Por Carlos Fernandes
in REVISTA PROGREDIR | AGOSTO 2012
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Por mudança tranquila compreende-se a mudança atrativa, a mudança que atrai de forma duradoura consensos em torno do movimento de melhoria sistemática, a solidez, persistência e serenidade na mudança. Que atrai e permite a verificação de tendência de atratividade de uma economia, de um ambiente institucional, de um modo de ser. Nada a ver com formas subtis de compor ‘mudança’ que legitima e desenha a permanência de vícios instalados em desfavor da tendência virtuosa. Mudança tranquila, aquela que supõe um ciclo de virtude, de valor acrescido, de melhorias sentidas no quotidiano do relacionamento, do saber e do bem-estar, certos ainda que esta mudança apela, em simultâneo, à cooperação sincera com os outros.
A conservação – a militância em favor da manutenção das coisas como estão – usa inteligências e processos múltiplos dirigidos à interiorização, de forma subtil, da resistência à mudança, consolidando os paradigmas interiores, querendo fazer notar que as mudanças exteriores são coisa ligeira e de retorno plausível. A atitude conservadora procura formatos estáticos, de dinâmica aparente. E, acrescente-se, formatos que tendem a legitimar-se, porque se as coisas, de forma aparente, estão bem assim, porque mudar? A comodidade de poucos que paira sobre as dificuldades de amplos sectores na sociedade assegura-se evitando, contrariando, a mudança robusta e substancial. Em nós, a comodidade da conservação – não mudar - afirma-se, normalmente, em desfavor do outro ou dos outros que connosco se relacionam. A mudança tranquila (a que assegura significados estruturais compreendidos) não tem a ver com o conservadorismo sedutor (e bem feitor). O universo não é absolutamente um universo de paz e harmonia. É tensão conflitiva pela mudança. As pessoas mudam – para melhor – em conflito harmonioso, o conflito respeitador da diferença. Mas tensão conflitiva, desde que útil à mudança tranquila, à mudança que se tempera e alimenta de progresso relacional, de progresso pessoal.
Os portugueses necessitam de mudança. Prova-o, demonstra-o o quotidiano (lento e resignado) vivenciado nos ambientes percorridos. Mudança que deve visar a construção progressiva de um ambiente favorável a uma economia dinâmica, favorável a uma economia de concorrência, favorável a procuras pessoais de competências progressivas, de qualificação firme, de ganhos de inteligência nas relações. Afinal, os portugueses, suportados numa economia de interesses instalados no Estado obrigam-se a avanços dirigidos a uma matriz cultural favorável à economia de iniciativas. A mudança tranquila suporta-se em cultura favorável a atitude e comportamentos de avanço e progresso.
Mas, dificuldade maior, como mudar – em Mudança Tranquila - se fomos educados nos paradigmas do passado que, justamente, convocam a atitude de resistência à mudança?
Professor, Escritor, Conferencista
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REVISTA PROGREDIR | AGOSTO 2012