Por Sofia Frazoa
in REVISTA PROGREDIR | JUNHO 2013
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Parece-me ser precisamente aqui que começam os conflitos e que nos afastamos dos ideais pluralistas e de tolerância que defendemos, afastando-nos, ao mesmo tempo, da concretização prática da ideia de um mundo sem fronteiras. Quem define o certo e o errado? Quem decide que comportamento é o mais aceitável? Quem determina qual a filosofia de vida que devemos seguir? Cada um de nós certamente diria que a “nossa” filosofia de vida, os “nossos” valores, a “nossa” maneira de pensar são os mais adequados. E a dos outros só o será na medida em que corresponda ao que defendemos. Se for o oposto do que defendemos como certo, julgamos, criticamos e condenamos os outros.
Para nos aproximarmos da concretização prática de um mundo sem fronteiras, é necessário abandonarmos certas limitações de crenças e pensamentos. É preciso colocarmo-nos no lugar do outro e, ao menos, tentarmos perceber as suas razões e motivações. Cumprimentar uma pessoa, por exemplo, não é igual em Portugal e na China, nem tão pouco na Itália (uma cultura mais aproximada da portuguesa). A forma como encaramos o mundo depende, em primeira instância, do país em que nascemos, da cultura em que fomos criados, da família e ambiente em que crescemos, da nossa personalidade e motivações individuais e da maturidade e aprendizagens que fomos tendo ao longo da vida, ao construirmo-nos enquanto pessoas.
Assim sendo, facilmente percebemos que há tantos conceitos e noções de felicidade, atitudes e comportamentos, consoante variam os fatores referidos anteriormente. Com esta consciência, como podemos insistir em manter a nossa e SÓ a “nossa” verdade? Devíamos, ao mesmo tempo, aceitar que será difícil termos um mundo completamente sem fronteiras, pelo menos em alguns aspetos. Podemos aproximar culturas e maneiras de pensar, mas nunca poderemos unificá-las, dando primazia a um só país ou cultura, ignorando as raízes de cada ser humano.
Ser português é diferente de ser espanhol e vivemos lado a lado. No entanto, ser português é igual a ser espanhol na medida em que todos precisamos das condições básicas de sobrevivência e de vida e todos queremos atingir a felicidade (seja o que isso for para cada um de nós). Chegar a um mundo sem fronteiras é uma utopia, mas no que podemos mudar exige-nos uma grande capacidade de reconhecermos e aceitarmos as nossas raízes; a consciência de que há muitas outras culturas e maneiras de pensar diferentes da nossa, mesmo dentro do nosso próprio país; a certeza de que, num certo ponto de vista, todos procuramos o mesmo; a humildade para reconhecer que às vezes sabemos e conhecemos menos do mundo do que pensamos.
Façamos uma reflexão para os próximos meses, sobretudo porque Portugal é um destino turístico muito procurado. Comecemos por olhar para quem nos visita, tentando perceber o que nos distancia em termos culturais. Perguntemo-nos em que é que somos diferentes. Respeitando essas diferenças, de que forma nos podemos aproximar enquanto pessoas? Tentemos, depois, fazer o mesmo com as pessoas do nosso país, começando pelos desconhecidos, a nossa família e os nossos amigos. Em resumo, de que forma podemos derrubar as fronteiras do nosso pequeno mundo, já que no sentido universal é utopia?
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REVISTA PROGREDIR | JUNHO 2013