
Por Isabel Gomes
in REVISTA PROGREDIR | MAIO 2012
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Neste momento de profundas transformações na História da humanidade, em que cada um de nós é convidado a despertar para uma dimensão transpessoal, da verdade que sentimos dentro e que ainda buscamos fora, tentando construir pontes que unam ambos os mundos, somos chamados a rever uma série de normas, crenças e formas de pensar herdadas dos nossos pais que já não se coadunam com o nosso sentir.
Desta forma lançamo-nos numa redescoberta interna, que nos convida a uma recriação constante, partindo de quem pensamos que somos, para chegarmos a quem somos verdadeiramente.
O modelo de amor romântico, baseado no encontro mágico com a tal pessoa especial, a nossa cara-metade, na qual buscávamos tudo o que nos faltava, projetando os nossos sonhos e carências, com a qual desejávamos estabelecer um vínculo de intimidade emocional eterna mantendo, contudo, a ilusão de continuar a ser independentes, não funciona mais. Não funcionará neste formato, em que nos temos despojado, de forma inconsciente, de qualquer tipo de responsabilidade pelos nossos vazios, pelas nossas carências, exigindo que o outro nos preencha e ainda por cima seja ou se comporte da forma que idealizámos, cobrando-lhe as nossas frustrações, tornando-nos prisioneiros dele, de nós mesmos e, em simultâneo, tornando-nos carrascos de ambos.
Nesta desconstrução do velho paradigma e construção do novo, vemo-nos perante um grande desafio relacional, em que a partir do que revemos no outro, observando-nos de forma consciente em cada interação, percebemos que as nossas carências, as nossas projeções e as nossas ilusões nos levam a uma descoberta de quem somos, a uma descoberta do outro (que também somos nós) e consequentemente, a um crescimento e maturação da relação que estabelecemos com ele.
Estamos a ser convidados a olhar para dentro de nós e a descobrir o amor que sempre fomos na essência e do qual nos afastámos por vivermos na ilusão da separação, por acreditarmos que estamos separados do outro e que o amor vem de outra pessoa, buscando-o, seja nos nossos companheiros, pais, filhos, amigos, irmãos, seja quem for, ao invés de partilharmos o amor que temos.
Quando descobrimos o amor dentro de nós, como um estado do ser, já não nos importamos que o outro mude, que as coisas apareçam ou desapareçam no tempo. Ao sermos conscientes do amor em nós, podemos vivê-lo nas suas variadas formas, porque tudo é expressão desse amor que somos, o que nos conduz à liberdade.
Ao deixarmos de procurar o imaginário, fantasiando, desconfiando e manipulando o outro de variadíssimas formas, ainda que de forma inconsciente, começamos o caminho do amor, transformando todas as relações afetivas.
O desenvolvimento de uma relação afetiva, seja ela amorosa ou não, é um projeto de construção a dois, uma parceria, uma eterna dança de independência, intercâmbio e partilha onde o vínculo afectivo é pautado pela capacidade de entrega de cada um ao outro e pelo seu nível de auto-aceitação. Só desta forma, podemos verdadeiramente compreender o outro e aceitá-lo tal qual é.
Tudo começa em nós. Os relacionamentos são espelhos de nós mesmos e aquilo que atraímos reflete sempre as nossas crenças e as qualidades, Luz e Sombra que temos.
Reconhecemos que todos gostamos de experimentar o sentimento de que somos importantes para alguém que nos quer e apoia, porque nos dá segurança e estabilidade. De qualquer forma, estarmos conscientes de que embora nos sintamos fração, somos inteiros, e que o outro, com o qual estabelecemos uma ligação, também se sente fração, mas é inteiro, levar-nos-á à diferença entre o amor com minúsculas e o AMOR com maiúsculas e a verdadeira essência da liberdade.
A vida convida-nos a estabelecer vínculos de intimidade emocional como dois inteiros, e não como duas metades, partilhando o amor que temos, dividindo multiplicando.
Partimos do amor que temos para nos tornarmos no amor que somos.

Terapeuta Transpessoal, Life Coach,
Facilitadora do Método Louise Hay
REVISTA PROGREDIR | MAIO 2012