Por Tamar
in REVISTA PROGREDIR | FEVEREIRO 2014
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Sendo este estado de Ser um atributo da energia feminina, esta deveria ser uma fase do ano natural, reveladora e até prazerosa para a mulher, mas quantas de nós estão em condições de genuinamente concordar com esta hipótese? Desafiante numa sociedade de consumo externo, ritmo acelerado, racional e de desconexão com a energia de cada estação do ano e do pulsar da natureza, não? De facto, muitas são as mulheres que em profunda frustração relatam, a falta de tempo para parar, para se propor a sentir e a trabalhar com o que vem, a nutrir-se, sendo mulher, além dos papéis de mãe, profissional, companheira, filha e amiga. Há também as “supermulheres”, muito eficientes e independentes, capazes de (aparentemente) lidarem com todas as facetas do ser feminino, convocando para isso a sua energia masculina de ação, objetividade, força, racionalidade e análise, as quais, não obstante, partilham dos mesmos sentimentos de cansaço, raiva, medo, incompreensão, com perdas a nível da energia vital, que é criativa e erótico-sexual. Para todas, a mesma via de saída deste círculo vicioso: permitir-se sentir vulnerável.
“Supermulheres”, ainda estão aí? Lamentamos informar mas não conhecemos outra via de aceder e afirmar o poder pessoal que brota do viver alinhada com a própria essência, que não seja ir beber à fonte da vulnerabilidade. Não é fácil, mas é simples: aceitando que ser humano é ser luz e sombra, matéria e espírito e que uma qualidade tem sempre a sua contraparte que necessita de desenvolvimento. Expondo-se, enquanto exercício que permite perceber que é mais fácil ser aceite e amada do que julgaríamos se não déssemos o salto de fé. Deixamos as seguintes reflexões na primeira pessoa:
- É-me fácil assumir o meu poder. Manter-me focada nos valores que quero que as minhas ações demonstrem, não permitindo o condicionamento externo forte. Não me é fácil fazer cedência ou compromissos sem evitar uma sensação de perda.
- É-me fácil estabelecer e comunicar o que quero. Mesmo que não faça sentido racional para os outros e, às vezes, até para mim mesma. Não me é fácil ficar com esse querer não satisfeito, lidar com resistências ou obstáculos, permitindo ser tomada pela impaciência e pela impulsividade.
- É-me fácil dizer o meu ponto de vista. Não me é fácil, quando demasiado ligada ao tema ou pessoa em questão, não o fazer de forma afirmativa/agressiva.
- É-me fácil lidar com as fragilidades humanas em mim e nos outros. Não me é fácil não conseguir ver ou sentir evolução de alma em mim e nos outros.
- É-me fácil assumir os meus talentos e dons e partilhá-los, expondo-me. Não me é fácil não duvidar deles ou de considerar que não são verdadeiramente dons.
- É-me fácil assumir e usar a força interna, o espírito independente e livre ao mundo. Não me é fácil mostrar a minha vulnerabilidade mais reprimida na intimidade.
- É-me fácil lidar com a intensidade e profundidade da energia sexual. Mais desafiante é lidar com a sua subtileza ou com a rejeição do outro por aquela primeira faceta mais instintiva da energia.
Entre o fácil e o não fácil, entre o aparentemente impossível de sublimar e a rendição à confiança na vida, vive-se a tensão da polaridade humana que potencia o reconhecimento e a integração do poder pessoal na mulher numa oitava superior, a qual implica um trabalho pessoal de refinamento e harmonização.
Na área dos relacionamentos amorosos, são as mulheres que projetam mais independência e força que mais afirmam não encontrar homens “à altura”, capazes de honrar e patrocinar estes seus traços e revelando, inclusive, sentimentos e atitudes tais como insegurança, inferioridade, medo e rejeição. Escutando estes homens, o que comunicam é que há um “mistério”, um caminho iniciático, feito de várias etapas, que compele o instinto do homem a descobrir e a desbravar com e em prol da mulher. E que as mulheres aparentam ter chegado já ao topo da montanha sozinhas, pondo em causa o papel e o contributo do homem nesse percurso. Sendo a energia criativa dos relacionamentos feita de atração e tensão, de opostos e complementos, a verdade é que a queixa quanto ao medo dos homens face ao poder incisivo e intrusivo emanado pela mulher com energia mais diretiva tem o potencial de a consciencializar sobre quais as áreas da vida ou situações em que ela não consegue serenar e esperar, ser fluída e não fogosa/incendiária, ser subjetiva e harmónica, enquanto qualidades do feminino que poderão contribuir para um maior equilíbrio e conciliação de energias ativas e recetivas. No que diz respeito à ligação com o masculino, este refinamento poderá traduzir-se na criação de um espaço-tempo para que o homem perceba como posicionar o seu aspeto masculino na vida desta mulher. Efetivamente, ela não precisa de um homem mas sabe aferir o quanto a sua presença a faz florescer mais e mais, possibilitando-lhe abrir-se e experienciar uma gama de aspetos dos relacionamentos e da vida que sozinha não alcançaria, simplesmente porque não é, humana e divinamente, possível. Porque ela é apenas mulher. E isto é o seu poder.
SOCIÓLOGA, FORMADORA COMPORTAMENTAL,
TERAPEUTA SEXUALIDADE SAGRADA FEMININA
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in REVISTA PROGREDIR | FEVEREIRO 2014
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