Por Sofia Agapito
in REVISTA PROGREDIR | ABRIL 2013
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“Jogar” e “deformar”, a ilusão é uma deformação de uma perceção real. A ilusão não é mais do que uma falta de correspondência entre a sensação, o objeto que se percebe, e o juízo.
E desta forma, a ilusão existe em vários aspetos na nossa vida. Onde existe realidade, existe ilusão. Quando olhamos a janela de um comboio em andamento, vemos as árvores a deslocarem-se e nós parecemos imóveis, quando a realidade é exatamente contrária, as árvores estão paradas e nós em movimento (ilusão de movimento). O objeto imóvel parece mover-se.
Esta ilusão em nada transtorna o nosso quotidiano, na verdade esta realidade é isso mesmo, uma ilusão, mas uma ilusão percebida. Quando formulamos um juízo sabemos que somos nós que nos deslocamos e que as árvores estão paradas. Já dizia Kant, que a ilusão é um jogo que persiste mesmo quando se sabe que o objeto pressuposto não é real.
Vista desta forma, a ilusão não é nada perigosa, ela não é a realidade, também não altera a realidade, não inibe a realidade de existir, e permite à perceção compreender que ela é ilusão e não realidade.
A ilusão faz parte da vida, do jogo, dos sentimentos, dos pensamentos, das perceções, da vontade. Somos realidade e somos ilusão. Qualquer coisa só é falível, se houver qualquer coisa que não o for.
A ilusão não pertence à realidade e aos sentidos, mas ao juízo feito sobre os dados dos sentidos. Por isso, temos perceção dos vocábulos em forma correta, ainda que as letras estejam invertidas.
O “mundo da aparência” é o mundo da ilusão. Diria Platão. Mas muitas vezes este mundo da ilusão, reflete-se nos relacionamentos, não só na relação de objetos, mas de pessoas, e acabamos também por não ver a realidade, mas sim uma imagem distorcida dela.
Mas por vezes é necessário partir de falsas claridades, partir não do real, do verdadeiro, do certo… mas sim da ilusão, da incerteza, das confusões.
Viver os prazeres, as fantasias, que nos trazem as ilusões, viver a dor de alguns momentos onde apenas estamos a ver uma realidade distorcida, é um ponto essencial para recolhermos, para compreendermos a realidade dentro e fora de nós.
O acordar da ilusão dá-nos a dimensão de refletir, de tomar consciência, e este é um processo de acordar…
O homem interroga-se sobre a sua própria realidade, o seu eu verdadeiro, a verdade da sua vida. A aceitação da premissa: “eu estou a iludir-me”, “eu vivo ilusões”, acorda-nos para nós mesmos e para o real. Desta forma, penso que a ilusão, a confusão do real, longe de constituir uma desvantagem para o homem, está muito pelo contrário ligada ao seu desenvolvimento.
Ainda ninguém conseguiu criar um método, ou um barómetro para medir o estado de ilusão, ou a profundidade da ilusão envolvida, ainda não se criou uma máquina que nos retire rapidamente desse estado de distorção, seriam mecanismos fáceis de acionar. A grande dificuldade nesta distorção, é muitas vezes ter consciência dela, sobretudo em questões emocionais.
Mas pelo menos, podemos perceber que não controlamos tudo, que lidamos por vezes com realidades distorcidas, incertezas… Que tudo o que vemos, ouvimos e sentimos, pode estar longe da verdadeira realidade.
Propomos-vos um jogo, um jogo para desafiar essa dualidade de realidade/ilusão que são as nossas vidas. Fechem os olhos, descontraiam todo o vosso corpo, dos pés até à cabeça, sintam o conforto do silêncio e de estarem em conexão convosco mesmos. Abram o vosso coração, e acedam à vossa sabedoria interior. Questionem-se: será que vivo na realidade ou na ilusão? Será que o meu momento presente é apenas ilusão, será que é apenas real? Que níveis de felicidade sinto quando estou iludido? Que níveis de felicidade sinto quando aceito a minha realidade? Será que estou iludido em relação às pessoas que estão à minha volta?
Perguntem tudo aquilo que precisarem para se sentirem seguros, as respostas estão lá todas, escutem… não, não é ilusão! é a vossa verdade a falar-vos e ela não joga convosco. Bom caminho, carregado de ilusões, e de realidades maravilhosas…