Por Francisco Varatojo
Se por um lado, por via do pensamento científico e do consequente avanço tecnológico, temos progredido imensamente, conseguindo feitos totalmente inimagináveis mesmo para as pessoas que nasceram 2 ou 3 gerações atrás, por outro lado, paradoxalmente, a forma como utilizamos esta extraordinária inteligência e criatividade humanas pode estar a conduzir-nos para a degeneração biológica e extinção dos recursos naturais do Planeta.
Segundo os dados mais recentes, nos EUA mais de um terço da população sofre de obesidade mórbida , sendo o problema particularmente grave nas faixas etárias mais baixas (na Europa a situação não é tão grave mas caminha na mesma direção). No Mundo Ocidental, estima-se que 1 em cada 2 ou 1 em cada 3 pessoas venha a contrair cancro e as doenças do foro cardiovascular, diabetes, problemas autoimunes e outras continuam a aumentar. Apesar dos notáveis avanços médicos e dos milhares de milhões de euros que são gastos todos os anos na sua prevenção e erradicação.
No que concerne ao ambiente, a situação parece ser ainda menos animadora: segundo a WWF (World Wildlife Fund) e a UNEP (United Nations Environment Program), o planeta Terra, já por volta de 1990, excedeu a sua capacidade ecológica e, neste momento, a pegada ecológica da Terra parece estar muito acima da sua capacidade de regeneração. Na prática, o que isto quer dizer é que o planeta em que vivemos já ultrapassou os seus limites desustentabilidade. Citando James Leape, diretor da WWF International: “Em 35 anos, perdemos um terço da vida selvagem. A pegada global atual excede em 30% a capacidade que o Mundo tem de se regenerar; a este ritmo, em meados da década de 2030, precisaremos de 2 planetas para manter os nossos estilos de vida.”
Perante estes cenários assustadores mas realistas, podemos encolher os ombros e não nos importarmos, confiar que outras pessoas mais inteligentes do que nós venham a descobrir uma solução para os problemas ou decidir ser uma parte ativa da solução, começando por analisar de que forma é que o nosso modo de vida pessoal pode estar relacionado com estas questões.
Existem causas de vária ordem que, não sendo do âmbito deste artigo, não abordarei: vida sedentária, desigualdades sociais, práticas agrícolas não sustentáveis, uso e abuso de combustíveis fósseis, falta de higiene, fatores genéticos e muitas outras que, de uma forma ou outra, e por interação entre elas, desempenham um papel em muitas das questões de saúde e ambientais modernas.
No entanto, o que parece estar mais diretamente ligado à maioria dos problemas de saúde degenerativos modernos, assim como à destruição ambiental, é aquilo que escolhemos comer todos os dias. Nenhum outro fator influência de forma tão decisiva a nossa saúde e a do planeta. Em particular, o consumo de carne, lacticínios, açúcar e produtos químicos está intimamente ligado a uma elevadíssima pegada ecológica e aos problemas de saúde mais comuns.
Um enorme número de estudos epidemiológicos (em particular o mega estudo “China Study”, liderado pelo bioquímico Collin Campbell e realizado pelas Universidades de Cornell, Oxford e Pequim), encontra uma relação direta e inequívoca entre o consumo excessivo de produtos animais e a maioria dos problemas de saúde modernos.
O mesmo parece ser verdade no que toca ao Planeta: segundo a FAO (Food and Agriculture Organization), a indústria pecuária contribui mais para a criação de gases antropogénicos (nomeadamente CO2 e metano) do que todos os meios de transporte juntos . São estes gases os causadores do aquecimento global. Se comermos carne todos os dias, por incrível que pareça, gastamos cerca de 16,000 litros de água por dia per capita. Se formos vegetarianos, pouco mais do que 1,000 litros por dia per capita.
Se a população mundial, e em particular os países ocidentais, reduzissem o consumo de produtos animais, “fastfood” e açúcar, assistiríamos a uma mudança notável em todas as áreas mais críticas e que mais colocam em causa a nossa vida e em particular a vida das gerações vindouras. Inclusive, mesmo para resolver os problemas da fome, é infinitamente mais rentável produzir alimentos de origem vegetal do que alimentos de origem animal.
Termino com algumas sugestões:
- Coma predominantemente alimentos de origem vegetal. Não tem que ser vegetariano, mas os produtos animais (carne, lacticínios, ovos, peixe), se os escolhermos comer, devem ser uma pequena parte do nosso regime alimentar.
- Evite consumir açúcar, alimentos refinados e “fastfood”.
- Escolha alimentos de agricultura biológica; não consuma transgénicos.
- Utilize cereais integrais, vegetais, leguminosas, sementes, oleaginosas e frutos como base da alimentação.
- Use o seu dinheiro de forma criteriosa apoiando práticas agrícolas mais sustentáveis e um comércio mais justo.
DIRETOR DO INSTITUTO MACROBIÓTICO DE PORTUGAL
www.e-macrobiotica.com
[email protected]
in REVISTA PROGREDIR | OUTUBRO 2013