Por Júlio Barroco
in REVISTA PROGREDIR | DEZEMBRO 2017
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Nestes tempos de transição cada vez mais clara entre formas de viver a que muitos chamam de "Velho Mundo", assentes em paradigmas de medo, para outras mais benévolas e de integração entre organismos, humanos e não humanos, a que outros tantos chamam de "Novo Mundo" ou "Nova Era", parece-me útil fazer uma distinção na expressão da amabilidade a dois grandes níveis: o nível da amabilidade formal e o nível da amabilidade essencial.
A um nível formal, a amabilidade é vista principalmente como uma convenção e tende a operar ao nível da cordialidade ou etiqueta social. A dimensão predominante é a do ato, ou seja, se temos ou não um determinado gesto que corresponde a uma expectativa de comportamento num dado contexto, por exemplo na forma de saudar alguém - ou a qualquer outra forma de manifestação que expresse um acordo, assumido ou não, a respeito do que os envolvidos nas interações devem representar, para cada um e para o organismo ao qual pertencem e participam, seja uma empresa, projeto, grupo de trabalho ou qualquer outra estrutura social. Por aqui, a amabilidade muitas vezes fica-se por uma espécie de lubrificante das engrenagens de uma sociedade cada vez mais acelerada: permite-nos avançar pelos nossos dias com um máximo de eficácia e um mínimo de atritos.
Os elementos deste nível formal de amabilidade têm sido e continuam a ser, de facto, úteis para podermos navegar na sociedade cada vez mais veloz em que hoje vivemos, na fase da vida coletiva em que estamos. Na ausência de outros fatores daquilo a que denominamos "coesão social", em especial em contextos anónimos ou em que o conhecimento que temos uns dos outros é superficial ou muito limitado pelo contexto, um nível sólido de amabilidade formal é importante. Se há poucas gerações atrás a maior parte da vida de uma pessoa decorria num círculo relativamente restrito de outras pessoas, mesmo nas cidades, a evolução que nos levou a vivermos em sociedades globalizadas tendeu para padrões universais de comportamento, necessários para podermos interagir neste novo contexto. Cruzamo-nos literalmente com mais pessoas diferentes numa semana do que durante toda uma vida há 100 anos, fenómeno que acabou por originar estudos relacionados com esta alteração civilizacional, como o conhecido estudo do número de Dunbar.
Este nível formal é tipicamente binário, por assim dizer: ou cumprimos as regras (explicitas e tácitas) ou não. Paradoxalmente talvez esteja no seu cumprimento exclusivo uma das fontes mais perversas da sua expressão: o de servir para substituir e mascarar a falta de um elo autêntico, de uma conexão mais profunda pela qual tantos anseiam. É neste tipo de dinâmicas que gera que fica aquém do que a amabilidade plena é. E que pede o próximo.
O próximo nível de amabilidade, o essencial, evoca como requisito essencial aquilo a que se chama de trabalho emocional. Não deixa de incluir os elementos válidos do nível anterior, mas fundamentalmente centra-se no desenvolvimento e expressão das virtudes típicas das experiências relacionais de alta qualidade, como sejam as da empatia, da compreensão, da compaixão, da valorização genuína do outro, daquilo que o pode ajudar e daquilo que, juntos, podemos fazer de melhor.
Este nível é absolutamente determinante para o sucesso a longo prazo, e tanto mais quanto a transição de paradigma for progredindo e exigindo cada vez mais mestria humana. Pode ser visto como uma espécie de regresso àquilo que as interações sociais já foram em sociedades anteriores, mas com um nível de perceção e aceitação da diversidade sem precedentes na história conhecida da humanidade.
O nível de amabilidade essencial depende muito mais da perceção única que emerge entre as pessoas e as suas formas de expressão própria do que propriamente do resto do contexto formal. É neste nível que o trabalho, carreira, negócios ou projetos são vistos não como terrenos de batalha ou competição, mas como plataformas de oportunidades para criações e serviços cooperativos e propositados. Busca-se a expansão de formas de Ser, Fazer e Ter o mais propiciadoras possíveis de resultados que facilitam Bem-Estar Integral. Aqui, o fluxo relacional não depende apenas da velocidade, mas também e fundamentalmente da satisfação dos anseios de conexão, significância e entreajuda, numa mensagem mais ou menos explícita e com carga energética benévola: "Reconheço-te e acolho-te pelo que és. Acredito no melhor em ti. Juntos vamos mais além.".
Numa sociedade que parece cada vez mais inquieta com alguns efeitos da evolução tecnológica, nomeadamente ao nível do impacto da Inteligência Artificial no mercado de trabalho e possíveis desenvolvimentos, mais ou menos animadores consoante as perspetivas: seja qual for o nosso papel e posição, vale bem a pena o compromisso.
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“Sonhar Sem Agir É Como Amar Sem Cuidar.”
in REVISTA PROGREDIR | DEZEMBRO 2017
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