in REVISTA PROGREDIR | NOVEMBRO 2017
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O dinheiro em si, é apenas um meio para facilitar a troca de bens e serviços, mas com o evoluir das sociedades, passou a estar no centro das nossas vidas. Já Shakespeare procurava acordar a sociedade com a sua famosa pergunta Ser ou não Ser eis a questão, mas a resposta foi um caminhar noutra direção, para uma realidade cada vez mais focada no Ter e daí a questão passou a ser, Ter ou não Ter eis a questão.
Mas o apego propriamente dito surge de uma forma inconsciente em nós. Para uns, a escassez de dinheiro pode implicar uma relação de maior apego (a ideia de ter mais) causado pelos sentimentos de privação, enquanto que para outros, vem de uma relação doentia causada por pensamentos inseguros, sempre com uma sensação de nunca se ter dinheiro suficiente.
Por outro lado, com a informação na ponta da mão, veio também a invasão da privacidade, o que nos tornou alvos fáceis a toda uma série de interesses económicos e financeiros. Rodeados de tanta informação, criamos inocentemente novas representações do que é afinal necessário para se ser feliz, bem sucedido, realizado. Um bom trabalho, um bom carro, uma boa casa, um bom computador, um bom telefone, é este sem fim de boas “coisas” que no final vai fazer-nos sentir mais preenchidos, menos “vazios”. Será?
Do Oriente chegam-nos orientações muito diferentes, que apontam para um desapego dos bens materiais, um desapego financeiro. Esse mesmo desapego parece estar em ascensão nalgumas sociedades Ocidentais, principalmente em jovens adultos que de certa forma já alcançaram muitas das metas referidas acima e que vêm no dinheiro uma prisão mental.
Voltando à reeditada dúvida Shakespeariana, o que será mais importante, Ser ou Ter? E qual o papel do desapego nesta questão existencial?
Importa primeiro desconstruir o paradigma para simplificar o que por vezes parece complicado.
O desapego é antes de mais nada uma ação, um movimento. Contrariamente ao apego, o desapego move-se e pratica-se numa direção oposta. O desapego pode implicar um afastar, um deixar ir. Esse deixar ir pode ser parcial e/ou temporário como pode ser permanente.
O Ter por sua vez é um movimento inconsciente assente num impulso de uma pessoa se vir a tornar melhor adquirindo bens. Ainda não o é, mas essa nova aquisição irá definitivamente torná-la melhor. O Ter tem tudo a ver com dinheiro e o Apego financeiro.
O Ser é aqui a única constante, permanente e estável, que não implica nada senão apenas o existir. O Ser é algo inato e não precisa ser alimentado, cultivado ou valorizado.
Penso que a maior parte da humanidade se encontra na fase do Ter sobreposto ao Ser, e como o Ter, é um movimento inconsciente e infinito, o resultado conduz o Homem a um precipício, a um conflito interior sem fim. A introdução de um movimento contrário torna-se imprescindível para ajudar o Homem a encontrar uma saída: Ser + Ter + Desapego = ?
Esse movimento contrário, O Desapego, assume um papel fundamental, que desperta uma nova consciência, necessária à evolução do Homem. A equação toma então a forma: Ser + Ter + Desapego = Ser
A resposta ao paradigma da Vida aponta para uma inteligência inata, que em determinados momentos de inconsciência (fase do Ter onde ocorre um afastamento, uma desconexão do Ser), permite o Homem regressar a “casa”, à sua própria essência, livre de conflito. Essa inteligência autónoma, sempre presente, é como um GPS interno, dando instruções constantes e escolhendo o movimento adequado a cada situação. O dinheiro e o apego financeiro são apenas uma distração ao movimento natural do Ser. Isto não significa que o dinheiro não tenha a sua importância, mas é no desapego que vamos naturalmente encontrar a tranquilidade, a clareza, ingredientes necessários para uma mente sem preocupações. Ficamos assim mais livres, livres para Ser.
Um exemplo disso é a história que se segue:
“Oferecem-lhe um trabalho num casino e a fim de encorajar outras pessoas a jogar, recebe 500 Euros por noite para apostar com o dinheiro da casa. Você receberá 50,000 Euros em fichas no início da noite e no final só vai sair com 500 Euros no bolso. Como se sentiria?
As possibilidades são, se pudesses quadruplicar o teu dinheiro, ficarias entusiasmado no momento, mas no final da noite depois de devolver as fichas, esquecerias tudo. Da mesma forma, se perdesses tudo, provavelmente ficarias desapontado, até que te lembrasses de que era apenas um jogo e a recompensa real já estava no teu bolso. Agora, dá um passo adiante e imagina como seria jogar o jogo do dinheiro sabendo que tudo o que realmente conta - o bem-estar, felicidade, amor e auto-estima - já são teus? Afinal, nascemos com eles, e o único que os pode tirar de ti mesmo é apenas um pensamento. Não há nada verdadeiro e duradouro que possas obter no jogo do dinheiro que já não tinhas antes de começar a jogar e que não continuará teu depois do fim do jogo.
Estamos todos sempre a jogar com o “dinheiro da casa”, não há nada de real em jogo e consequentemente, podemos jogar sem medo e com uma sensação de facilidade e diversão.”
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