Por Sofia Frazoa
in REVISTA PROGREDIR | JUNHO 2018
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Em fases de grandes mudanças, como a atual, é comum as pessoas aproximarem-se mais da espiritualidade na tentativa de encontrarem respostas e um sentido para a vida. A vida foge à ilusão do controlo, os imprevistos acontecem, as transformações fazem-se sem pedir licença, o ser humano fica desorientado e com medo. E inicia a busca. Mas, às vezes, é preciso ser muito abanado para se pôr ao caminho.
O caminho é solitário
Sem controlo do exterior (que sempre foi ilusório, mas poucos se apercebem), sem referências, sem bases às quais se agarrar, o buscador sente-se de novo uma criança a aprender a andar. Procura, aprende e experimenta até descobrir a prática espiritual que lhe traz mais conforto e paz, que o faz sentir-se em casa, que lhe parece trazer algumas respostas às suas inquietações. Uma prática que nem por isso lhe facilita os dias ou retira as aprendizagens. Dá-lhe é outra visão e mais ferramentas para lidar com elas.
À medida que aprofunda os conhecimentos e se abre à experiência, a prática vai-lhe mostrando que pode ir ainda mais fundo. Quanto mais fundo entra, mais espremido se sente e mais solitário lhe parece o caminho. E maior será a ligação com a sua Fonte. Por não ser um caminho fácil, por vezes saltita-se de prática em prática, ficando pela rama nas aprendizagens e na experiência. Quando se ousa mergulhar profundamente numa prática espiritual, de início surge o desconforto próprio do desconhecido, da falta de hábito, do silêncio. É uma questão de habituação até se perceber que é nesse silêncio que se ouve tudo o que se precisa.
O coração precisa de coerência
Ter a coragem de ser coerente pode significar ter de dizer ‘não’ a algumas propostas e pessoas. É ter a coragem de seguir o coração e o fluir da vida a cada momento. E não existe uma altura em que se atinge a coerência para sempre. É um processo de avanços e recuos; umas vezes mais, outras menos coerente. Porque vivemos em sociedade, por vezes damos connosco a ceder na coerência para não magoar, para não nos aborrecermos, para sobrevivermos às situações.
A coerência mais importante reside no que se sente ser fundamental para cada um, na coluna vertebral de cada ser, no que é imprescindível para manter o equilíbrio. Em suma, a coerência reside em tudo o que deixa o coração em paz. Se já se fez o que era possível, se foi feita uma escolha sem maltratar o coração, resta abrir mão e deixar que tudo flua. Até porque não há outra hipótese.
Cabe a cada um manter o foco
A dispersão é fácil quando os tempos são de mudança acelerada e de muitas opções. Não há fórmula para acabar com a incoerência, pois também há situações em que ela é útil e traz benefícios. Além disso, se estamos em constante aprendizagem, a coerência vai mudando em cada um com o passar do tempo e das experiências.
O que se pode fazer é manter o foco, a visão maior, e seguir alguns passos para a coerência na espiritualidade:
Escolher a via Ser livre para escolher implica ter experiências. Não há regras fixas e é sempre possível inverter a marcha ou seguir outro caminho, no entanto, é importante que cada um opte pela prática (ou, até, mistura de práticas) que mais ressoa consigo.
Desenvolver a relação Escolhida a via, é preciso tempo e prática para ver resultados. Daí que a sugestão seja a de se focar numa área ou vivência. Se funciona, então que se desenvolva a relação. O contacto entre nós e a Fonte, independentemente dos apoios pelo caminho, será sempre pessoal e intransmissível.
Foco e disciplina Entrar numa prática espiritual e levá-la às últimas consequências requer foco e disciplina. Por exemplo, meditar uma vez por semana será sempre diferente de fazer as meditações todos os dias, como se lavam os dentes ou se toma banho. É outro tipo de higiene (a espiritual), também muito necessário e complementar para o indivíduo. Praticar, praticar, praticar sem perder o foco (ou do benefício) nestas áreas. O que não significa que deixem de existir desafios e aprendizagens. É precisamente para quando existem que se devem manter o foco e a disciplina.
Reduzir ao essencial Um processo profundo de busca e encontro espiritual toca e muda quem nele entra. Pouco ou nada volta a ser como antes, se se quiser ser coerente. O buscador pode sentir a necessidade de despojamento, de libertação, de descascar de capas e camadas que já pesam. A nível material, do dia-a-dia, pode haver necessidade de ‘destralhar’, de mudar de casa, de reduzir a roupa no armário, de limpeza profunda, de menos consumismo, de ter atividades diferentes. Todo este processo de ir à essência é necessário para se reconstruir a partir do núcleo.
Viver de acordo com isso Para qualquer processo de ‘morte’ e libertação, há um reajuste que às vezes implica mais responsabilidade. Se houve um abanão, se foram feitas mudanças, se se encontrou o que é essencial, chegou a altura de viver de acordo com essa aprendizagem, ou seja, de se ser coerente.
TERAPEUTA, FORMADORA E ORADORA (ÁREAS: XAMANISMO, MEDITAÇÃO, FEMININO E ESTUDOS DE GÉNERO)
www.caminhosdaalma.com
in REVISTA PROGREDIR | JUNHO 2018
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