in REVISTA PROGREDIR | SETEMBRO 2018
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Entre 2011 e 2017, tanto os casos de depressão como os de ansiedade terão aumentado cerca de 3 pontos percentuais cada, atingindo os valores mais altos dos últimos 7 anos e a ansiedade é já a 5ª principal causa de morbilidade nas mulheres com idades compreendidas entre os 15 e os 49 anos.
É nestas faixas etárias que encontramos a maioria das mulheres em idade fértil e fase reprodutiva, e estima-se que nos países desenvolvidos a prevalência das perturbações de ansiedade entre as grávidas ronde os 10-25%.
Mulheres crónica ou severamente ansiosas podem sentir-se emocionalmente “esmagadas” ou em fadiga extrema durante a gestação, com tendência a descurar o seu regime alimentar, a acusar alterações nos padrões de sono, inconsistências nos cuidados pré-natais e um maior risco de prematuridade e/ou de ter um bebé de baixo peso à nascença.
Stress e fatores de ansiedade
Importa, antes de mais, entender a diferença entre "stress" e "ansiedade".
O stress é a resposta pontual a uma pressão sentida, e que provoca - entre outras coisas - a libertação de adrenalina. Em doses saudáveis, i.e. pontuais, o stress é útil, ajudando-nos a resolver problemas, a encontrar respostas, a ser resilientes e a gerir a nossa capacidade de adaptação às circunstâncias imediatas.
Porém, níveis altos e contínuos de adrenalina tendem a provocar o aumento de pressão arterial e uma série de outros efeitos negativos entre os quais se conta a ansiedade - uma resposta prolongada e desproporcional a um estímulo, mesmo quando este (já) não está presente. Esta apreensão generalizada (ou medo) do que está por vir apresenta, sintomas físicos como dificuldades respiratórias, perturbações no sono, tonturas, peso ou aperto no peito, ataques de pânico, etc.
Podemos dividir os fatores de ansiedade na grávida em dois tipos: os externos e os internos. Entre os primeiros encontramos, por exemplo, a logística clínica e a pressão social.
Atualmente é fácil ver a gravidez tornar-se numa correria: uma infindável lista de coisas para fazer e comprar, datas de calendário para cumprir, controlo de peso, etc.
Com as plataformas de comunicação virtual assistimos também à pressão de ter de corresponder a uma imagem idealizada e romântica desta fase de vida (que pode oscilar entre dois espectros: a grávida "preparada", cumpridora de check lists e super-informada e a grávida "blasé", despreocupada que passa pela gravidez como se nada fosse).
Todas estas solicitações e regras externas tendem a ativar sentimentos (por vezes subliminares) na grávida que estão relacionados com os dois principais fatores internos de ansiedade: a "história" de cada uma e a relação que mantém com o seu corpo - uma vez que ambos modelam os comportamentos da mulher face à gravidez, ao parto e a tudo o que se lhes segue.
Por exemplo, uma mulher com pouca confiança no seu corpo ou que tenha ouvido más histórias de partos pode vir a recear o seu (tocofobia); outra, com questões ao nível da imagem corporal, pode não gostar do seu corpo grávido, sentindo-se feia ou desajustada, isolando-se socialmente ou alterando a sua relação com a comida; ou, é ainda possível que a relação com a sua própria mãe se apresente nesta fase como um fantasma, levantando receios e emoções ambíguas face à maternidade.
Estes e outros fatores de índole emocional são uma das maiores fontes de ansiedade interna e, curiosamente, nem sempre estão "visíveis" aos olhos da própria grávida.
Como reduzir a ansiedade na gravidez?
Uma gravidez livre de ansiedade é resultado de um estado de equilíbrio entre o bem-estar físico e emocional da mulher. Assim, as condições essenciais para uma gravidez tranquila passam pela gestão de seis fatores primários:
- Exercício físico - este continua a ser uma das melhores formas de gerir a resposta bioquímica do corpo em termos de ansiedade e apenas 23% das grávidas dizer fazer exercício diário (cerca de 30 min/dia);
- Regime alimentar adequado - sem oscilações entre dietas e "comer por dois", optando-se por um regime com bom aporte nutricional para as necessidades do corpo;
- Estabilidade e suporte emocional - equilibrar vida pessoal e trabalho, sentir-se apoiada em casa e/ou pelo médico que a acompanha; reunir, junto de fontes fidedignas, a informação que necessita para tomar decisões relativamente à sua gravidez, parto e entrada nos meses de maternidade;
- Criação de estruturas de apoio para o pós-parto - muitas vezes descurado, o pós-parto pode ser um desafio inesperado e fonte de sentimentos contraditórios, fadiga e ansiedade, sobretudo quando a mulher não tem em seu redor uma rede de apoio logístico e emocional;
- “Me time” - tempo para cuidar de si enquanto mulher, e não só enquanto mulher grávida/futura mãe. Fazer coisas por si e por prazer.
- Endereçar fatores internos - a gravidez é, se quisermos, um convite a um mergulho no nosso interior. Com ela, podem vir ao de cima sentimentos de dúvida, incapacidade ou desadequação, e medos adormecidos. Estes devem ser identificados e devidamente trabalhados (com ajuda profissional, se necessário) para que não se tornem numa fonte silenciosa de ansiedade.
HIPNOTERAPEUTA E EDUCADORA DE SAÚDE MENSTRUAL E FERTILIDADE
www.circuloperfeito.com
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