in REVISTA PROGREDIR | OUTUBRO 2015
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Mas primeiro de tudo, vamos analisar o significado desta palavra. “Sonhar” deriva do latim, somnium (sonho), que de acordo com o Dicionário Michaelis significa: “1 Representação na nossa mente de alguma coisa ou fato, enquanto dormimos. 2 Coisa imaginada, mas sem existência real no mundo dos sentidos.” Esta definição é um bom ponto de partida para refletirmos sobre os diferentes tipos de sonhos e formas de sonhar. Como sabemos, tanto é possível sonhar a dormir como sonhar acordado. A maior diferença entre ambos é que enquanto os primeiros são imagens simbólicas com origem no nosso insconsciente/subconsciente, os segundos são fruto de uma vontade consciente que quer ganhar existência no mundo dos sentidos.
Os sonhos que temos quando dormimos são geralmente confusos e inconclusivos, sendo constituídos por representações simbólicas que refletem medos ou desejos do nosso inconsciente pessoal - ou por vezes, diria Carl Jung, do insconsciente coletivo -, mas quase sempre algo de suficientemente relevante para nos pertubar e surgir representado simbolicamente nos nossos sonhos.
Enquanto os sonhos que temos quando dormimos podem ser desagradáveis ou maus, os sonhos conscientes são sempre bons, pois são fruto da nossa vontade e do nosso desejo de concretizar ou conseguir algo que julgamos ser bom para nós. Os nossos sonhos podem até, em útima análise, não ser bons para nós – e esse é todo um outro assunto -, contudo são algo que projectamos no futuro e que acreditamos ter sempre como resultado a alegria e como fim a felicidade.
Uma das características mais belas dos sonhos é que estamos sempre dispostos a lutar e a esforçar-nos para os concretizar. Se não estivermos, é bem provável que eles não se concretizem, pois esperar que os nossos sonhos se realizem não é bem o mesmo que esperar que um milagre aconteça, apesar de alguns sonhos parecerem tão difíceis de acontecer quanto milagres. Outra das características mais belas de sonhar, é a capacidade de acreditar que algo pode acontecer por vezes contra todas as probabilidades. Isso acontece porque os sonhos não têm origem na racionalidade, mas vêm de um nível muito mais profundo, que nem sempre conseguimos explicar.
Neste sentido, existe um certo paradoxo no ato de sonhar (acordado): ao mesmo tempo que os sonhos são perfeitamente conscientes, nem sempre conseguimos explicá-los ou ao porquê de desejarmos que se concretizem, pois a sua origem é misteriosa e profunda, e está provavelmente relacionada com algo que foi dito anteriormente, que é o nosso propósito de vida. Quando acalentamos um sonho, é como se algo no nosso subsconsciente falasse connosco através da nossa intuição, qual facho de luz que alumia o nosso caminho, dando-nos uma vontade e uma determinação tremendas em segui-lo mesmo sem explicação e contra todas as probabilidades racionais, pois sabe que essa experiência é necessária.
De facto, os sonhos que almejamos concretizar têm muitas vezes o poder de nos dar ânimo e força para lutar em situações adversas - e algo com esse poder tem de dizer muito sobre nós. É também por isso que, quando partilhamos os nossos sonhos com alguém, o fazemos geralmente de forma cuidada e com alguma contenção, escolhendo cuidadosamente as palavras e a pessoa que testemunha a expressão do nosso desejo. E o motivo pelo qual o fazemos é porque os nossos sonhos são indubitavelmente algo de muito íntimo que, ao dizer muito sobre nós, expõe a nossa intimidade perante os outros. E temos sempre o receio de parecermos ridículos aos olhos dos outros.
Se tivermos o sonho de escrever um livro e vê-lo publicado, por exemplo, é provável que o contemos a poucas pessoas. Sabemos que se o contássemos a alguém e víssemos no seu semblante uma aura de incredulidade, como se tivéssemos a ser pouco realistas, ou pior ainda, como se duvidasse da nossa capacidade, isso poderia fazer-nos duvidar de nós próprios. Assim, por uma questão de auto-preservação, somos geralmente contidos na exteriorização dos nossos sonhos, a não ser quando a nossa segurança nas nossas capacidades e/ou a nossa vontade de realizá-los nos acompanha há muito tempo, sendo de alguma forma esperada pelos que nos conhecem.
A não ser que as circunstâncias da vida alterem a nossa vontade de ver concretizado determinado sonho, é triste e potencialmente danoso desistir do que sonhamos. Se não acreditarmos em nós próprios e na nossa capacidade de alterar a nossa vida, mudando-a para melhor, é como se nos esquecêssemos do mais importante: acreditar num sonho é acreditar em nós próprios.
“Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso” (Fernando Pessoa, Livro do Desassossego).
CRIADORA DE CONTEÚDOS DE ÂMBITO CULTURAL E AUTORA DE PUBLICAÇÕES
SOBRE AUTO-CONHECIMENTO, ESPIRITUALIDADE E RUNAS
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