Por Marise Vidal
in REVISTA PROGREDIR | JUNHO 2021
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
O nosso nome, que nos acompanhará por toda uma vida, já tem muito a dizer sobre a nossa história. Quem o escolheu, como foi escolhido, se homenageia alguém, se segue uma tradição familiar, se tem um significado específico. Dados que falam da relação que os nossos pais e ascendentes estabeleceram conosco. Legados que passamos a carregar e que nos atravessarão como pessoas e atravessarão também as nossas futuras relações no mundo.
A primeira relação que estabelecemos é com os nossos pais ou com aqueles que nos cuidaram na primeira infância, no nosso núcleo familiar. A vivência de bons relacionamentos, com interações saudáveis que ofereçam cuidado e proteção nesta fase da vida, são fundamentais para que estabeleçamos alicerces para as futuras relações. As bases para a vida adulta se definem neste período e são perpassadas também por características individuais, pela organização familiar, pelas condições de vida, pelos cuidados recebidos, pela influência do meio em que vivemos, educação, cultura, etc.
Conforme crescemos e criamos novos relacionamentos, percebemos que muitas das formas como agimos e pensamos são influenciadas por padrões formados ainda na infância. E devido a isto, a reflexão hoje sobre relacionamentos é um convite para a autodescoberta, para um mergulho mais profundo na compreensão do que somos para compreendermos como somos; pois é aí nesta instância do entre (o como somos e como nos relacionamos com o outro) que a relação acontece afinal.
A palavra tão usada recentemente - o autoconhecimento - é uma viagem individual mas também coletiva pois se somos construídos em relação, não podemos prescindir de olhar para fora e para tudo o que nos rodeia, nos provoca e nos sensibiliza.
Se desejamos celebrar o nosso crescimento e caminhar para o desenvolvimento de relacionamentos saudáveis, devemos conhecermo-nos e atualizar a cada tempo o nosso ser.
Gosto da frase da escritora Virginia Woolf que nos diz: “Se você não conta a verdade sobre si mesmo, não pode contar sobre os outros”, relembra-nos o quanto é importante nos conhecermos, para que possamos também lidar com a realidade que é o outro e aceitá-lo (assim como a nós mesmos) em seu todo, com qualidades e defeitos, erros e acertos, com as nossas divergências e convergências.
Temos vivido momentos difíceis: pandemia, isolamento, home-office, insegurança; mudanças e desafios para todos nós.
E como estão nossas relações? As relações íntimas se tornaram ainda mais íntimas, pois não há possibilidade de tantos encontros sociais, nem de tempos de individualidade ou de espaços separados de convivência que permitiam aos casais um tempo de distanciamento e retorno. As famílias tiveram que compartilhar o espaço privado e conviver de uma forma muito mais intensa, inseridos em rotinas comuns, com espaços virtuais próprios, mas que muitas vezes não coincidem com a possibilidade de espaços reais também próprios. Parece impossível para muitos, manter a paz e o equilíbrio.
Para que possamos manter relações saudáveis e celebra-las, precisamos mais do que nunca, respeitar as diferenças, incentivar a autonomia e liberdade (de ser o que é), assim como criar a possibilidade do diálogo e o exercício da empatia.
E como respeitar o outro, o seu companheiro ou companheira, o seu filho ou filha, os seus pais, os seus pares em geral? Aceitar e compreender que somos seres que estamos sempre em construção. E que a maior possibilidade de mudança, passa primeiro por se conhecer a si mesmo, pois só quando reconhecemos quem somos, onde estamos e o que desejamos, podemos nos responsabilizar pelo que fazemos, por como nos comportamos e como interagimos no mundo e nas nossas relações.
O amor pleno é aceitação. Numa uma relação, quando podemos aceitar o outro com tudo que ele é, mesmo com as partes que não gostamos ou que não reconhecemos como afinidades, podemos também aceitar em nós essas partes, assim como as nossas imperfeições e podemos nos permitir sermos reais, para sermos também amados, da forma que somos. Digamos que passa por uma certa dose de humildade. Humildade no dicionário é descrita como virtude caracterizada pela consciência das próprias limitações, como modéstia, como simplicidade. Creio que esta seja a virtude secreta (agora não mais) dos relacionamentos duradouros. Pois aquele que reconhece os seus próprios limites, as suas falhas, aquilo que carrega da sua história e reconhece o que traz enquanto idealização ou carência, poderá perceber melhor as relações e entender que nem tudo poderá ser atendido, satisfeito, suprido.
Que possamos celebrar a oportunidade de crescimento através do autoconhecimento e da aceitação. Como nos instiga no seu poema, o psicólogo Fritz Perls, que sintetiza a filosofia de resgatar o contato natural e autêntico consigo mesmo, com as pessoas e com o mundo:
“Seja como você é. De maneira que possa ver quem é. Quem é e como é. Deixa por um momento o que deve fazer e descubra o que realmente faz. Arrisque um pouco, se puder. Sinta os seus próprios sentimentos. Diga as suas próprias palavras. Pense os seus próprios pensamentos. Seja o seu próprio ser. Descubra. Deixe que o plano para si surja de dentro de si.”
PSICÓLOGA CLÍNICA, GESTALTTERAPEUTA, ESPECIALISTA EM PREVENÇÃO A AUTOLESÃO E SUICÍDIO, TERAPEUTA FAMILIAR E DE CASAIS, CONSTELADORA FAMILIAR
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