in REVISTA PROGREDIR | JUNHO 2015
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Um trabalho com a criança interior implica olharmos para essas memórias do passado e, com a sabedoria do adulto, tentarmos modificar a marca que elas nos deixaram. Ninguém pode mudar o passado, mas todos podemos alterar o impacto que ele tem agora nas nossas vidas. Como o fazemos? Há alguns passos que podem ajudar nessa escolha de fazer as pazes com a criança interior.
Encarar a dor
Para conseguirmos resolver o que nos incomoda, precisamos de tomar consciência do que ainda nos magoa. Fingir que nada aconteceu ou ignorar que dói só aumenta a ferida e leva a mais sofrimento. Por isso, o primeiro passo é fazer um levantamento das memórias de criança que ainda estão por resolver. Não é necessário voltar a entrar na dor e forçar o reviver das memórias. Podemos visualizá-las a passar numa tela, como se de um filme se tratasse (e, afinal, trata-se de parte do filme da nossa vida).
Questionar a situação
A forma como a criança viveu a situação pode ter sido a sua realidade, mas pode não corresponder à realidade do outro que a causou. Por exemplo, se ainda me sinto magoado com algo que os meus pais me disseram, não significa que eles tenham tido a intenção de me magoar. Se conseguir falar sobre esse episódio, posso descobrir que, afinal, sofri com algo que nem eles próprios se aperceberam. Noutras situações em que não há dúvida da ação do outro, posso-me questionar sobre os pensamentos negativos que tenho a meu respeito. “Causei a situação”, “Fui má pessoa”, “A culpa foi minha”, “Eu merecia”. Será verdade? Ou são formas que a minha mente encontrou de me castigar e fazer sofrer por vergonha e/ou medo?
Resgatar a dor da criança
Imagine-se com uma criança à sua frente (seja filho, sobrinho ou outro familiar), que chora, se sente desprotegida e pede ajuda. O que fará perante uma situação destas? Afasta a criança e diz-lhe para parar ou abraça-a, pergunta-lhe o que se passou e consola-a? “Claro que abraço a criança!”, estará agora a pensar. E se essa criança for a sua criança interior? Passamos anos e anos a ignorá-la e ela só quer ser acarinhada e ouvida como os nossos filhos ou os filhos dos nossos familiares e amigos. Valide a dor da sua criança interior, deixe-a desabafar e acarinhe-a. Uma boa forma de o fazer é pegar numa fotografia de infância, olhar para os olhos da criança (a sua) e começar um diálogo com ela.
Aceitar e perdoar
A aceitação e o perdão são, porventura, dos gestos mais difíceis de conseguir. Às vezes parece que estamos em luta constante para apagar as memórias do passado. É-nos difícil perceber que o passado só nos deixará de atormentar quando o conseguirmos aceitar (foi o que foi, não o podemos mudar). Com a aceitação vem a capacidade de perdoar aqueles que nos magoaram, mas sobretudo a nós próprios por não termos conseguido fazer melhor e por não termos conseguido evitar o que nos aconteceu (muitas vezes, esta é uma das grandes culpas da criança). Eu aceito, eu perdoo-me e, por isso, eu liberto-me do peso que esta memória tem tido sobre mim.
Dar voz à criança interior
Podemos já ser adultos, mas vamos carregar sempre connosco a nossa criança interior. Por isso, não adianta fingirmos que ela não existe. Ambos (criança e adulto) devem desenvolver uma relação saudável e equilibrada. Tem saudades daquelas séries infantis que via, de um doce que lhe compravam ou de andar de baloiço, por exemplo? Há alguma coisa da infância de que sinta saudades e que ainda possa fazer, comer, ler, etc.? Uma das maneiras eficazes de homenagear a criança é presenteá-la com uma dessas atividades. Como não a vai conseguir fazer desaparecer, é bom que a reconheça e consiga conviver com ela.
O trabalho da criança interior é um bonito reencontro com uma parte de Alma nossa que, por razões diversas, se pode ter perdido no tempo e está apenas à espera de ser resgatada e amada.
TERAPEUTA
www.caminhosdaalma.com
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in REVISTA PROGREDIR | JUNHO 2015
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