
Por Carla Melo
in REVISTA PROGREDIR | JULHO 2018
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Michael Douglas interpretou a personagem principal, William Foster. O filme passava-se em torno deste homem, aparentemente, um cidadão normal que, de repente, perde o emprego, não consegue reconhecer a situação de divórcio pela qual atravessa e que pretende estar presente no aniversário da filha, não o estando a conseguir devido a uma série de peripécias que lhe vão acontecendo. Perante esta situação, a personagem representada por Douglas, colapsa psicológica e emocionalmente, através de um acesso de raiva, deixando-o capaz de destruir meia cidade de Los Angeles.
A raiva é uma emoção assim, forte, destrutiva. É aquele sentimento que nos surge por nos mostrar a nossa falta de capacidade de controlo das coisas.
Vivemos com a falsa sensação de que controlamos o emprego, as relações, os sentimentos, enfim, a vida. Esta necessidade de controlo dá-nos a sensação de segurança tão necessária para vivermos com tranquilidade.
Quando nos começam a acontecer dissabores na vida, situações não planeadas, como mudanças no emprego ou mesmo a sua perda; relações que não acontecem como se esperava; o sentimento de impotência começa a aflorar sob a forma de raiva.
A raiva em doses q.b. pode ser propulsora de mudanças importantes na nossa vida. Dá-nos o impulso para virarmos alguma página mal acabada. Contudo, em excesso desencadeia uma série de outras emoções e situações que nos afetam bastante negativamente, como por exemplo, entramos em stress, ansiedade e poderá conduzir-nos, também, a um quadro depressivo. Aquela emoção, por a percecionarmos como negativa, procuramos escondê-la. Muitas vezes guardamo-la bem fundo num cofre, no nosso interior e deitamos a chave fora.
A raiva é uma emoção com uma energia tão forte que quando guardada vai-nos corroendo por dentro. Lidar com esta emoção no feminino torna a tarefa menos fácil, pois as meninas são educadas a não mostrar emoções agressivas, sendo a sociedade um pouco mais permissiva, neste aspeto no que diz respeito aos meninos. Apesar da diferença, ambos os géneros podem ser fortemente afetados pelas consequências de não saber lidar com esta emoção nas suas vidas.
Então, dependendo da condição de cada um de nós e da sua fragilidade física e/ou emocional, começam a surgir mazelas como dores de cabeça idiopáticas, úlceras, ou depressões, por exemplo.
Como podemos controlar uma emoção que surge precisamente por nos mostrar que não controlamos nada nas nossas vidas? Simplesmente, não controlamos! Afinal, ela mostra-nos isso mesmo, a nossa impotência.
Será possível lidar com emoções tão fortes como a raiva sem termos de destruir meia cidade como no filme ou uma parte da nossa saúde?
Penso que a forma de o fazer é precisamente aceitarmos, de coração aberto, que não controlamos nada. A aceitação de nós mesmos com tudo o que encerramos de bom e de menos bom em nós. Percebermos e abraçarmos a nossa fragilidade enquanto seres humanos. E fazê-lo desde o nosso interior mais profundo.
Parece utópico. Acredito que não o seja, pois já temos tantos estudos, informações e práticas para trabalhar o nosso desenvolvimento pessoal e nos auto conhecermos que será uma questão de arranjarmos algum tempo para nós e de nos predispormos a trabalhar interiormente todos os nossos lados, aceitando-os como nossos e procurar aprender a canalizar este sentimento de forma positiva.
Não vamos controlar o incontrolável. E a raiva é isso mesmo, uma emoção que é para deixar fluir, desde que não seja seguida pelos sentimentos de culpa e de vergonha por nos termos mostrado mais frágeis ou simplesmente, por termos mostrado que somos seres humanos.
Existem várias estratégias para lidarmos com este sentimento de raiva, na tentativa de o canalizar positivamente e a nosso favor ou que nos ajudarão a relativizar a situação que nos conduziu a um estado de fúria. Alguns exemplos são: praticar desporto; gritar do cimo de uma montanha ou para uma almofada; falar o que vai na alma à frente de um espelho; permitir-se chorar; conversar com uma pessoa amiga, familiar ou com um terapeuta; caminhar ou correr na Natureza, sentido os aromas e as cores; ou caminhar descalço num jardim.
Para conseguirmos lidar com este sentimento, cabe a cada um de nós procurar encontrar a sua forma de libertação, deixando a raiva fluir, sem causar perturbação nos que o rodeiam ou pelo menos minimizando as consequências da sua manifestação.
O importante, é não esquecer que não controlamos nada e que devemos procurar abraçar a nossa fragilidade, aceitando-nos tal como somos.

PROFESSORA, HOMEOPATA E FACILITADORA TRANSPESSOAL DE CÍRCULOS DE MULHERES
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in REVISTA PROGREDIR | JULHO 2018
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