Por Tânia Patinha
in REVISTA PROGREDIR | DEZEMBRO 2014
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
No entanto, a partilha não se restringe aos bens, mas também toca no mundo dos afetos, sendo que, assim, não implica apenas o ato de dividir (no caso de bens) mas sim a partilha como ato de multiplicação, no caso da expressão do dar e receber.
E muitas foram as teorias que se debruçaram sobre este tema e qual a sua importância na nossa sociedade.
Por exemplo, as teorias economicistas recorrem com frequência ao jogo do ultimato para analisar este conceito. Sendo assim, imagine o seguinte cenário: um desconhecido oferece-lhe 200 euros, mas com duas regras: terá que repartir este dinheiro com uma pessoa desconhecida (que também conhece as regras do jogo), decidindo como fará essa divisão; se a outra pessoa aceitar o dinheiro, então ele será repartido, se rejeitar esse dinheiro, então nenhum dos dois recebe nada. As regras são restritas. Você e a outra pessoa estão em salas diferentes e não poderão comunicar e cabe-lhe a si fazer a proposta.
Quanto estaria você disposto a partilhar?
E propomos-lhe ainda fazermos o jogo ao contrário: ponha-se no lugar da outra pessoa, mantendo a regra de que pode aceitar ou rejeitar. Se lhe oferecessem apenas 20 euros (10% do total), aceitaria e deixaria que a outra pessoa levasse os 180 euros com ela? E se a oferta fosse apenas de 1 euro? O que faria?
Os estudos mostram que dois terços das ofertas andam entre os 40% e os 50%. Somente 4 em cada 100 pessoas oferecem menos de 20%, o que sugere um bom nível de partilha, sendo que este comportamento nos leva a uma questão importante sobre a conduta social: será que a partilha tem realmente lugar na evolução humana ou é algo em que alguns de nós gostam de acreditar?
E é inevitável que a sociabilidade humana é um facto que decorre da experiência comum, de comunhão e partilha entre os seus membros. A própria condição do humano no que respeita ao seu desenvolvimento cerebral faz dele um ser naturalmente social (ser-para-outro) e nascido para a convivência e para a partilha, não se satisfazendo nem evoluindo na solidão. A própria evolução do neo córtex (o cérebro social) encontra-se estritamente dependente da estimulação relacional.
Assim, as teorias evolucionistas mostram que ao longo da evolução de milhares de anos de vida em estruturas sociais, a necessidade de partilha e de cooperação se tornaram uma necessidade básica. Estes valores aumentam a sustentabilidade de qualquer sociedade.
As teorias economicistas encontraram até uma designação – o Homo Reciprocans – (Bowles), definindo os humanos como seres cooperantes, que se motivam em interagir em partilha e cooperação (aumentando a sustentabilidade social e económica) vs. Homo Economicus, que afirma a teoria contrária, a de que os humanos são exclusivamente motivados pelo interesse pessoal e por maximizar o seu proveito pessoal.
E a influência que temos uns nos outros é muito maior do que aquilo que imaginamos. Muitos estudos na área da Psicologia mostram que nos contagiamos emocionalmente uns aos outros, muitas vezes até sem repararmos nisso, através da partilha. Há células no nosso corpo – os chamados neurónios – espelho – que reagem ao ver as ações de outras pessoas, ativando as mesmas áreas no nosso cérebro, o que aumenta a propensão para tal comportamento, como se, biologicamente, estivéssemos programados para a partilha. Logo, quanto mais partilhamos, mais probabilidades temos que aconteça o mesmo à nossa volta.
Nas células, nas plantas, nos humanos, nos animais e até nos programas informáticos encontramos todo o tipo de estratégias de partilha e cooperação. E, vejamos o expoente máximo da partilha mundial – a internet, a rede de partilha, permitindo, em muitos casos, o fortalecimento do vínculo interpessoal ou comunitário.
Aqui, a partilha tem um efeito de multiplicação vs dividir. E, segundo as teorias da Psicologia Positiva, gera um estado de ânimo positivo que reverte diretamente para os nossos níveis de felicidade, sendo um verdadeiro presente para quem recebe e também para quem o oferece.
TÂNIA PATINHA FORMADORA DE CURSOS DE DESENVOLVIMENTO PESSOAL PSICOTERAPEUTA E LUDOTERAPEUTA CENTRO CLÍNICO INDUMED www.indumed.pt [email protected] in REVISTA PROGREDIR | DEZEMBRO 2014 (clique no link acima para ler o artigo na Revista) |