Por Sofia Frazoa
in REVISTA PROGREDIR | ABRIL 2013
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Ao que parece, tudo se gera primeiro no corpo e não na mente e começamos a amar o outro porque houve algo nele que fez o nosso corpo reagir e sucumbir ao mecanismo de bem-estar e necessidade de equilíbrio para sobreviver/viver bem e evoluir. Então, eu não amo o outro pelas suas qualidades intrínsecas, mas por aquilo que ele causa em mim (ainda que inconscientemente). Mesmo que não percebamos nem controlemos o mecanismo, o outro é um espelho das nossas projeções de desejo e de amor. Seja porque nos transmite a sensação de segurança, tranquilidade, pareça um bom homem ou mulher para garantir a nossa reprodução, entre muitas outras razões.
Se é difícil definir o amor - mesmo que digamos que vem depois da paixão e que é mais tranquilo e duradouro -, então só cada pessoa está apta a concluir, individualmente, se aquilo que está a viver é ou não amor. Já não pode haver modelos a castrar-nos nem imagens exteriores que nos condicionem, como tem acontecido ao longo dos séculos. Tem, isso sim, de haver uma total honestidade e tomada de consciência por parte de cada um de nós.
E se é tudo ilusão?
Uma das preocupações do ser humano é a busca da verdade, até nas questões do amor. Mas verdade e realidade são conceitos que, apesar de parecidos, não devem ser confundidos. Imaginemos o seguinte: estamos num relacionamento em que dizemos amar a outra pessoa e ela diz que nos ama. A nossa realidade é a de que estamos num relacionamento em que ambas as partes dizem amar-se. Se o outro ou nós estamos a ser verdadeiros, se mais tarde vamos ter outra verdade, se é verdade que isto é mesmo amor… não sabemos nem controlamos. E talvez não seja assim tão importante.
Uma das formas de sermos mais conscientes e de nos aproximarmos da “nossa verdade”, que é sempre relativa, é através da autoanálise e da tomada de consciência. Perante um relacionamento, podemos perguntar-nos:
- Que necessidades pessoais vem o outro preencher-me?
- O que me atrai no outro relaciona-se com questões minhas (necessidade de subsistência, proteção, procriação)?
- Estou sempre à espera que o outro corresponda ao que espero dele ou aceito-o sem esperar que mude?
- Qual é a parte de mim que foi ferida no amor e que precisa de cura? Procuro que alguém me venha curar a dor?
Respondendo honestamente a estas perguntas pode-nos ajudar a perceber se estamos a viver uma projeção daquilo que desejávamos para nós e a que resolvemos chamar amor.
Chaucer dizia que “o amor é cego”, mas vários estudos demonstram que há razões que nos levam a sentir atração por uma pessoa e não por outra. Essa preferência começa a formar-se entre os 5 e os 8 anos, por exemplo, em resposta ao ambiente em que vivemos ou à forma como os nossos cuidadores interagem connosco e entre si. Podemos, também, procurar no outro o amor que não tivemos do pai ou da mãe, ou a repetição de um relacionamento que considerámos ser marcante para nós.
Queiramos ou não admitir, há uma construção social e cultural importante que determina quem amamos, quando amamos e onde amamos. Por isso, há também toda a possibilidade de reconhecer, trabalhar e alterar o que está na origem de tantos dos nossos sofrimentos nos relacionamentos. E tirar o véu da ilusão.
Terapeuta
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REVISTA PROGREDIR | ABRIL 2013