Por Cristina Marreiros da Cunha
in REVISTA PROGREDIR | MAIO 2014
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Dizem-nos as estatísticas sobre os casais que procuram terapia de casal, que muitos dos seus problemas começaram com o nascimento do primeiro filho. Seria pois de enterrar a cabeça na areia, como a avestruz, não olhar de frente para tudo o que se passa quando esperamos um filho.
Desejar a gravidez é o primeiro passo para que esta revolução chamada maternidade e paternidade se constitua como um processo tranquilo. Planeada ou não, recebida com maior ou menor surpresa, a partir do momento em que a mãe deseja ter o seu filho a alegria e a preocupação parecem querer dar as mãos.
Talvez a primeira aprendizagem a fazer, seja mesmo a de saber ouvir as preocupações para que nos possamos ocupar delas, perceber que receios escondem, tomar medidas sobre o que está ao nosso alcance fazer para que tudo corra o melhor possível, e saber conviver com essa “poeira” chamada ansiedade, pois o que não podemos controlar, não deve ensombrar a alegria da aventura.
A Gravidez, esses 9 meses que antecedem o grande dia, funcionam como o período de crise, que antecede a revolução. Um período fundamental, em que se visitam memórias, algumas vezes conflituosas, que podem vir acompanhadas de medo e angústia do que desconhecemos, mas também de dúvidas sobre as nossas capacidades, e sobre nós, quer enquanto pessoas complexas com partes menos claras e evidentes, quer enquanto mães e pais iminentes. Este é também um tempo de adaptação às transformações físicas e psicológicas, que possibilita a aprendizagem, a preparação, a antecipação de mudanças e que funciona como uma janela de oportunidade de integrar passado e futuro num presente saudável e luminoso.
A Gravidez pode ser um momento de grande desenvolvimento pessoal, que a natureza nos chama a fazer em acelerado. O Eu-filha/o vai agora passar a ser Eu-mãe ou Eu-pai. O Eu-cuidado - até há pouco tempo, melhor ou pior, cuidado por outros, muitas vezes não sabendo ainda cuidar de Si próprio do ponto de vista psicológico - vê-se agora com a nobre e grandiosa missão de passar a ser um Eu-cuidador. Esta mudança terá que estar, ela própria, grávida de aceitação dessa responsabilidade e do seu significado. Aproveitemos pois a gravidez, como mais um momento de desenvolvimento pessoal consciente, com vista a que a revolução seja recebida com tranquilidade.
Tal como irá agendar as suas idas ao médico, análises, ecografias, cuidar da alimentação, preparar-se para o par to e para receber o seu filho, também não hesite em pedir ajuda profissional, se a sua ansiedade for muito grande, ou se recear não estar à altura das transformações que se adivinham. Cuidar de si, e da sua família atual, é preparar o melhor ambiente para o seu filho que vai nascer.
É da relação entre mãe e pai que nasce um filho. Esta, por vezes “não verdade,” do ponto de vista sexual e reprodutivo, deveria sê-lo sempre do ponto de vista afetivo, pois são os pilares afetivos, as bases mais sólidas que os futuros pais podem construir para, e com, os seus filhos. Também nós somos frutos dos laços que os nossos pais estabeleceram connosco, estes laços afetam a forma como nos relacionamos com o nosso parceiro e como nos relacionamos com os nossos filhos. Esta descoberta nem sempre é pacífica e pode trazer alguma per turbação e até conflitos, aproveite este momento para resolvê-los e para comunicar mais com o seu par. A par tilha entre os futuros pais é fundamental para que ambos se descubram, naquilo que se deseja como sendo simultaneamente o aumento do conhecimento de si e do outro e o aumento dos laços afetivos entre ambos
É a solidez dos laços entre os pais e entre pais e filhos que perdura. Mesmo quando o casal acaba enquanto tal, não pode acabar enquanto pai e mãe do(s) filho(s) de ambos. Porque é a maternidade e paternidade uma revolução? Porque é uma grande transformação com mudanças sensíveis que alteram estrutura, relações e prioridades.
Estrutura - porque a família a 2, passará a ser uma família a 3, alterando assim a dinâmica vivida até ao momento e o ponto de equilíbrio.
Relações - porque as relações que eram em primeiro lugar com o próprio e com o par, passam, a ser relações que implicam um novo papel individual de Eu, enquanto mãe, e do Tu, também enquanto pai. Finalmente surge uma nova relação com o filho que até aqui fazia par te integrante da mãe e que, ao nascer, espelha-se como um ser individual que já não nos pertence, nem faz par te do nosso imaginário, é um ser concreto, real e de Direito Próprio.
Prioridades - precisamente porque o novo ser, mostra agora, não só a sua individualidade, como a sua dependência total, exigindo atenção e cuidados plenos, tornando-se o centro a partir do qual tudo se move e organiza.
Tudo isto, embora com 9 meses de preparação, se dá, de um momento para outro, ao primeiro choro do bebé. É de facto uma revolução. O nascimento dum filho marca o início duma nova fase para o casal, com novas organizações, novos pontos de equilíbrio e novos desafios. É o início da Maternidade e da Paternidade (Parentalidade), para o resto da nossa vida. Como dizia o poeta António Machado, o caminho faz-se caminhando… e quanto mais tranquilos nos sentirmos a percorrê-lo, mais as mudanças e transformações que escolhermos fazer e os desafios que se nos deparem, serão encaradas, protagonizadas e aceites com tranquilidade.
PSICÓLOGA, PSICOTERAPEUTA
PREPARADORA PARA O PARTO
www.espsial.com
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in REVISTA PROGREDIR | MAIO 2014
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