
in REVISTA PROGREDIR | MARÇO 2025
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
A independência psicológica permite ao individuo aceder às suas habilidades para gerir situações de stress e de adversidade, fortalecendo a sua autoconfiança, autoestima, resiliência e eficácia na resolução de problemas. Além disso, contribui para a construção de relações mais equilibradas e autênticas, nas quais é possível estabelecer limites e acordos saudáveis, sem se sobrecarregar o outro com expetativas emocionais irrealistas e exigências excessivas.
Indivíduos com níveis elevados de dependência emocional, que necessitam constantemente da validação e orientação dos outros, frequentemente apresentam baixa autoestima, insegurança, perturbações emocionais como ansiedade e depressão e dificuldades em fazer escolhas e tomar decisões. Quando uma pessoa depende excessivamente de outra/s para a regulação das suas emoções e sustentação da sua autoestima, poderá correr um risco acrescido para permanecer em relações desequilibradas, ficando comprometida a sua saúde mental.
Para promover a autonomia psicológica, é fundamental cultivar a solitude, isto é, a capacidade de estar confortável na própria companhia, aproveitando esse tempo como uma oportunidade para desligar dos estímulos exteriores e poder pensar, refletir e tornar-se mais consciente das próprias necessidades, desejos, valores e emoções.
Nesse processo de autoconhecimento, o recurso à escrita constitui-se como uma ferramenta poderosa que facilita a conexão com o íntimo, isto é, com as emoções e pensamentos mais profundos, trazendo clareza e sentido à experiência.
Para cultivar a solitude, importa realizar atividades sem se depender da presença do outro, como fazer uma caminhada, ir ao cinema ou a um concerto. A liberdade resultante dessas experiências pode ser profundamente transformadora, uma vez que permite ao indivíduo vivenciar momentos gratificantes e prazerosos, respeitando o próprio ritmo, sem pressões e condicionalismos externos.
Mesmo que inicialmente essa prática possa ser algo desconfortável, é importante exercitar a flexibilidade psicológica para aceitar com compaixão e gentileza essas emoções menos agradáveis e ir dando, gradualmente, os passos necessários em direção a uma vida mais significativa e com maior liberdade e autonomia psicológica.
Ao sentir-se progressivamente mais confortável em diferentes contextos, sem o apoio de terceiros, o indivíduo experimenta uma diminuição da sua ansiedade social e da sua vulnerabilidade ao medo da solidão e da rejeição. Exercitar esta habilidade para gerir as emoções sem depender de outras pessoas para regulá-las, favorece o desenvolvimento de uma maior independência emocional.
Por outro lado, a solitude permite também ao indivíduo estar mais atento ao momento presente e às oportunidades do “aqui e agora”, respondendo a elas de forma mais consciente e criativa.
A independência psicológica requer, em muitos casos, um desapego gradual de influências externas, especialmente das redes sociais, que promovem a comparação social e a busca constante pela aprovação alheia, comprometendo a construção de uma identidade mais autónoma e sólida.
A autonomia emocional implica também a consciência de que cada um é responsável pelo seu bem-estar emocional e que caso esse autocuidado físico e emocional seja negligenciado, o desempenho nas várias esferas da vida poderá ficar comprometido.
É importante ressalvar que a independência psicológica não implica isolamento, desconexão ou a negação da necessidade dos outros. Somos uma espécie altamente relacional e necessitamos de estabelecer vínculos afetivos significativos para nos mantermos saudáveis, isto é, relações em que sentimos que somos reconhecidos, valorizados e temos com quem contar.
A solitude e a independência psicológica permitem ao indivíduo escolher melhor os parceiros de vida e estabelecer limites mais saudáveis nos relacionamentos, o que envolve habilidades como dizer “não” quando necessário, ser assertivo, negociar acordos justos e respeitar as próprias necessidades e emoções. Isso possibilita que a pessoa seja mais fiel a si mesma nos relacionamentos, vivendo-os com maior autenticidade, equilíbrio emocional e respeito pelos próprios limites. Perante uma tomada de decisão, é possível considerar as opiniões dos outros, mas as ações devem estar comprometidas com os próprios valores e não com a busca pela aprovação externa.
Quando o individuo permanece num padrão de dependência psicológica excessiva, que compromete a construção de uma identidade autónoma e coesa, prejudicando os seus relacionamentos interpessoais e o seu bem-estar emocional, torna-se recomendável o apoio especializado em psicoterapia.

PSICÓLOGA CLÍNICA E DA EDUCAÇÃO E PSICOTERAPEUTA
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