Por Carlos Lourenço Fernandes
in REVISTA PROGREDIR | SETEMBRO 2013
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Desde quando se reflete e escreve sobre educação? O seu conteúdo é, no entanto, moral e prático em todos os povos. Entre os Gregos, uma das nossas proximidades culturais e fundacionais, traduzia-se em honrar os deuses, honrar pai e mãe, respeitar os estrangeiros, afirma-se em conjunto de preceitos sobre a moralidade externa e em regras e prudência para a vida, transmitidas oralmente pelos séculos afora: entre nós também é assim. Transmissão oral e construção escrita, complexidade crescente e duradoura.
À comunicação de conhecimentos e aptidões profissionais, na medida em que são transmissíveis, os Gregos chamaram techne. Estes preceitos elementares do procedimento correto para com deuses, pais e estranhos foram mais tarde incorporados à lei escrita dos Estados gregos, não se distinguindo entre moral e o direito. E, através da poesia, o tesouro extenso da sabedoria popular, e, ainda, as regras de conduta e preceitos de prudência inseridos em superstições populares, é traduzido e dado a conhecer. A oralidade e os poetas. A Nobreza, a Sensibilidade, a Educação. As regras das ar tese ofícios resistiam à divulgação, à exposição escrita dos seus segredos, como é esclarecido, no que se refere, por exemplo, à profissão médica, nos escritos hipocráticos.
Da Educação, neste preciso sentido, distingue-se da formação do Homem dirigida à criação de um tipo ideal intimamente coerente e claramente definido. A formação obriga à oferta ao espírito do homem de uma imagem de como ele deve ser. Ou tal como deve ser. A utilidade é indiferente ou, no mínimo, não é essencial. Fundamental é a beleza, no sentido normativo da imagem desejada, do ideal. Educação e formação têm sentidos historicamente distintos. A formação manifesta-se na forma integral do Homem, na sua conduta e comportamento exterior, e, na sua atitude interior. Conduta e atitude interior são produtos de uma disciplina consciente. Não nascem do acaso. Corresponde a quadro de valores assentes na consciência e identidade de ser correto, adequado ao respeito por si próprio e pelos outros. Ao princípio dirigia-se à Nobreza.
Esforços múltiplos e seculares, sofrimento e dor, tornaram extensivos ao maior número o acesso á formação. E, compaginável, à Educação. Adquire sentido de bem universal e em norma para toda a gente.
As bruscas mudanças que, ao longo dos tempos, reconfiguraram sociedades dão lugar, pela natureza das coisas, da vida, da realidade dinâmica, a nova dirigência que, constituindose em “nova aristocracia” promove formação e educação (adaptada às exigências da nova série de ‘longo’ tempo) e, sempre, em amplo movimento de universalidade. A nobreza (leia-se, as elites, a elite) é a fonte do processo espiritual pelo qual nasce e se desenvolve uma nação. A antiga tradição escrita releva uma cultura aristocrática que se eleva acima do povo (da ampla maioria) e, qualquer que seja a investigação histórica não pode renunciar a este ponto de par tida. O conhecimento do passado, da história, é condição de sucesso da variabilidade da mudança que reconfigura o futuro. E, em qualquer caso, uma construção sólida não pode renunciar à tradição a conta da ‘novidade’. Um gesto, um comportamento, um sistema ou quadro de atitude, relevam sobre a tradição se demonstrar melhor adequação à formação e educação do Homem (e do modo social). Há quem, inteligentemente, ‘espera para ver ’, mas a inteligência revela-se quando ‘tendo visto’ , muda e progride.
A permanente abertura ao novo, ao impulso da mudança, é uma atitude útil, justa, dirigida a melhor humanidade, à aproximação integral do Homem.
A inteligência na observação, na sujeição a teste, à experiência sobre o novo, é o vértice do Homem aberto à Mudança mas respeitador da Tradição (cujos resultados são conhecidos e provados). A escolha entre mudar ou manter é um exercício permanente de inteligência convocada.
Por isso, a atitude de nobreza (elite e exigência) é fonte de Formação, Educação e progresso.
PROFESSOR, ESCRITOR, CONFERENCISTA
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in REVISTA PROGREDIR | SETEMBRO 2013