Por Sofia Frazoa
in REVISTA PROGREDIR | MARÇO 2013
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Outras formas de “violação”
O sexo é - e sempre foi - um dos temas que mais curiosidade e interesse desperta na vida das pessoas. Passamos a vida a seduzir e ser seduzid@s, consciente ou inconscientemente; a tentar agradar e sentir agrado; a procurar situações que mantenham acesa a chama da paixão, que nos faz sentir viv@s, desejad@s e ativ@s. Se entendermos o sexo como uma das componentes da vida do ser humano que contribui para o seu bem-estar e equilíbrio, estamos a honrar parte da nossa natureza biológica. A conotação de “maldade” e perversão que depois lhe damos já está relacionada com questões culturais, religiosas e/ou sociais. E, neste sentido, as mulheres têm sido as mais penalizadas.
Começa logo por, ao longo dos séculos, terem sido vedados às mulheres os direitos de terem prazer e viverem o sexo como os homens, justificando-se que estes são biologicamente diferentes. Depois, provavelmente poucas pessoas perdem tempo a pensar nisso, mas os “piropos” e comentários com conotação sexual são, por norma, mais dirigidos às mulheres do que aos homens.
E aquilo que, à primeira vista, parece um elogio e uma demonstração elogiosa de “interesse”, visto à lupa constitui uma invasão e, em última análise, uma “violação” porque não há consentimento mútuo nem relação de igualdade e prazer para os dois lados. Já experimentaram perguntar a uma mulher se a incomoda ser “elogiada” por aquele homem em particular ou com aquele tipo de comentário? As respostas poderiam ser surpreendentes (“detesto que me digam isto!”, “credo, com este homem nem morta!”, “vai dizer isso à tua mãe” ou “não tens espelho em casa?” poderiam ser algumas das reações…).
O feminino ferido
Do ponto de vista terapêutico, estas “agressões” a que as mulheres estão expostas vão ferindo o feminino desde a infância/adolescência, quando muitas vezes há, inclusive, sentimento de culpa por nos terem tocado ou feito determinado comentário. Crescem, assim, mulheres feridas com a sua sexualidade, com os homens e com a vida em geral (dependendo, obviamente, da profundidade/gravidade de uma situação e da forma como foi sentida). A nível do corpo, essa energia de dor fica acumulada na zona do útero e dos ovários. E precisa de ser entendida, desbloqueada e curada para uma total libertação.
O mesmo se passa no âmbito de um relacionamento íntimo, em que supostamente há consentimento mútuo. A grande questão é que, devido aos papéis de género que nos foram sendo inculcados, há muitas mulheres que se “obrigam” a encaixar num padrão que não é o seu. E ao permitirem-se viver esse modelo, ao renunciarem à sua voz interior, vão traindo a vontade do seu feminino e contribuindo para o ferir um bocadinho mais. Sim, sobretudo a nível sexual. Mais uma vez, essa energia de dor, por vezes repulsa e até mágoa, vai preenchendo a zona do útero e dos ovários e pode assumir sensações de ter pedregulhos alojados, ardor, picadas e até pontas de facas a espetarem.
Estas são apenas algumas das maldades que as mulheres podem fazer a si próprias. Tendo em conta que o centro da criatividade, da vida, do feminino, está precisamente nessa zona do corpo das mulheres, torna-se imprescindível tratar dessas feridas. Em nome do próprio bem-estar e do consequente bom relacionamento com os outros.
Fica o convite às mulheres a escutarem o seu útero/ovários (mesmo que se tenham submetido a alguma cirurgia essa memória continua lá). Podemos fazer uma meditação em que viajamos até esta zona do corpo ou, simplesmente, sentir os sinais que ela nos vai dando. Que história conta? Que feridas tem? Que tratamento pede?
Terapeuta
www.caminhosdaalma.com
[email protected]
Facebook: Caminhos da Alma
REVISTA PROGREDIR | MARÇO 2013