
in REVISTA PROGREDIR | DEZEMBRO 2022
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Em Busca do Ego Perdido
Entrar numa festa em que a sua própria presença muda tudo, ser alvo de atenção de uma forma exagerada, receber elogios, com tudo a parecer surreal e inesquecível para todos os envolvidos, é obra das redes sociais que lançaram uma espécie de feitiço na sociedade - o matrix do entretenimento - onde convergem os ideais de sucesso, dinheiro, fama, os holofotes da luz da ribalta, uma máquina acionada pelo poder dos meios de comunicação. Como dizia Shakespeare, «o mundo inteiro é um palco», hoje todos podem subir e escrever a sua própria história. De alguma maneira, qualquer pessoa pode ganhar a sua celebridade através da televisão ou da internet e obter os tais 15 minutos de fama de que falava Andy Warhol, agora multiplicados por muitos mais 15.
No entanto, o individuo ao procurar a sua própria celebridade, o Eu mediático pode sobrepor-se ao seu próprio Eu, numa perigosa versão fragmentada da sua própria identidade e possível deslocamento da sua personalidade ou consciência.
Por outro lado, o Ego e Fama poderão entrar em colisão, porque tudo o que tem a ver com o Ego não dura, desse modo prevalecendo o conflito pela efemeridade da própria imagem mental criada, da qual o público se alimenta incessantemente, sem conseguir matar a sua fome.
O famoso que “morre” é o que vive da exposição mediatizada, desconhecendo o verdadeiro sucesso de uma relação espiritual com o trabalho, de verdadeiro talento, sem espaço, nem tempo.
Eckhart Tolle no seu livro Um Novo Mundo fala da “sobrevalorização absurda da fama” como uma das muitas manifestações de loucura egocêntrica no mundo”. E escreve; “a maldição de ser-se famoso é que quem tu és, torna-se totalmente obscurecido por uma imagem mental coletiva”.
Ainda segundo o autor, a maioria das pessoas que venera e admira os famosos, são as que mais precisam de melhorar a sua identidade, ou seja, melhorar a perceção que têm de si mesmas, através da associação com as pessoas celebres. Elas querem-se completar através delas, ou melhor, através da imagem conceptual que fazem delas. E talvez nem se apercebam que vampirizam a pessoa idolatrada, seguindo a linha de pensamento do Ego coletivo insuflado, ou seja, quando o público vive através da pessoa famosa, se valoriza e vangloria por a conhecer. Um fenómeno que à primeira vista pode parecer estranho a quem não é famoso, como mais à frente veremos.
Quando se pensa no estado em que está o mundo, na guerra, nos tempos de pandemia, no planeta a ser destruído, é da responsabilidade de uma figura pública enquanto modelo e reflexo da sociedade, aumentar a consciencialização pública, oferecer soluções e envolver-se nos problemas. Procurar seguir os grandes ideais políticos, estéticos, científicos, literários, que dão um sentido à vida, porque se os grandes ideais desaparecem, desaparecem os grandes homens e as grandes mulheres e quem os pode representar.
TS Elliot já havia perguntado: “Onde está a Vida que perdemos no viver? Onde está a sabedoria que perdemos no conhecimento? Onde está o conhecimento que perdemos na informação?”
A Fama Que a Vida Traz
“A desvantagem da minha celebridade é que eu não posso ir a qualquer lugar do mundo sem ser reconhecido.” Stephen Hawking
Não seria possível falar de fama sem ir ao encontro de pessoas famosas que abriram o seu coração para falar dos riscos inerentes à sua profissão, da importância em manter o Ego sob controlo, em ter consciência de um mundo feito de amores e desamores, de críticas, algumas delas boas, mesmo sendo más, de comentários que devem ser apagados, de uma fronteira ténue entre o sonho e a realidade; sobre o cuidado a ter sobre as grandes ilusões. Foram unânimes em dizer que “tanto se pode estar lá em cima como lá em baixo”, a subida poderá ser proporcional à queda.
Às vezes os desafios estão do lado da vida profissional, outras do lado pessoal. Há a gestão da carreira a par da vida pessoal, as duas distintas, mas de alguma forma sempre expostas.
Simone de Oliveira nunca pensou ser “vedeta”. Diz ter nascido livre e “quem nasce livre, é livre de ego”. Recordando a frase de Charles Aznavour, Simone sabe que é o público quem escolhe, por isso aconselha; “um artista deve ter dignidade e humildade”.
Sobre a voz que representa, Simone traz consciência a este assunto, lembrando a sua difícil história de vida, mas de como ela não é mais que “muitas outras mulheres que no anonimato fizeram muito mais”.
Dona de uma franqueza inabalável, sabe que o público vai-lhe buscar “o desplante”, por gostar da verdade e das coisas ditas como elas são. E termina com: "Feliz Natal e Boas Festas para todos".
O fascínio e a facilidade com que o ego se pode tornar “maior do que nós, esse ego alimentado pode levar a sentimo-nos desejados”, alerta a atriz Claudia Vieira.
Claudia tem a consciência da visibilidade que tem, da responsabilidade dos seus atos, até porque sabe que pode ser alvo de críticas. Tem a noção que passa uma imagem de felicidade e é nos seus sorrisos que as pessoas se encontram. A sério, brinca com a ideia de que para ter os pés bem assentes no chão se descalça e põe literalmente os pés na terra para caminhar.
Com humor e boa disposição comenta sobre a grande competitividade no mercado, a inevitável comparação com o outro, em que o velho ditado mudou "hoje já não será a galinha da vizinha (…). Mas os likes da vizinha (…)"
Filha do escritor e sobrinha do médico, a atriz Paula Lobo Antunes conviveu em casa com a fama, talvez por esse motivo estaria atenta aos desígnios da fama. “O Ego está presente e deve ser domado como um cavalo”, diz sem problemas, admitindo a força animal do ego. Casada como ator Jorge Corrula, Paula relembra que ao princípio foi difícil criar aquela imagem do casal mediático para o público, descolada de quem eles realmente eram. Mas eu escolhi “ser igual ao final do dia, sentir-me real e verdadeira”, Paula entende a proximidade que as pessoas criam consigo e também o interesse que têm na sua vida, porque efetivamente quando há novelas, ela diz que está diariamente e por muito tempo em casa delas, o que +e interessante. Trouxe também o seu ponto de vista sobre o benefício das redes sociais e dos perfis para os quais os media perderam terreno, dando a possibilidade a cada pessoa ter mais controle sobre a divulgação dos seus conteúdos e da sua imagem, a partir da construção do próprio perfil.
O que leva refletir sobre este mecanismo; afinal a pessoa responsável pela criação da própria fama, não ficará à mercê dos desejos incontornáveis do seu próprio Ego?
Não vamos esquecer no mito de Narciso que se apaixonou pelo próprio reflexo e morreu à fome e sede junto do lago onde viu a sua imagem refletida. Cairmos no mito de Selfie, seria um erro.
A vida estará do lado de quem souber manter o equilíbrio, o seu lugar no mundo dos iguais, mesmo agindo de maneira diferente, descobrir quem é, o que pretende, qual o seu papel na vida, se é ele quem sonha, ou quer ser sonhado.

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