in REVISTA PROGREDIR | JANEIRO 2020
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
A grande questão é que, ao projetar o que sinto no outro, eu julgo-o. E será que alguém consegue ser solidário enquanto julga? Julgar é se colocar num patamar acima. Ao tempo que, ser solidário é ser interdependente, é caminhar de mãos dadas, apoiando-nos uns nos outros. Se estou um degrau acima das pessoas, consigo apoiar-me nelas com conforto e segurança? Elas conseguem se apoiar em mim? Dificilmente essas duas situações ocorrem. Assim, ao conhecer-me e aceitar a pessoa que sou, consigo olhar para o lado e ver o próximo como ele realmente é.
O ser humano na sua essência é bom, ele deixa de o ser ao perder-se de si mesmo. Isso ocorre quando os valores são deturpados, como, por exemplo, em situações nas quais é mais importante “ter” que “ser”. Ao manter-se conectado connosco, a essência humana sobressai e, assim, fazemos o bem de verdade. Ao nos conhecer, compreendemos o que de melhor temos para oferecer ao próximo e se este auxílio será útil para ele. Com a ausência do autoconhecimento, o altruísmo vira mera forma de aflorar a vaidade.
Atualmente, o que é primordial parece estar distorcido. O supérfluo virou essencial e vice-versa. Falo isso porque, em algumas situações, como, por exemplo, quando os pais levam os filhos para passear, tirar uma foto com as crianças e colocar numa rede social pode ser mais importante que olhar nos seus olhos e dizer o quanto as amam. Compreendem o quanto as situações importantes foram deturpadas e engolidas pelo status? É primordial mostrar que estou feliz com o meu filho, no entanto, aproveitar o momento com ele e ter um momento real de carinho e harmonia entre nós ficou esquecida. Aparentar é mais importante que sentir. A nossa atenção está junto dos nossos objetivos. A partir do momento que me mostrar torna-se a minha meta, estar presente com meus filhos ficou em segundo plano.
No entanto, quando se opta por ser altruísta, passamos a conviver e relacionar mais com as pessoas. O relacionamento interpessoal nos faz crescer e nos aproxima da nossa essência. Assim, as máscaras reduzem e podemos ser nós mesmos. Uma pessoa próxima de si, que se ama e se respeita, irá contribuir para o mundo de todas as formas. O simples fato de existir já é altruísta, visto que é um exemplo para as pessoas ao seu redor e, com toda a certeza, alguém assim ajuda sem querer ajudar. Isso acontece porque a conexão consigo é algo tão intenso que ela se conecta com o outro sem esforço. A ajuda acontece de forma íntima e legítima. Daí a importância de nos conhecermos e aceitarmos, já que este é o caminho para o nosso interior e, sendo verdadeira comigo, eu cresço como pessoa e auxílio (no que for preciso) o outro, ajudando-o no seu crescimento interior também.
O ser humano possui uma capacidade incrível de se doar. Seja ouvir, conversar, aconselhar… Há um leque de formas de nos entregarmos ao outro. Mas, numa sociedade sem tempo, ocupada, cheia de redes sociais para se alimentar, com um mundo virtual tão aflorado, como seria o altruísmo? Pode-se dizer que a grande necessidade do altruísmo se fez exatamente por termos chegado a uma situação de vazio na qual é necessário ser preenchida. E o toque físico: um abraço, um carinho, não pode valer menos que um “like” numa rede social.
O universo é tão perfeito que o ser humano se melhora ao ajudar. A simultaneidade do auxílio traz o preenchimento no vazio que uma vida em busca somente de coisas materiais proporciona. É necessário se manter, ter uma casa para morar, suprir a família com mantimentos, proporcionar momentos de lazer. Isso tudo faz parte da vida na sociedade moderna. No entanto, será que somos preenchidos somente com isso? Talvez um sorriso sincero de um amigo depois de um consolo seja uma forma de nos alimentar, um abraço apertado de gratidão por um serviço prestado com gentileza, um olhar terno por receber um alimento quentinho por uma pessoa que pode não comer a algum tempo, essas situações nos nutrem de amor, sentimento indispensável para a nossa sobrevivência.
Na sociedade atual o individualismo foi confundido com individualidade, no entanto, um é bem diferente do outro. Individualismo é viver exclusivamente para si. Individualidade é existir como individuo. Assim, ao ser altruísta eu não perco a minha individualidade, mas deixo de ser individualista. Isso é importante pelo fato de o individualismo gerar atitudes egoístas na sociedade e deixar as pessoas pouco tolerantes. Vivemos este momento, no qual é difícil contar com as pessoas e há a sensação de que estamos sozinhos, mesmo pertencendo a uma raça com 7,7 bilhões de indivíduos e, no lugar de nos ajudarmos, estamos nos destruindo. Tal comportamento dificulta a nossa existência aqui, tanto no sentido de nos relacionarmos quanto em relação à preservação do nosso planeta.
Temos exemplos mundialmente conhecidos de altruístas: Madre Tereza de Calcutá com uma vida totalmente voltada para a caridade; Nelson Mandela que se dedicou na defesa dos direitos humanos; Mahatma Gandhi, que conseguiu a independência da Índia num movimento sem violência, entre tantos outros exemplos que temos. Assim, concluímos que o altruísmo salva, vidas, salva a nossa vida e pode salvar a humanidade.
AUTORA, FORMADA EM COMUNICAÇÃO SOCIAL, PSICANALISTA EM FORMAÇÃO
PÓS GRADUADA EM TEORIA E TÉCNICA PSICANALÍTICA E JUNGUIANA
[email protected]
in REVISTA PROGREDIR | JANEIRO 2020
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)