Por Cristina Leal
in REVISTA PROGREDIR | JUNHO 2012
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Quando quem amamos vai embora, principalmente se não é uma escolha nossa, o mundo parece desmoronar-se. Deixamos de acreditar em nós, questionamos o que fizemos de errado, sentimo-nos os últimos sobreviventes do planeta Terra e queremos a todo o custo saber, de preferência de uma forma racional, as razões óbvias, pelas quais aquela “maldição” surgiu no nosso caminho, e porque teima a vida em não ser generosa para connosco. O que nesta fase do processo não conseguimos ver é que a vida é sempre generosa, mesmo quando não parece sê-lo e há alturas onde perder é mesmo a única maneira de ajustar o que precisa de ser ajustado. Assim sendo, perder a esperança durante alguns períodos da vida é tão importante como saber mantê-la noutros.
Se observarmos a natureza e os seus ciclos, percebemos que tudo tem um tempo exato para acontecer. Tudo se relaciona com tudo, no entanto nada se quer “possuir” entre si. Já nós, apesar de sermos convidados a viver naturalmente o fluxo da vida em nós, somos peritos em querer possuir, em forçar as coisas, em nos agarrarmos ao que ilusoriamente nos dá segurança.
Por isso, usamos tantas vezes a expressão “ perdi quem amava e perdi a esperança de amar de novo ”.
Como podemos nós perder pessoas, se as pessoas não se perdem, nem se ganham, apenas se encontram quando têm algo para aprender uma com a outra e desencontram-se quando deixam de ter.
Porque temos nós esta estranha mania de permeabilizar o nosso futuro com as coisas menos boas que nos acontecem e acreditar que são “um para sempre” nas nossas vidas?
Observar a natureza é conhecer a nossa essência
A vida é cíclica e impermanente.
Perder a esperança de voltar a amar, após uma rutura, é natural.
Mais do que as mudanças que muitas vezes somos obrigados a fazer após as ruturas, é a transformação a que elas nos convidam realmente o mais importante. Essa transformação, do nosso “metal vil” (ego) em ouro
(nossa essência) é aquilo que os antigos chamavam de alquimia, que se acredita estar diretamente ligada a uma metáfora de mudança de consciência. Dividiam-na em quatro etapas distintas.
A primeira a que chamavam Nigredo (associada à Terra, fase escura, onde nada se consegue ver, onde o embate inicial é sentido, a fase mais dolorosa do processo), Albedo (associada à Água, momento de paragem, de não resistência, o choro e a tristeza são nossos aliados diários), Citredo (associada ao Ar, onde começamos a ver a experiência à distância e a sentir o quanto os nossos valores eram arcaicos) e finalmente o Rubedo (associado ao Fogo, onde nascemos integralmente para uma nova realidade interior e é este o fogo da esperança de voltar a acreditar, mas desta vez com menos ilusão, mais verdade, maturidade e lucidez).
Ao estarmos conscientes das etapas dos nossos processos, aquietamos a mente e escutamos a voz da Alma, pois confiamos na inteligência da vida, sabendo que quando estivermos preparados para um novo emprego, uma nova amizade, uma nova relação, a esperança surgirá nova, limpa, fresca, envolvida num novo e convidativo perfume.
E assim aprenderemos que ela é uma das condições mais primitivas da vida.
Afinal, ao dia segue-se sempre a noite e à noite o dia.
Sem dramas, sem apegos, sem se questionarem entre si.
Ter esperança é saber-se vivo.
Saber-se vivo é ousar viver.
E ousar viver é saber de cor que a esperança e a vida nem por um só momento se podem dissociar.
Autora do livro “Entre Nós”, terapeuta relacional e coordenadora de grupos de inter-ajuda.
[email protected]
http://entrenos-livro.blogspot.pt/
REVISTA PROGREDIR | JUNHO 2012