fundamentalmente, ser assertivo é de longe a forma mais saudável de nos expressarmos. Comunicar assertivamente, implica o respeito pelas nossas necessidades e pelas necessidades do Outro. E estar com o Outro é importante, principalmente quando nos proporciona a oportunidade de sermos nós mesmos e apreciarmos uma reciprocidade. Comunicar de forma assertiva, compreende estar atento às nossas próprias necessidades, desapegando-nos do que pensamos que o Outro precisa. Desapego no sentido de não assumir a responsabilidade de nos expressarmos com base nas necessidades do Outro.
Ao expressarmo-nos baseando-nos nas nossas próprias necessidades, estaremos a dar oportunidade ao outro para nos compreender e possivelmente expressar as suas próprias necessidades, abrindo uma linda porta para negociar, acrescentar, melhorar. Atender as necessidades de ambos num mesmo momento.
Sem receios, com desapego e respeito. Assumir a responsabilidade e assumir o pensamos que o Outro quer, é tarefa para um super herói e mesmo os super heróis necessitam de apoio.
Estar atento as nossas próprias necessidades pode ser um desafio, principalmente numa situação de pressão ou de stress, no entanto, podemos sempre utilizar bengalas que nos permitam agilizar a interacção para vantagem de ambas as partes.
Bengalas podem auxiliar a comunicação bem como auxiliar à espontaneidade, ao ser verdadeiro.
Escutar o Outro, que mensagem, oiça primeiro, respire e reflicta, devolvendo uns “Eu compreendi …”
Escute-se a si, o que é que a mensagem do outro significa para si? Que sentimentos, necessidades activa?
Devolva, “Eu compreendi … isso faz me sentir triste/zangado/alegre/frustrado (etc) porque …”
Abra espaço para negociar e também para pensar se precisar, “Preciso de pensar sobre isso, podemos falar sobre isto amanhã às ..h?” Dê-se espaço, principalmente, hoje em dia, as pessoas parecem que exigem uma resposta rápida no momento e de imediato. Por mais urgente que lhe pareça a questão saiba que tudo pode esperar se precisar.
Por vezes, o Outro exige tanto e parece tão inflexível a atender às nossas afirmações que parece impossível. Repita as vezes que forem necessárias, tal como um disco riscado “Já percebi que tens urgência em falar comigo sobre isto, podemos falar sobre isto amanhã às …h.” E ponto final. As suas necessidades são importantes e sem as resolver não há forma de facto.
E sim, por vezes não há volta a dar, a Outra pessoa mostra-se inflexível, ou fechada para negociar soluções, e aí podemos sempre escalar a negociação e pedir a uma terceira pessoa que possa mediar a conversa. “Já percebi que não estamos a chegar a acordo, vamos (ou vou) falar com … para nos ajudar a pensar sobre isto”
Comunicar baseia-se, também, na satisfação de necessidades, a de socialização. Realiza-lo de forma tranquila seria sempre o ideal, mas compreender que um conflito tranquilo, por vezes é necessário para uma pequena revolução do que Eu preciso e no que o Outro precisa para uma relação saudável. Revolução refere a mudanças necessárias para crescer - para evoluir.
O ser humano é complexo, mas também é simples na forma como se relaciona, pois esta última baseia-se na vontade de bem-estar.
Ao comunicar estaremos a tratar daquilo que é da nossa competência, que é transmitir o que vai cá dentro. Quantas vezes não se calou porque o seu conjugue não lavou a loiça, ou por ter deixado roupa pela casa? Quantas vezes deixou por dizer um “gosto de ti” ou um “gostaria de ver-te outra vez”? E esta expressão é necessária à mudança ou à evolução, para poder eventualmente usufruir de um ambiente calmo e saudável que permita a homeostase, ou o equilíbrio mental.
A forma como interagimos e nos colocamos, nesta responsabilidade também acarreta direitos claro. O direito de comunicarmos com tranquilidade e termos espaço para nos expressarmos livremente. Esse direito de sermos quem nós realmente somos, contribui imensamente à nossa auto-estima, confiança e por consequência ao nosso bem-estar.
Quem nunca ouviu que aquela pessoa “ficou com algo entalado” ou algo por dizer. Aquilo que fica por dizer, pode tornar-se tóxico pois completa formas de interacção com outros de evitamento, sem transparência - em suma, não somos nós.
Responsabilidade de comunicar é tão importante como respirar, principalmente se essa necessidade está assegurada. Queremos ser livres, ter espaço mental, por isso temos uma responsabilidade à honestidade para connosco e para com o Outro. Sem espaço mental, não teremos espaço para melhores experiências ou melhores interações, afinal de contas senão estamos disponíveis, não comunicaremos da melhor forma.
Já pensou a quantidade de vezes que desabafar trouxe alivio ao seu “dilema”? Criou espaço para outras ideias e soluções pois os pensamentos, as palavras deixaram de existir apenas na sua mente e esse peso, foi partilhado - e quando partilhado pesa sempre menos para os dois.
Já pensou que quando não conseguimos comunicar, reagimos um pouco como as crianças? Bem podemos gritar, deitar no chão, chorar, de nada adianta, senão dermos nomes aos nossos sentimentos, senão falarmos das nossas necessidades.
Já fez o exercício de falar tudo o que vem à sua cabeça, sem filtros? Torna-se demasiado.
Conta e medida, respeito. Comunicar também implica vocabulário, possuirmos informação para expressar - seja por símbolos, gestos, palavras ou até arte. E como em tudo exige prática - que temos todos os dias, mas será que comunicamos ou apenas falamos?
Comunicar implica compreender-se a si, na situação, confiar nas suas ideias e opiniões, e quem sabe ate pode mudar de ideias! Mas é perceber que você se sente bem com o que diz. Sentir-se livre e sentir as suas necessidades, desejos, sonhos, confiar na sua intuição.
Estar em relação pode ser assustador, mas também pode ser libertador. Podem ser autênticas “ralações” mas vale tanto a pena, e comunicar estará sempre na base. Ainda não possuímos as competências de comunicação dos golfinhos, mas competências como a empatia, podem ser o mais próximo. Sendo que por empatia se define como a compreensão do Outro, esta que assenta na forma como nos é comunicado.
Comunicar, quando nos permitimos à oportunidade de respeitar e fazer respeitar quem somos, é libertador e saudável! Pratique-se sem receios, quem o merece, irá respeitá-lo por quem é de verdade.
PSICÓLOGA CLÍNICA
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