in REVISTA PROGREDIR | OUTUBRO 2015
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
É sonhando que se cria. Ao sonhar imaginamos, pensamos, idealizamos. Representamos dentro da nossa cabeça aquilo que gostaríamos que os nossos olhos vissem. Sonhar pode durar segundos. Muitas vezes é apenas o tempo de uma súbita ideia que passa e não se instala na memória. E pode durar uma noite inteira, dando-nos a possibilidade de acordar com mais 20 anos de vida e de histórias para contar. Há sonhos inconscientes, os quais não controlamos, que são muitas vezes aleatórios e com pouco sentido. Na verdade contêm sempre detalhes com os quais nos identificamos - motivações, pensamentos, crenças - ainda que deturpados e baralhados sem nós sabermos muito bem como. E há sonhos conscientes, que temos em qualquer momento do dia e que nos orientam nas tomadas de decisão e estabelecimento de objetivos para a nossa vida. Estes são sem dúvida os mais importantes e que requerem toda a nossa atenção.
Sonhar é uma condição do ser humano, já que exige racionalidade. Não sonhamos sem raciocínio e muito menos sem inteligência. E fazemo-lo em função das experiências e aprendizagens que temos. São estas que vão moldar o conteúdo dos nossos sonhos, não querendo isso dizer que os limitem. É natural que sonhemos a partir do que nos é familiar ou pelo menos a partir das ideias que concebemos acerca de determinado objeto ou situação. Dificilmente poderemos querer algo que nos é totalmente desconhecido. Daí não ser estranho que o que eu sonho para mim seja diferente do que o meu irmão ou amigo sonha para ele. Cada um com o seu percurso de vida, personalidade e objetivos vai elaborando os sonhos à sua medida.
Sonhar e concretizar são duas coisas muito diferentes, sendo que nem sempre se implicam. Poderemos ter sonhos que demoram semanas, meses, anos a ser postos em prática, seja por que razão for. E outros que, de forma diária, e sem termos um grande controlo se vão cumprindo. Aparentemente pensamos que estes últimos são os melhores e mais apetecíveis mas a longo prazo percebemos que os primeiros nos trazem uma sabedoria e crescimento muito maiores. Para sonhar é preciso querer do mesmo modo que para querer é preciso atuar. Quando eu sonho, quero e atuo metade do caminho fica feito, sendo que a outra é ocupada inevitavelmente pela imprevisibilidade do que é exterior a mim. Sonhar só pode ser uma constante na nossa vida e um impulso para sermos o mais felizes possíveis connosco e com os outros. Devemos sonhar para nós mas também pelos que estão à nossa volta. Ajudá-los a querer sempre um bocadinho mais.
Não só o sonho comanda a vida, como acreditou Fernando Pessoa, mas também a vida comanda o sonho. Sonhar de forma desmedida poderá parecer a melhor coisa do mundo mas por vezes não leva a parte nenhuma. Não devemos ter medo de sonhar mas devemos fazê-lo conscientes do que está ou poderá vir a estar ao nosso alcance, do que é possível. Ou pelos começar por aí. Há que reunir algumas condições que sirvam de ponto de partida para o nosso esforço, entrega e dedicação, senão estes podem não ser justificáveis. Há que estabelecer prioridades quando sonhamos para que a nossa vontade não sufoque as nossas capacidades. É importante dar oportunidades aos sonhos tal como damos às pessoas. Mas para que estas aconteçam e sejam bem-sucedidas deveremos conhecer-nos suficientemente bem e sabermos melhor que ninguém o que queremos, quem queremos ao lado e para onde queremos ir.
PSICÓLOGA CLÍNICA
[email protected]
in REVISTA PROGREDIR | OUTUBRO 2015
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)