Por Inês Teixeira de Matos
in REVISTA PROGREDIR | DEZEMBRO 2018
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A palavra “relacionamento” diz respeito a uma ligação, um vínculo ou enlace entre pessoas ou a uma ligação afetiva ou sexual entre duas pessoas.
Para haver relação é fundamental haver comunicação, isto é, para existir uma ligação entre duas partes, é necessária uma partilha. Entre outros aspetos, é através da relação com o outro e com o ambiente que nos rodeia e da nossa comunicação com o mesmo que o desenvolvimento humano e, mais concretamente, o psicológico, acontece, o que nos remete para a teoria sociocognitiva do desenvolvimento de Vygotsky.
O ser humano é, portanto, um ser social, um ser que comunica e um ser que necessita de relação para o seu bem-estar e desenvolvimento pessoal (Baumeister & Leary, 1995). Inclusivamente, em caso de isolamento social e cultural pode até ser posta em causa a sobrevivência do ser humano. Ainda que sobreviva fisicamente, o bem-estar psicológico é certamente afetado.
Sendo a relação e a comunicação fundamentais para o bem-estar e desenvolvimento humanos (Baumeister & Leary, 1995), torna-se fundamental promovermos a comunicação de qualidade com os que nos rodeiam desde cedo e ao longo de toda a nossa vida. A estimulação de competências sociais e de comunicação desde a infância tem um papel fulcral no desenvolvimento, sendo cada vez mais marcada nos diferentes programas educativos desde o ensino pré-escolar. Nos contextos profissionais, o tema da comunicação interpessoal é também muito discutido e central em muitas formações. Por outro lado, hoje em dia, cada vez mais, vivemos vidas aceleradas, com uma comunicação instantânea (e.g. mensagens instantâneas, e-mail) e constante, mas nem sempre eficaz e promotora de bons relacionamentos.
Existem perspetivas contraditórias acerca do benefício que este tipo de comunicação pode ter nos nossos relacionamentos (Pollet, Roberts, & Dunbar, 2011). Por um lado, podem ser uma vantagem, ao permitirem a aproximação e contato entre as pessoas e uma maior rede social, mas, ao mesmo tempo, representam uma comunicação cada vez mais rápida, instantânea e pouco ponderada e aprofundada, o que, com facilidade pode gerar interações superficiais, situações mal compreendidas e desenvolvimento de maior número de conflitos, assim como reduzido envolvimento emocional. Naturalmente, estas são formas de comunicação úteis e que nos permitem, entre outros aspetos, uma proximidade aos nossos entes queridos, cada vez mais dificultada pelas vidas sobrecarregadas que levamos nos dias de hoje.
Contudo, Pollet, Roberts e Dunbar (2011) concluíram que a comunicação via tecnologia não resulta em maiores redes sociais offline nem num sentimento de maior proximidade emocional com as relações offline. Por sua vez, no caso da população idosa, este tipo de comunicação tem-se relacionado com melhor sentimento de bem-estar e menos doenças crónicas, através de uma diminuição do sentimento de solidão (Chopik, 2016). Assim, uma vez que as tecnologias fazem parte das nossas vidas e nos ajudam em vários momentos do nosso dia-a-dia, tendo até mais benefícios em determinadas populações, torna-se importante que tiremos o melhor partido das mesmas, estabelecendo uma comunicação eficaz e que beneficie e contribua para uma melhor comunicação offline e melhores relações offline, de modo a potenciar o desenvolvimento pessoal de todas as partes.
Talvez seja, então, mais benéfico utilizarmos as tecnologias para comunicar com os nossos amigos e familiares, mas privilegiando-as como meios para promover interações cara a cara, onde a comunicação eficaz possa ser desenvolvida e o desenvolvimento cognitivo, emocional e comportamental pode ser promovido. E agora podemos pensar: como contrariar esta tendência tão fácil, que nos permite colmatar o tempo “perdido” das nossas relações? Quantas vezes sentimos que já não vemos aquela amiga ou amigo há tanto tempo ou que já se passaram tantos meses desde o último jantar de família? Há quanto tempo não enviamos uma carta ou um postal a uma pessoa querida? Mas não perdemos também tanto tempo útil do nosso dia focados em interações instantâneas, diminuindo a nossa produtividade, atenção e disposição globais, que, feitas as contas, parece que não nos traz benefício social e emocional? E se, pouco a pouco, aproveitássemos para fazer o esforço de focarmos a nossa atenção numa tarefa de cada vez, focarmos a nossa atenção, também, na comunicação no momento dela e, promovermos os nossos relacionamentos e desenvolvimento? Este é um esforço cada vez mais custoso nos dias de hoje dado todo o desenvolvimento tecnológico, mas, por outro lado, as tecnologias existem para o nosso bem-estar. Será que estamos a colocá-las ao serviço dos nossos objetivos ou a deixar-nos ser prejudicados pelas nossas próprias criações?
Referências
Baumeister, R., & Leary, M. (1995). The need to belong: desire for interpersonal attachments as a fundamental human motivation. Psychological Bulletin, 117(3), pp. 497-529.
Chopik, W. (2016). The benefits of social technology use among older adults are mediated by reduced loneliness. Cyberpsychology, Behavior, And Social Networking, 19(9), pp. 551-556. doi: 10.1089/cyber.2010.0161
Pollet, T., Roberts, S., & Dunbar, R. (2011). Use of social network sites and instant messaging does not lead to increased offline social network size, or to emotionally closer relationships with offline network members. Cyberpsychology, Behavior, And Social Networking, 14(4), pp. 253-258. doi: 10.1089/cyber.2016.0151
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