Por Carlos Lourenço Fernandes
in REVISTA PROGREDIR | NOVEMBRO 2012
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Iniciar o avanço para um ambiente de jardim-de-infância traduz-se em desafio que opõe a normalidade protetora da casa ao confronto com a diversidade de ambiente onde somos apenas mais um. Ou iniciar o percurso da escola onde, em progresso e vencendo vicissitudes de toda a natureza, podemos vir a obter competências de apetrechamento à caminhada, em cooperação e competição, da vida. Aceitar um convite para gestor de uma empresa é sempre iniciar mudança de contexto e assegurar prestação reconhecida (ou, em alternativa, o fracasso no desafio).
Mas, reconheçamo-lo um desafio não é aventura frequente no sentido de, por dá cá aquela palha, saltitar de aventura em aventura. Desafio ou atitude desafiante, que pressupõe persistência, resistência e capacidade de durar, não é aventureirismo. Desafio ou coragem não é aventura frequente ou temeridade. Coragem é virtude. Temeridade saltitante não é virtude. Será outra coisa. O desafio obriga à compreensão alargada do quadro desafiante, obriga á inteligência prospetiva, à cenarização provável, ao trabalho árduo que garanta um sucesso provável. Desafio compreende a gestão de riscos, da incerteza, a monitorização/avaliação dos resultados no percurso. Aventura é coisa distinta. Será leviandade ou ligeireza na perceção de riscos e a desconsideração pela avaliação da experiência vivenciada dos resultados observados noutras aventuras.
O valor do trabalho, da observação continuada, da preparação cuidada e prudente, da verificação atempada das condições objetivas na diminuição de riscos ou danos no desafio de uma travessia atlântica à vela ou da participação no Rally Dakar não é compaginável com a aventura desmedida, sem avaliação ou tarefa dura, configurando o laxismo (ou o deixa andar, logo se vê) como traço apetecível (e alucinatório) do aventureiro. Nas relações – das mais íntimas e emocionalmente mais complexas às de caráter profissional – o desafio (ou desafios) é matéria distinta da aventura (ou aventuras). A aventura é acontecimento de desfecho incerto. Desafio é acontecimento ou sucessão de acontecimentos que obriga (obrigam) a sólida preparação sob pena de se transformar em aventura. Desafio não é iniciativa imponderada. Aventura é qualquer coisa levianamente prosseguida onde, justamente, o resultado não é, de nenhum modo, previsível. Será, o que for. E, regra geral, o resultado é inútil, perigoso, de danos incontornáveis e irreversíveis. Isto é, foi-se. A aventura – justificação do aventureiro – teve pouca sorte. O desafio – produto de árduo labor – teve mérito.
O país, a empresa, a família, o individuo estão, quase sempre, sob a necessidade de vencer e progredir em ambiente de desafio. Ou seja, sob a necessidade de persistir em labor, em ordem, em prespetiva desenhada, em esforço continuado, em atenção permanente e onde o lazer também se obriga à programação, à consideração útil, à afirmação da probabilidade de ocorrência de prazer continuado. O país (o Estado) obriga-se à persistência de rigor no cumprimento escrupuloso de funções requeridas (segurança, saúde, educação, justiça); a família obriga-se ao zelo para que seja possível o avanço das competências de todos e de equilíbrios emocionais e funcionais. A empresa obriga-se ao rigor da valorização dos capitais investidos (em capital, trabalho e informação), obriga-se à satisfação de acionistas e ao progresso no mercado. O indivíduo obriga-se à atenção permanente às suas capacitações, competências, e inteligência emocional.
Professor, Escritor, Conferencista
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REVISTA PROGREDIR | NOVEMBRO 2012