Por Maria Veiga
in REVISTA PROGREDIR | ABRIL 2017
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Nasce para lá do tempo e é uma concepção basilar das tradições orientais. Quando retomamos até ao Ocidente, constatamos que estamos longe de utilizar o verdadeiro sentido desta palavra, que tem sido um pouco esquecido pela Psicologia Ocidental.
Só muito recentemente, este conceito foi introduzido na literatura da Psicologia. Na área da intervenção clínica, por exemplo, tendo como objetivo conduzir os pacientes, fomentando-lhes esse sentido de “compaixão”, para com o outro e consigo próprios: Falamos de “auto compaixão” (Gilbert & Procter 2006). Também se tenta que seja associado a uma característica dos psicoterapeutas, conduzindo, entre outros objetivos, a uma realização pessoal (Figley, 2002; Radey & Figley, 2007).
Mas afinal, o que entendemos por Compaixão?
De uma forma simples e, em diversos dicionários, encontramos definições como sendo um “sentimento típico dos seres humanos e que se carateriza pela piedade e empatia em relação à tristeza alheia” ou, “vontade de ajudar o próximo a superar os seus problemas, consolando e dando suporte emocional.”
De facto, o caminho será por aqui. A Compaixão perde-se na sua própria profundidade para se encontrar com o outro. É uma atitude de consciencialização do sofrimento do outro (também por empatia), mas que ao mesmo tempo procura de forma ativa o alívio desse sofrimento, tendo sempre em conta um princípio que jamais deverá ser esquecido: Somos um todo e fazemos parte da humanidade. – Essa consciencialização será o caminho mais direto para o verdadeiro sentido do conceito. (Dalai Lama, 2001a; Goetz, 2009a, 2009b)
A Psicologia, hoje em dia, aborda temas como a compaixão (pelo outro) e a auto compaixão (pelo próprio, tendo por base, cuidar e ser compassivo perante as dificuldades e as próprias falhas com que nos deparamos.) Quer a compaixão quer a auto compaixão são entendidas como um conjunto de componentes, como habilidades e atributos. Envolve pois, um conjunto de diversas variáveis quer emocionais quer cognitivas, que podem ser inumeradas:
O interesse pelo bem-estar do outro (a necessidade de querer aliviar a dor, o sofrimento daquele que está próximo); a simpatia (ligação emocional que une os seres humanos); a empatia (a extraordinária capacidade de nos colocarmos no lugar do outro, de ver com os olhos do outro, de (tentar) sentir da mesma forma que o coração que está à nossa frente, sente); a sensibilidade (a percepção daquilo que nos rodeia); a tolerância ao stress (resistindo a todas as emoções, em situações menos confortáveis e que tendem a originar um afastamento) e o não julgamento (adoção de uma postura “anticrítica” e de não condenação).
Conceitos como a bondade, a caridade, ternura, solidariedade e altruísmo, estão também, estreitamente associados.
E que bom que seria a vida assim! Poderíamos imaginar um mundo perfeito e cor-de-rosa. Poderíamos desenhar nos nossos sonhos, todos estes conceitos e com eles construir a mais alegre e feliz das realidades. Mas sabemos que a vida não é só feliz. Sabemos que o Ser Humano tem caminhos muitas vezes mais cinzentos e, que com eles, transforma essa mesma vida em estradas difíceis de subir.
Mas se por um lado, sabemos que a realidade assim se nos depara, por outro lado a prática clínica e a literatura ajudam-nos a acreditar num mundo melhor. Vários estudos já revelam que a compaixão atenua a dor e o sofrimento. Que atua como agente protetor de diversas condições psicológicas negativas, que atua num combate feroz à depressão. Revelam que melhora as relações sociais. Que fortalece laços. Incentiva o bem-estar. Diminui a solidão e a ansiedade. A literatura também nos diz que a existência de compaixão está associada a uma menor reatividade ao stress. Que equilibra os estados de humor. Que fomenta a auto-estima, e sublinha o ajustamento sócio emocional. Impulsiona a satisfação profissional, os objetivos de realização e o sucesso. Os benefícios a longo prazo fazem parte das conclusões. – E estas são notícias felizes!
Mas como é possível ter noção do sentido de auto compaixão?
A maioria dos Seres Humanos consegue, no seu dia-a-dia e no percurso da sua vida, ter um sentido crítico perante tudo, perante todos e perante si próprio. E essa autocrítica muitas vezes, não parecendo, torna-se demasiadamente cruel, de tão exigente que se apresenta.
De facto a autocrítica (negativa) anda de costas voltadas com a auto compaixão. Quando alguém se torna excessivamente autocrítico, o receio de falhar aumenta, a insegurança torna-se mais evidente, o que necessariamente tenderá a minimizar o desempenho e a comprometer as reais competências. Sendo assim, sugere-se: Seja mais “brando” consigo próprio. Diminua a culpa. Minimize.
Pratique a capacidade de silenciar e o hábito de ouvir-se a si próprio. (Será primordial). Questione-se. Faça perguntas de si para si. Procure a sua verdade. Quando se confrontar com realidades mais sombrias, fracassos, desilusões, tente ir ao encontro dessa constante autocrítica, que o atormenta e o culpabiliza. Pegue-a ao colo e transforme-a em auto compaixão. Altere o registo e substitua o pensamento. Em vez de: “Se eu soubesse o que sei hoje” ou, “Se eu pudesse andar com a vida para trás” Não. Em vez disso, assuma: “Eu fui e sou responsável pelos maus atos. Tomei esta atitude. Escolhi deste modo. Tive as consequências dessas opções. Não correu bem. Então, aprendi com isso. Cresci! Como posso a partir de agora alterar? Como posso fazer de forma diferente?
Este será um registo que o ajudará. A auto compaixão fortalece a sua inteligência emocional, ajudando-o a regular melhor as suas emoções. Sublinha a sua resiliência, a sua capacidade de análise e de superação de obstáculos.
A auto compaixão poderá tornar-se numa grande aliada, e se conseguir encontrar esse equilíbrio, poderá andar consigo, de mão dada, pela vida fora!
Fontes:
http://www.psicologiamsn.com/2015/12/o-que-e-a-terapia-da-compaixao-paul-gilbert.html http://www.clinicapsicologialisboa.pt/ansiedade/auto-compaixao/ https://www.significados.com.br/compaixao/
http://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/20809/1/Disserta%C3%A7%C3%A3o%20de%20Mestrado%20Lu%C3%ADsa.pdf
http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2178/1/22382_ulfp034954_tm.pdf
PSICÓLOGA CLÍNICA
www.mariaveigaclinica.wixsite.com/mariaveigapsicologia
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