
in REVISTA PROGREDIR | SETEMBRO 2016
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Já vai sendo por muitos sabido que caminhar regularmente é um dos melhores exercícios que podemos fazer pela nossa saúde.
É uma prática ao alcance de quase todos, que envolve pouca ou nenhuma despesa e que nos trás benefícios cardiovasculares comprovados, podendo também evitar ou, pelo menos retardar, o aparecimento de problemas articulares, ósseos e outros.
Uma boa caminhada num local aprazível e pouco poluído permite também uma melhor oxigenação que ajuda pulmões e cérebro a descomprimirem e a sentirem-se mais limpos e livres.
Caminhar é também uma oportunidade de estarmos connosco e com os nossos pensamentos mas também pode ser uma boa ocasião para ouvirmos música ou estarmos na companhia de alguém que connosco caminhe, de conhecermos novos locais e de convivermos com a natureza.
Fazer caminhadas é o que se passa quando numa determinada altura decidimos caminhar num determinado local, durante um determinado tempo. No entanto, duma forma ou de outra, todos nós, sem tomar expressamente a decisão de o fazer, andamos quando nos deslocamos de um lado para o outro, ainda que seja pouco, ainda que seja em locais poluídos, ainda que seja de forma pouco consciente ou escolhida, apenas porque é a forma de nos deslocarmos para fazer isto ou aquilo.
Vemos portanto, que podemos caminhar sem grande consciência de o fazer, ou podemos fazê-lo de um modo mais consciente e voluntário, porque gostamos, ou para nos sentirmos mais saudáveis.
Tomemos agora a nossa vida como um caminho… Como nos diz o poeta: Não há caminho, o caminho faz-se ao andar.
O caminho é o espaço que separa o nosso nascimento da nossa morte. É o tempo que medeia entre o primeiro choro e o último suspiro. Mas esse espaço/tempo somos nós que o preenchemos. Os passos serão nossos e as direções escolhidas também. Então o caminho é o percurso que formos construindo entre esses dois marcos.
É certo que a liberdade nunca é total (de resto, se o fosse, impediria qualquer compromisso…), é certo também que, para além da herança genética, o ambiente socioeconómico, cultural, educacional e político do país, local, família, tempo em que nascemos, são alguns dos fatores determinantes. Há sempre constrangimentos. Todos os temos, maiores ou menores, duma ou de outra ordem. Mas existe sempre, também, espaço para transformação e mudança, espaço de liberdade e crescimento, também estes, fatores determinantes.
Quando sentimos esse espaço de liberdade como não suficiente, talvez seja necessário começar por alarga-lo, já que nos sufoca e nos impede de andar. Contudo, é bom não esquecer, que muitas vezes, somos nós próprios, por variadíssimas razões, a prender-nos, a tolher a nossa própria liberdade, a impedir-nos de caminhar.
Ficamos então a funcionar num espaço/tempo entre nascimento e morte como se esse fosse o nosso próprio percurso, aquele que o destino nos concedeu, não tendo consciência que essa existência sem marca, não tem de ser a nossa vida, sendo apenas o tempo, o acaso e as circunstâncias a desenrolarem-se e a exporem-se perante nós, ficando nós como espectadores que reagem ou não, mas não agem nem sobre si nem sobre o ambiente.
Ao perdermos a oportunidade de transformar a nossa existência e as suas circunstâncias na nossa própria vida, ao não agarramos nessa existência - essa massa informe - para lhe dar forma, limitamo-nos a habitar um espaço e um tempo, sem vontade nem alento, como se alguém, que não nós, pudesse indicar-nos e escolher o nosso caminho melhor do que nós mesmos.
Se qualquer de nós é único, porque haveria de ser o nosso caminho ou o ritmo a que o percorremos, igual ao de um outro?
Como poderá qualquer outro ter a ousadia de saber qual deverá ser o meu caminho?
Certo é, que por vezes andamos perdidos e confusos. Se aceitarmos esse tempo como necessário e como fazendo parte do nosso caminho, um compasso de espera para tomarmos decisões, poderemos tolerar melhor esses momentos de incerteza. Tão desajustado e perigoso pode ser navegar continuamente contra a corrente, como deixar-nos constantemente ir ao seu sabor. No primeiro caso podemos consumir demasiada energia e não conseguirmos usufruir de tranquilidade, no segundo caso, podemos desaguar onde não queremos, sem nos realizamos, sem nos cumprirmos. Saber escolher alturas e tempos para optar por um ou por outro é fundamental.
Caminhar com saúde mental é construir o caminho sabendo dosear esforço e repouso, sabendo observar, escutar, sentir, refletir, agir e reagir, sabendo planear, mas também improvisar e aceitar o imprevisto. É fundamental ganhar consciência de que a vida não é nem uma corrida, nem um concurso de perfeição, nem uma competição. É uma construção pessoal única, irrepetível e inigualável. Sempre!
Esse processo de criação do nosso próprio caminho está cheia de aprendizagens, em que os “erros” fazem parte. Medo de errar é medo de viver, é receio de caminhar e, no entanto, a morte não chegará mais tarde por isso, apenas surgirá com um sabor mais amargo, o sabor do vazio de não se ter construído um caminho.
Caminhar é uma descoberta, do próprio, dos outros e da vida, porque, se “não há caminho”, então ele não é mais do que o nosso próprio desenvolvimento e construção, às vezes por tentativa e erro, em que não deve haver receio de retroceder, de cair, de sair magoado, de fazer um desvio, de parar... Enfim, de fazer desse caminhar uma aventura, nuns dias mais ousada, noutros mais previsível e calma, numas alturas com acontecimentos que nos transcendem, noutras, colhendo os frutos do que fomos semeando (conscientemente ou não…), por vezes sozinhos, outras acompanhado, numa viagem que se deseja plena de amor e de auto realização.
Quanto mais realizados nos sentirmos neste caminhar, melhor será a nossa saúde e bem-estar.

PSICÓLOGA CLÍNICA E DA SAÚDE E PSICOTERAPEUTA
www.espsial.com
in REVISTA PROGREDIR | SETEMBRO 2016
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