Por Carolina Fermino
in REVISTA PROGREDIR | ABRIL 2019
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Dentro da perspetiva da psicologia sistémica, as famílias constituem sistemas relacionais dinâmicos e em constante transformação. A família é vista como um sistema configurado por um grupo de pessoas que possui trocas afetivas, materiais e de convívio que dão sentido à vida daqueles que dela fazem parte.
Ao considerar essa ideia, pergunta-se: como surgem os padrões de relacionamentos disfuncionais em uma família?
A psicóloga e autora de vários livros, Alice Miller, traz a ideia de que o mal é recriado a cada geração. “O recém nascido é inocente e não capta o impulso de destruir vidas, mas quer ser bem tratado, protegido e amado. Quando essas necessidades não são satisfeitas, quando ele é maltratado, dá-se um encaminhamento inadequado à sua vida. Uma pessoa só se sente compelida à destruição quando a sua alma, no começo da sua vida, foi torturada” (Miller, 2004). Desse modo, trabalha-se com o pressuposto de transmissão intergeracional dos traumatismos, ou seja, os padrões relacionais são transmitidos de uma geração à outra e mantém-se uma dinâmica de relacionamentos disfuncionais. Faz-se também a ressalva de que uma criança que presencia violência, não necessariamente irá perpetuar esse padrão quando adulto. A intergeracionalidade é apenas uma das formas de se olhar para um fenómeno tão complexo como o da violência familiar.
Para aprofundar a reflexão sobre o tema surgem mais algumas questões pertinentes: Por que acontece uma ação violenta no contexto familiar? Que condições precisam existir para surgir e se manter? De acordo com os pressupostos da terapeuta familiar Maria Cristina Ravazzola, as condições necessárias para a violência surgir e se manter são:
1. Falta de autonomia dos integrantes familiares, dependência excessiva de um com os outros ou impedimento da aliança com outros integrantes, seja com pessoas da família ou externos a ela;
2. A existência de um padrão de interação entre o autor da violência e a pessoa em situação de violência, em que o primeiro é o responsável pela relação, toma as decisões e é reconhecido como autoridade;
3. A existência desse padrão de interação no contexto familiar reforça a crença de que a ação violenta é legítima ou deve permanecer silenciada, o que contribui para a impunidade do autor da violência.
É necessário um olhar atento e criterioso da nossa sociedade aos padrões relacionais humanos, para que os sinais de perigo sejam identificados e sinalizados. Considera-se também importante que nós, profissionais de saúde, possamos sempre acolher e ajudar os nossos pacientes a construírem estratégias de solução para as suas dificuldades, sejam elas no âmbito da violência ou não. Caso contrário, as relações disfuncionais, onde existem protagonistas e coadjuvantes irão se perpetuar e nós permaneceremos apenas como espetadores das cenas da vida real.
PSICÓLOGA COM FORMAÇÃO EM PSICOLOGIA RELACIONAL SISTÉMICA
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in REVISTA PROGREDIR | ABRIL 2019
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