
Por Natália Cadilha
in REVISTA PROGREDIR | JUNHO 2017
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Numa realidade muitas vezes turva, urge para muitos buscar a essência, a pureza, a verdade. Aquilo a que se é fiel, em que se acredita, o que se respeita.
Antes disto ainda, vive-se numa realidade cheia de verdades impostas, de regras, de formas de funcionamento que se deve respeitar. Muitas vezes um alívio – salve-nos o facto de alguém se ter lembrado de organizar um dia com 24 horas iguais para todos ou um nome para cada um dos nossos continentes ou países – a verdade que é imposta no dia-a-dia e que nos salva do caos, tem às vezes o seu quê de desafio.
Nem sempre é possível (ou confortável ou exequível) encontrar um ponto de equilíbrio para todas as verdades a que se está sujeito. Seres interessados e buscadores de sapiência, procuramos tantas vezes saber mais do que aquilo que é imposto, e desafiar as verdades absolutas com verdades que nos são queridas. Que nos são úteis, que nos dão vida.
E há também a mentira que espreita. As verdades perfeitas, utópicas. Hoje em dia, por exemplo, há as redes sociais que brilhante e assustadoramente por vezes tiram tanta da nossa liberdade, impondo falsas realidades. Para tudo. E que se teima em seguir. Que impõem normas, formas de estar. Que parece bem. Que nos mostram o que os outros são e qual tabela perfeita como se é suposto ser.
É-se humano, vive-se em comunidade. O ser humano precisa um do outro para estar, para interagir, para ser. A pressão para se pertencer a esta ou aquela normal é evidente, é (muitas vezes) útil, ensina. Como é que se consegue continuar a existir sem ser sugado por esta corrente de águas bravas?
Pode ir-se longe. Desafiar a verdade comprada ao mundo lá fora com a esperança, com a dúvida, com a verdade que se descobre existir em si. Ser-se pensante e respeitador das próprias crenças pode oferecer uma luta com aquilo que deve ser, que dizem que é ou que está escrito. Valerá a pena? Não há uma resposta certa, não é uma questão de sim ou não. Depende de cada momento, de cada situação. Mas é possível. Contrariar, desafiar, lutar pelo que se acredita. Ser fiel à sua verdade.
Ou então não, não lutamos, não pomos em causa, não desafiamos. E assim sendo, assumimos a verdade dos outros como nossa, mesmo que isso signifique desrespeitar aquilo em que acreditamos.
Viver implica escolher. Pensar, tomar decisões. O ser humano pode viver sem qualquer pessoa menos sem si próprio, e nesta premissa pode encontrar (ou não) algum conforto para a sua luta.
O pensamento próprio implica ação, poder. Não tentamos todos em algum momento ter algum tipo de poder? No que comemos, no que vestimos, em como educamos os nossos filhos, na nossa escolha espiritual, etc. Para cada uma destas escolhas pensamos em várias opções, mas habitualmente escolhemos a que é mais acertada para nós. Que mais se aproxima daquilo em que acreditamos, da nossa verdade, mesmo que muitas vezes aquela decisão implique o choque nos outros.
Ser é também isso, procurar o nosso lugar. Construir uma realidade em que se acredita – Mesmo que ela mude ao longo do tempo, e muda, e é sinal da nossa própria evolução. É ser agente ativo da sua própria vida, desafiar-se a procurar fazer mais e melhor, para e por si. Porque nenhuma outra pessoa poderá agir tão bem sobre a nossa vida quanto nós, e encontrar verdadeiramente o que interessa e nos faz felizes. E por essa mesma razão há verdades universais, verdades relativas e verdades próprias, que podem coexistir num balanço equilibrado entre nós e o outro. E nem sempre é fácil, muitas vezes não se encontra logo o que é necessário, não encontramos imediatamente a força que é precisa ou os obstáculos parecem demasiado grandes. Mas certamente valerá a pena.

PSICÓLOGA CLÍNICA
[email protected]
in REVISTA PROGREDIR | JUNHO 2017
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)