Por Maria Farinha
in REVISTA PROGREDIR | JANEIRO 2018
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
- Génio: Olá, eu sou o génio da lâmpada e como me encontraste posso conceder-te três desejos.
- Menina: Que tipo de desejos?
- Génio: De todos os tipos. Eu sou um génio, tenho muito poder e posso dar-te tudo o que tu me pedires.
- Menina: A sério?
- Génio: Claro que é a sério, já ando nisto há muito tempo. Já realizei desejos a muitas pessoas, de todas as idades.
- Menina: Hum, eu não sei se tu tens o que eu preciso.
- Génio: Claro que tenho, basta dizeres-me o que é e estará aqui dentro de segundos.
- Menina: Não sei se podes dar-me o que eu desejo, génio.
- Génio: Diz-me lá, do que se trata? É um castelo com princesas? É uma boneca que fala?É um tablet?
- Menina: Não, génio. Nada disso. O que eu desejo …..é vencer o medo.
O génio não percebeu o desejo da menina, ficou a pensar por alguns segundos e respondeu:
- Génio: Vencer o medo? Medo de quê? Do que é que tens medo?
- Menina: Medo de perder as pessoas de quem gosto. Medo de não saber viver sem elas. Medo de ficar triste para sempre.
Falar de luto é falar de perda.Essa perda pode ocorrer na ausência ou na presença, isto é, o luto não ocorre apenas quando se está perante um falecimento, mas também quando há uma separação física de alguém que continua na vida da pessoa.
O luto é, por excelência, uma das tarefas psicológicas mais difíceis de executar. Falar do trabalho do luto é falar do trabalho de elaboração de uma perda que se vive e quanto mais significativa é essa perda, maior é o período de tempo de que o sujeito precisa para se recuperar.
O trabalho de luto implica retirar o investimento que se colocou num determinado objeto (pessoa) que se perdeu e voltar a colocá-lo no próprio para o utilizar mais tarde, quando houver disponibilidade para tal. O trabalho do luto passa assim por um desprendimento emocional, uma alteração do vínculo emocional relativamente ao objeto perdido.
Do ponto de vista cognitivo, o processo de luto decorre a uma velocidade superior à do ponto de vista emocional.
As emoções associadas a qualquer perda necessitam de mais tempo para se aconchegarem, para se reequilibrarem, mesmo que se tenha consciência de que a pessoa já não está presente, nem disponível.
É salutar elaborar o luto, elaborar as perdas sofridas. Ficar triste é fundamental, pois se um luto não for devidamente elaborado corre-se o risco de entrar numa via depressiva mais neurótica ou mais psicótica, ou mesmo num luto patológico.
No luto estão presentes, não apenas a pena e a tristeza de não poder continuar a investir naquele objeto, mas também a zanga, pois quem fica sente ou acha que foi abandonado por quem partiu ou deixou de estar presente.
Nesse sentido torna-se necessário que o sujeito expresse a sua dor, a sua tristeza, a sua raiva e a sua zanga.Ao confrontar-se com a zanga o sujeito confronta-se também com a sua própria finitude, com os seus próprios limites e com tudo o que ainda terá de viver sem a presença do outro, tendo ainda de reorganizar o seu mundo interno de outra forma.
Com o passar do tempo o sujeito começa a perceber que, da mesma forma que se sentiu abandonado, também precisa de abandonar o outro, ou seja, precisa de ir desinvestindo nesse objeto perdido e atribuir-lhe um outro lugar na sua vida. Quando isto ocorre, o luto está elaborado. A culpa dissipa-se, o medo esvai-se e o pensamento começa a reorganizar-se.
O génio voltou a conversar com a menina e disse-lhe:
- Génio: Tens razão, eu não posso dar-te o que desejas, mas posso ajudar-te. Posso conceder-te outros desejos.
- Menina: Quais?
- Génio: A cura e o tempo.
- Menina: E para que servem?
- Génio: A cura vai ajudar-te a vencer o medo que tu sentires. E o tempo vai estar sempre contigo, como um amigo, com quem poderás sempre contar para conversar, rir, chorar ou simplesmente pensar.
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