Por Carla Marina Melo
in REVISTA PROGREDIR | JUNHO 2021
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Nos tempos que correm em que nos é pedida distância social, a prática da celebração mudou a sua forma de se manifestar, no entanto, mesmo virtualmente, tem sempre implícito o encontro com o outro. Celebramos as nossas alegrias, vitórias e conquistas à distância de um clique, sempre que não é possível o encontro presencial.
Atualmente, celebrar tem um significado diferente, pois estando nós, seres sociais, mais privados do encontro e convívio entre as pessoas, acabamos certamente por celebrar cada olhar, cada sorriso quando há oportunidade do reencontro com o(s) outro(s). Celebramos as grandes datas (aniversários, conquistas, por exemplo) e as pequenas coisas que a vida nos dá e que tínhamos como garantidas. Aprendemos a comemorar de forma mais comedida tornando o objetivo da celebração social um paradoxo em si. No entanto, continuamos a festejar e isso é algo que fará sempre parte de nós, seres humanos, embora, atualmente, tenhamos aprendido a festejar o facto de estarmos vivos, termos um emprego, uma família, um local para viver, alimento para todos, entre outros motivos pelos quais poderemos estar felizes e gratos ao ponto de celebrar as pequenas coisas da vida.
Estando nós tão habituados a associar a celebração a eventos alegres, não temos o costume de celebrar os momentos de dificuldade. No entanto, é nestas alturas em que o nosso crescimento acontece. Perante os desafios, somos muitas vezes impelidos a mergulhar no interior de nós mesmos. É quando descemos à caverna, tal como Cora e é aí que surge Perséfone e a transformação acontece. Foi quando Cora comeu as sementes de romã e desceu ao submundo que a donzela se transformou em mulher. Assim é em nós e assim é com os ciclos naturais.
Também, a transformação da semente, definhando no outono e entrando em dormência no inverno, leva à sua transformação e crescimento na primavera, estação onde se celebra a vida e o renascimento resultante de uma metamorfose e períodos de escuridão sem os quais a alegria dos ciclos da natureza não conseguiriam ter sucesso e motivo para comemoração.
É aí que a descoberta da nossa essência é trazida à luz da consciência impelindo a que se dê a verdadeira metamorfose interior. Crescemos. Desenvolvemo-nos enquanto seres humanos.
Neste sentido, celebrar o que um desafio nos traz e o quanto nos transforma será, talvez, a mais gratificante das celebrações. Uma comemoração destituída do convívio que é associado aos festejos, mas um comemorar interno que será entendido por todos aqueles que já desceram ao submundo e subiram do reino de Hades, entendendo o verdadeiro significado desta celebração interior. Aqui, celebrar será um estado da alma ou do espírito (o que lhe quisermos chamar) vibrar em compaixão, gratidão, amor e admiração pelo crescimento conseguindo e pela resiliência que levou à transformação individual.
Contudo, não nos esqueçamos que celebrar não deixa de ser uma atividade social e mesmos estas celebrações resultantes do nosso crescimento interior terão certamente um sabor mais glorificante e doce quando partilhadas pela nossa tribo de sangue ou de coração.
Todos os tempos são para celebrarmos o que nos bem aprouver, estejamos atentos ao que sentimos e ao que nos rodeia, pois, motivos para comemorar… temos sempre muitos.
TERAPEUTA HOLÍSTICA
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in REVISTA PROGREDIR | JUNHO 2021
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