Por Joana Simão Valério
in REVISTA PROGREDIR | FEVEREIRO 2017
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Este sentimento de exclusão está presente, prematuramente, no desenvolvimento com a entrada em cena do terceiro elemento que vai gerar sentimentos ambivalentes na criança: por um lado, o desejo de aceder a uma relação ampliada com o mundo, mas por outro, o temor de perder a sensação de amor incondicional e a segurança afetiva que a relação simbiótica com a mãe lhe transmite.
A resolução eficiente da triangulação implica que a figura materna e paterna estabeleçam uma aliança coesa no modo como lidam com a frustração da criança, garantindo-lhe simultâneamente o amor e a segurança afetiva necessárias.
No entanto, a má resolução da triangulação, poderá comprometer a socialização da criança e os seus futuros relacionamentos amorosos, dando lugar mais tarde ao ciúme patológico. Nestes casos, as relações amorosas adultas, reativam o conflito infantil não resolvido e são vividas com uma sensação de medo e ameaça constante pelo surgimento de um rival (terceiro elemento) capaz de roubar a figura amada. Há uma expetativa permanente e infundada de ameaça na relação, ela própria idealizada e com aspectos infantis relacionados com a ilusão de amor e dedicação exclusivos e incondicionais.
Nos casos de ciúme patológico, verifica-se uma permanente desconfiança e um estado de tensão, angústia e insegurança pelo temor de se ser traído, conduzindo a uma constante monotorização das ações do parceiro, mesmo que este não tenha dado razões para tal. As reacções são desproporcionais e podem mesmo ser agressivas do ponto de vista físico e psicológico, gerando sofrimento para ambas as partes.
Estas pessoas normalmente revelam uma elevada centração nelas próprias e na satisfação das suas necessidades (egocentrismo), sendo muito possessivas, controladoras e levando em pouca consideração a individualidade do outro. Pode igualmente estar presente uma auto-estima deficiente que se traduz no medo em se ser trocado por outra pessoa percecionada como mais interessante e com mais valor.
A reação face à ameaça da perda e abandono poderá traduzir-se num conjunto de emoções que vão desde o pânico à raiva descontrolada, na medida em que a ausência do outro se traduz numa perceção da perda da própria identidade pessoal. O ciúme aqui descrito não mede a intensidade do amor mas acima de tudo o grau de dependência e a imaturidade emocional.
A intervenção psicoterapêutica nestes casos revela-se fundamental, já que o grau de sofrimento é elevado, podendo haver prejuízo nas esferas profissional, familiar e social.
Sendo uma emoção intrínseca à natureza humana, o ciúme, relacionado com o desejo de exclusividade afetiva, não pode ser simplesmente eliminado, mas importa saber geri-lo, controlá-lo, aprender a lidar com ele e minimizar os seus malefícios.
A comunicação entre o casal é fundamental e é legítimo que aquele que sente ciúmes possa informar o seu parceiro que esse sentimento o está a incomodar, mas sem limitar a sua ação, na medida em que essa vivência emocional não lhe dá o direito de agir agressiva e autoritariamente sobre o outro.
Quando é experienciado de forma positiva, o ciúme associa-se a uma conduta de zelo e de motivação para investir no próprio, no outro e na relação.
PSICÓLOGA CLÍNICA DA EQUIPA CLARAMENTE ESPECIALISTA EM PSICOLOGIA CLÍNICA E DA SAÚDE E ESPECIALISTA EM PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO
www.claramente.pt
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in REVISTA PROGREDIR | FEVEREIRO 2017
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