in REVISTA PROGREDIR | ABRIL 2024
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No entanto, a vida não é “preto e branco”, mas uma miríade de cores e tonalidades. As experiências cada vez mais imersivas de realidade virtual, com aplicações inclusive na área terapêutica, são um bom exemplo de como a fronteira entre realidade e ilusão nem sempre se encontra claramente definida.
Se atendermos a que a nossa perceção da realidade é sempre subjetiva, pois resulta de uma construção do cérebro que difere de pessoa para pessoa, e encontra-se restringida pelo conhecimento e capacidade de compreensão do ser humano, então, o limite entre ilusão e realidade ainda se torna mais ténue.
A ilusão não diz somente respeito a erros de perceção, fantasias e utopias. Somos seres com grande capacidade imaginativa, capazes de conceber na nossa mente ideias completamente fantasiosas ou com elevado potencial de virem a ser concretizadas.
Muitas coisas que, há algum tempo, eram consideradas mera ilusão, são hoje bem palpáveis. A imaginação, os sonhos e os ideais estão geralmente na base do processo criativo, seja este mais artístico ou mais prático, pois, a inspiração para criar algo de novo surge sobretudo do que a nossa mente projeta.
Na astrologia, Neptuno é o planeta associado aos processos de ilusão e desilusão. Por tal, simboliza, muitas vezes, confusão, engano, visão irrealista da vida, dificuldades em lidar com o mundo tangível e atitudes escapistas. E revela que estamos sujeitos a iludirmo-nos porque aspiramos alcançar algo de maravilhoso ou perfeito, como que guiados pela reminiscência de uma anterior unidade com o divino.
Numa sociedade excessivamente focada no plano concreto, a influência deste arquétipo planetário pode ser bastante perturbadora, mas navegar as águas de Neptuno permite abrir as portas da nossa perceção aos níveis superiores da consciência, transcender os limites da materialidade e religarmo-nos com a nossa dimensão espiritual.
As propostas representadas por Neptuno incluem aspetos como o alargamento da capacidade de perceção para além dos cinco sentidos físicos, o desenvolvimento da imaginação criativa, o despertar do amor universal e a comunhão com o Todo.
O modo como cada um percorre esse caminho pode ser muito diverso, mas passa sempre por experiências que ultrapassam o mero raciocínio lógico, que desafiam a fronteira entre a realidade e a ilusão e cuja validade só pode ser avaliada interiormente, através do sentimento.
Na mitologia romana, Neptuno é o deus dos oceanos. E contemplar o mar é uma experiência tipicamente neptuniana, que tende a proporcionar-nos sentimentos de humildade perante a imensidão da existência e de gratidão por fazermos parte do milagre da Vida.
A meditação e o contacto com a Natureza são comummente sugeridos como meios de nos sintonizarmos com a energia transpessoal de Neptuno. Podemos até questionar-nos se as imagens e pensamentos que nos surgem em estado meditativo constituem mensagens do nosso Eu Superior ou um misto de memória e imaginação (é bem provável que o façamos, se tivermos propensão para racionalizar tudo), mas o mais importante é aceitarmos que correspondem a algo que precisamos de escutar ou perceber nesse momento.
São muitas as experiências que nos permitem expandir a consciência para além das nossas fronteiras pessoais e das fronteiras do tempo linear. De cada vez que nos deixamos transportar por uma música, um livro, um filme, a contemplação de um objeto de arte ou uma paisagem, entramos numa outra dimensão da realidade. E, quer o cenário em que entramos seja verdadeiro ou ficcionado, as emoções que experienciamos são bem reais.
Esses momentos de evasão da nossa rotina podem ser muito mais do que uma mera distração, pois permitem-nos ampliar a nossa perspetiva da existência e desenvolver a nossa empatia para com situações que, de outra forma, nunca contactaríamos. Isso ajuda-nos a colocar em perspetiva as nossas preocupações quotidianas e abordar os nossos problemas de uma forma diferente; e pode mesmo contribuir para respondermos ao apelo neptuniano de aumentar a nossa sensibilidade e compassividade para com os outros e o entendimento de que estamos todos interligados.
Tal não significa alhearmo-nos da nossa vida concreta e das nossas responsabilidades, mas sim darmo-nos a possibilidade de viver a totalidade do nosso ser. Não se trata de uma fuga da realidade, mas de conectarmo-nos com a nossa essência e o sentimento de completude que só é possível quando integramos todas as dimensões que nos constituem, incluindo a dimensão espiritual, e nos reconhecemos como uma gota individual no vasto oceano da Humanidade.
Muitas experiências que podem parecer ilusórias ou irreais, só o são quando avaliadas na perspetiva do que é tangível e racionalmente explicável. O que nos alimenta a alma contribui para melhorar a nossa aceitação da realidade e a nossa atuação no plano concreto (por exemplo, tornando-nos pessoas mais solidárias e compreensivas). Afinal, “nem só de pão vive o homem”.
No fundo, a função astrológica de Neptuno não é confundir-nos, mas sim promover a dissolução das nossas conceções erradas ou limitadas da realidade e expetativas irrealistas, com vista a tornarmo-nos mais verdadeiros conosco próprios e com os outros.
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