Por Andresa Salgueiro
in REVISTA PROGREDIR | MAIO 2012
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
E foi no momento da minha vida, em que tinha um presente aprisionado e um passado não resolvido, que resolvi afirmar que estava nas minhas mãos ter um futuro livre. Totalmente fluído, em que pudesse ser dona de mim... em que pudesse voar para a direção onde o meu coração me levasse.
Foi a 11 de dezembro do ano passado, que iniciei uma nova forma de vida: um projeto pessoal com a duração de 1 ano, 11 dias, 11 horas e 1 minuto, gastando apenas 1111€, fazendo trocas no que de resto necessitasse.
Troquei uma vida controlada por uma agenda com compromissos e eventos, por uma agenda livre e vazia que se vai preenchendo dia a dia consoante o gasóleo que abunda no meu carro, as boleias que troco ou a vontade que tenho. Troquei uma vida cheia de compras, necessidades “fingidas” e supérfluas, como roupa, bijuteria, maquilhagem por uma vida mais ecológica, verdadeira e genuína. Troquei uma alimentação de fast food, de almoços e jantares diários fora de casa, para comida caseira elaborada com as trocas das hortas que me chegam. Troquei centenas de canais de televisão por um perfil no facebook que traz magia e confiança a quem por lá passa. Troquei o ginásio com uma mensalidade fixa, por passeios ao ar livre com a minha cadela. Troquei dezenas de quilómetros de gasóleo gastos diariamente por aprender finalmente a andar de bicicleta. Troquei um emprego burocrático por um trabalho desafiante e motivador a trocar as voltas ao mundo. Troquei uma vida cinzenta sem sentido para uma vida azul com foco.
É isto a liberdade? Será que troquei uma vida “normal” por uma vida livre? Cada vez acredito mais que sim, pois cada dia sinto-me mais livre. Outro dia, li um artigo da internet, em que dizia que a Normose é uma nova “patologia”, que se manifesta quando um conjunto de normas, conceitos, valores, estereótipos, hábitos de pensar ou agir, é aprovado por consenso ou pela maioria em uma determinada sociedade, provocando sofrimento, doença e morte. Durante muito tempo, senti-me aprisionada e por isso sofria, ao “obrigar-me” a ser normal, dentro do tal conjunto de normas e conceitos que a nossa sociedade criou: ter um emprego estável, casar, ter filhos, ter uma casa, ter um carro, fazer férias pelo menos uma vez por ano, sair com os amigos à 6ª feira e ao sábado, estar com a família ao domingo, usar aquela marca de roupa para ser aceite num grupo, ou ter os quilos perfeitos para ser considerada bela... Eu tentei ser “normal”, mas nunca me senti “normal”. Sempre me senti presa por ter de ser “normal”, por tentar ser como a maioria da sociedade diz “o que é ser-se humano”. Para mim, na nossa sociedade ser-se normal é não ser-se humano. A meu ver, ser-se humano, é ser-se livre.
Segundo Agostinho da Silva, “As liberdades essenciais são três: liberdade de cultura, liberdade de organização social e liberdade económica.” Cá ando eu, dia a dia a desenvolver o meu espírito crítico e criativo, a ser uma boa cidadã na educação de um novo mundo, a libertar-me das preocupações materiais focalizando-me mais na liberdade do meu espírito do que do meu corpo.
O meu desafio pessoal, intitulado de Believe, iniciado com um grupo de trocas no facebook (Troco 1 hora) é a base para suprir as minhas necessidades materiais e diárias. Mensalmente são realizadas, no último domingo de cada mês, uma feira de trocas, que iniciadas em Lisboa, já chegaram também ao Porto, Coimbra, Setúbal e Faro e que servem cada vez mais, para além de fazer trocas, para fazer amigos e uma rede de vizinhança e apoio saudável às necessidades de um verdadeiro ser humano, como por exemplo, o amor. O meu blog (vivoatroca.blogspot.com) é o meu espaço de desabafos e pensamentos dia a dia, ao longo do meu desenvolvimento pessoal em transição. O site do meu projeto, ainda em desenvolvimento (www.believeinportugal.info), será o ponto de ligação dos projetos e organizações que atualmente já mudam o nosso país cinzento e depressivo, por um mundo risonho e azul.
Não é difícil trocar de vida! Difícil é tomar a decisão de se ser livre... o resto é apenas usufruir a liberdade do voo.
Eu troquei a minha vida e sou cada vez mais livre e você tem a coragem de a trocar?
Mentora do projecto Believe in Portugal
vivoatroca.blogspot.com
http://www.facebook.com/groups/troco1hora
www.believeinportugal.info
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REVISTA PROGREDIR | MAIO 2012