Por Cristina Freire
in REVISTA PROGREDIR | FEVEREIRO 2013
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Hoje, quando falamos em celebrar, pensamos em comemorações com mais ou menos festejos que encerram em si maior ou menor solenidade, mas já não temos a certeza da Universalidade dos rituais utilizados e da sua simbologia. Tememos confundir tradicional com fora de moda e precisamos de algum grau de improvisação que possibilite atualizar no tempo e nas circunstâncias, alguns rituais marcados pelo poder de unir, fortalecer laços, consolidar relações.
Mesmo os rituais que se cumprem por hábito, para obedecer a uma tradição, são imprescindíveis para o equilíbrio emocional de comunidades e indivíduos, podendo funcionar, em determinados casos, como placebo (um alivio ilusório, contudo, eficaz para a situação), mas sempre necessários e incontornáveis em momentos chave da vida.
Celebramos acontecimentos, comemoramos datas e festejamos tudo isto com as pessoas de quem gostamos, mas será que podemos falar em vantagens e desvantagens das comemorações e até dos compromissos finais?
Já ouvimos objeções com sentido. Factos objetivos contra e a favor de ambos, por exemplo, desde não existirem diferenças entre casar formalmente ou morarem juntos, até à afirmação de que o compromisso final piora o relacionamento. Relativamente às celebrações/comemorações, há muito quem não valorize, considerando que os casais o fazem forçados e constroem uma fachada de comportamentos artificiais.
Na verdade, evidências científicas e do dia-a-dia, mostram que as vantagens das comemorações, com os seus rituais tradicionais ou resultado da criatividade do casal, são maiores do que as suas desvantagens, melhorando a qualidade e duração dos relacionamentos.
Tal acontece porque comemorar algo, significa que isso tem importância para nós ao ponto de nos dispormos a planear, ter trabalho com os preparativos e estar presente por inteiro. O simples facto de fazermos este movimento em direção ao outro e ao que ele significa para nós, melhora e reforça os laços e, para o parceiro/a, sentir-se alvo de tal atenção e investimento, melhora com certeza a sua autoestima enquanto pessoa, mas também a perceção que tinha sobre a relação. Estes efeitos positivos podem ir desde um simples melhoramento, a salvar mesmo uma relação em dificuldades.
Mas não é sempre assim. Quando um relacionamento está muito desgastado, qualquer tentativa de comemoração pode tornar-se frustrante, pois haverá muita contrariedade e qualquer combinação seguirá a linha das discussões anteriores, servindo para se magoarem e atingirem, rejeitando e gozando com as escolhas um do outro. Nestas situações a relação pode terminar em vez de melhorar.
Já o mesmo não se pode dizer quando a celebração ocorre numa família ou comunidade em conflito. Aí, o facto de se terem de encontrar, planear em conjunto, juntarem-se na celebração e saborearem o sucesso ou lamentarem o insucesso em grupo, reverte-se de um significado de agregação, tornando mais fortes os laços e diluindo conflitos antigos.
Os Presentes: fonte de prazer ou conflito?
Também os presentes se podem transformar numa fonte de problemas e não de prazer, com a maior facilidade de um em conhecer os gostos do outro ou o sentimento de obrigatoriedade em dar um presente, algo sentido como muito frustrante. É de tal forma complexo que até a escolha de um presente personalizado, não baseado em consumo (em gastos), pode ser entendido como a outra pessoa não nos ter achado suficientemente importantes para gastar dinheiro connosco. Enfim, o mais importante mesmo é a atenção e carinho com que nos presenteamos, diariamente, uns aos outros. Afeto, generosidade e bem-querer, eis os ingredientes diários que nos podem dar alguma garantia da qualidade e duração de um relacionamento e muito haverá a festejar se o conseguirmos.
Em jeito de conclusão, parece que celebrar, nos seus diversos e até criativos rituais, é parte intrínseca do Ser humano, dando-lhe continuidade – enquanto ser gregário e normativo -, atribuindo simbologia e significado aos seus atos e contribuindo para a preservação da nossa cultura. O bom da celebração é a dedicação que impulsiona ao encontro do que se celebra, a dedicação, o tempo e a reflexão, com tudo o que isso despoleta.
A ausência de qualquer ritual ou ato comemorativo numa sociedade, faria dela uma anomia, ou seja, deixá-la-ia num estado de falta de objetivos e perda de identidade. Pelo contrário, saber integrar diferenças, diluir conflitos, através da compreensão, motivar-se apesar das frustrações, sentir empatia e dar esperança, apesar das dificuldades, são atributos de pessoas e sociedades que conseguem, indubitavelmente, relações emocionalmente mais inteligentes e isto, em tempos de crise…
Psicóloga Clínica e Terapeuta Conjugal
Autora do Livro “Um Amor para Sempre”
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REVISTA PROGREDIR | FEVEREIRO 2013