Por Rodrigo Belard
in REVISTA PROGREDIR | MAIO 2019
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Desenvolveu-se um conceito “new age”, de que se deve percorrer uma qualquer estrada rumo a um qualquer estado de perfecionismo e que para tal é imperial passar por processos, rituais e terapêuticas complexas/elaboradas que conduzam o ser humano a uma espécie de “ascensão” com vista a atingir uma subtil dimensão, aparentemente reservada aos mais iluminados.
Esse é o primeiro passo para o distanciamento do que realmente se apresenta como vital: o reencontro interior, com o centro, em plena união com a energia da natureza, do céu e da terra. Todos os desvarios esotérico-místicos a que se vai assistindo um pouco por todo a parte, apenas colocam o poder pessoal individual, tal como a sua carteira, na mão de terceiros. Menos torna-se mais. O simples é quase sempre o caminho para a plenitude possível na existência humana. Mas afinal o que é a alma, a conexão com a alma, o viver de acordo com a alma?
Existem incontáveis definições para “alma”; não me atrevo a elaborar uma. O que sei por experiência própria é que a conexão com a alma, com a consciência superior de cada um se faz através da ATENÇÃO e da INTENÇÃO. Estes são os dois importantes pressupostos para uma existência digna do nome, com sentido, com propósito, que conferem estrutura e auxiliam de forma impar na importantíssima capacidade de definir prioridades.
Quando se refere “atenção” aponta-se para o “estar presente”, aqui, agora, no momento. Tal passa por um processo muito simples mas ao mesmo tempo tão banalizado: a respiração. Através da respiração consciente, no dia-a-dia, adquire-se, nova presença, renovada consciência, mais “sentir” e maior quietude. A respiração, nomeadamente a abdominal desenvolvida no Tai Chi e no Chi Kung, conduz o ser humano ao centro da energia vital que os chineses denominam de “Dantian” (área do abdómen). A partir daí, o “Chi” (energia vital) flui para todo o organismo e mesmo para o seu exterior, conectando a pessoa de forma efectiva com a energia Yang do céu e a energia Yin da terra. Tal ocasiona mudança/transformação, apenas possível existindo uma verdadeira “intenção”. Através da atenção tomam-se opções mais válidas e assertivas, evita-se “ruído” através da acção do filtro da consciência valorizando o que é essencial, deixando ir o que traz peso; desenvolvendo-se gradual e gradativamente discernimento efetivo de quando falar e como falar ou de quando permanecer calado.
A maior parte da população humana vive em “piloto automático”, de forma reativa, baseada em padrões caducos aos quais persiste em se apegar com vista a permanecer numa espécie de falsa “zona de conforto”. Porquê? Simples. Devido ao medo. Viver com atenção, é SER e estar desperta/o, em sintonia, em conexão. Esse é o primeiro pressuposto para uma ligação genuína e real à força de vida, à força cósmica comummente denominada de “Alma”.
Sem atenção não é possível estabelecer corretas prioridades. Como uma pirâmide invertida e assente pelo vértice, a vida torna-se desequilibrada, desestruturada, caótica, onde a auto-sabotagem vai aniquilando o ser humano (de forma mais ou menos consciente), assim como àqueles que o rodeiam. A atenção aponta também para uma forma de estar com base na gratidão: gratidão pelo que em tempos se foi, pelo que hoje se é, e pelo que o amanhã poderá trazer. Valorizar o que já se “possui”, é também vital. A gratidão é um dos enormes pressupostos para a abundância interior e exterior. Sem ela o ser humano viverá sob diferentes níveis de contínua e tortuosa frustração, com “duas palas” rumo ao abismo energético (físico, mental, emocional e espiritual). Lembre-se: onde está a sua atenção, está a sua energia.
O segundo passo foi já mencionado e inclui a “intenção”. A intenção é tudo aquilo que a/o move, o que está na base da existência de cada SER , o que faz a chama arder. Sem verdadeira intenção, os pensamentos, palavras e atos são vazios, desprovidos de cor, sabor e verdade. A vida perde o ritmo, a consciência o rumo. Vai-se o sentido, o propósito, vai-se a força motriz necessária a uma existência digna e valorosa. Intenção não se pauta por um emaranhado de moralismos, princípios, manias ou orientações. A intenção é SER. Quando realmente SOU em verdade, aí sim, tudo fica claro no que diz respeito ao “como deve ser feito”. Por exemplo, dar um abraço “mecânico”, não é com certeza o mesmo que dar um abraço com alma e intenção. Sente-se a diferença, inspira-se o aroma da leveza, saboreia-se o tempero do genuíno Amor incondicional.
Assim, atenção e intenção andam de mãos dadas, são interdependentes, completam-se, interligam-se e vivem de um para o outro. Despertam o que de melhor existe em cada um, se for sendo cultivada a coragem, persistência, resiliência, vontade, paciência e sabedoria para ouvir e sentir o pulsar dessas duas virtudes, desses dois pilares que a alma desde sempre plantou nos nossos corações.
INSTRUTOR DE TAI CHI & CHI KUNG
FORMADOR E TERAPEUTA
www.rodrigobelard.com
in REVISTA PROGREDIR | MAIO 2019
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