in REVISTA PROGREDIR | JANEIRO 2020
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Estudos demonstram que o comportamento altruísta cria um efeito cascata nos grupos humanos. Perante um ato de altruísmo genuíno, o outro sente-se inspirado a praticar o bem e a espalhá-lo, desencadeia uma onda de boas ações, que reverbera, pois, gera respeito e retribuição, promove a capacidade alargada para cooperar e protege contra a competitividade. Incentiva os demais a agirem da mesma forma, o que traz consequências altamente benéficas para as empresas e para a sociedade.
Contudo, é relevante considerarmos a possibilidade do resultado oposto, no contexto empresarial. O altruísta pode despertar no colega, sentimentos de ódio, irritação, inveja e desequilíbrio na equipa, pois cria uma imagem de maior eficiência, acentuando defeitos, falhas e limitações dos demais. O elemento diferenciador poderá distinguir-se, colocando em perigo a posição dos colegas, o que poderá incitar à rejeição ou à competitividade.
Erradamente, associa-se a ganância, o individualismo e o egoísmo ao mercado livre, ao capitalismo e ao lucro. Mas a união faz a forç̧a. Quando colaboradores, na verdadeira essência da palavra, colaboram, sentem-se unidos, o nível de stress e a propensão ao esgotamento diminuem. Ademais, as interações sociais positivas promovem o equilíbrio emocional e a saúde mental, aumentam a imunidade e a longevidade dos colaboradores e reduzem o absentismo. Neste prisma, o altruísmo fomenta maior foco e produtividade no trabalho, incrementa os resultados, sendo mais lucrativo para as empresas.
Uma boa liderança inspira performances excecionais e o altruísmo no exercício da liderança tem impacto organizacional. Procurar o bem-estar de cada membro da equipa garante a confiança entre os funcionários, promove o sentimento de inclusão e de pertença. A credibilidade e apreço pelo chefe reforça-se consoante a atenção e o cuidado que ele dedica aos seus funcionários e o tempo que ele investe nos mesmos.
Um grande líder deve compreender que não irá conseguir chegar ao primeiro lugar do pódio sozinho, ninguém vence sozinho.
Anteriormente, no mundo corporativo, o critério para contratações, promoções e demissões resumia-se às competências técnicas e à inteligência, tendo vindo ultimamente a ser complementado pelas competências socioemocionais, responsáveis pelo sucesso e desempenho dos profissionais e pela sobrevivência das empresas. Alto índice de Inteligência Emocional está correlacionado com maior confiança, motivação e bem-estar psicológico, o que transmite maior segurança e motivação na equipa envolvente. Indivíduos egoístas dificilmente se mantêm por muito tempo em um mesmo posto e dificilmente crescem no mercado de trabalho.
Ser altruísta não é apenas dar no sentido financeiro, é dar de si, da sua vida, do seu tempo, da sua vontade, do seu amor e do seu saber.
O verdadeiro valor do conhecimento revela-se quando é partilhado. Quanto mais o sujeito dividir a sua sabedoria com os que o rodeiam, mais ele cria possibilidades de expandir o seu saber e mais ele agrega aos outros. Um aprendizado enriquece muito mais quando cresce de forma colaborativa/coletiva, permite visualizar novas perspetivas, evoluir, abre espaço para a troca e contribui para o crescimento e a sabedoria coletiva.
O bom de ensinar é que sempre se aprende. Dividir é quase sempre sinónimo de somar, de acrescentar valor. Os grupos representam mais do que soma individual das partes, isto é, superam o desempenho qualitativo e quantitativo do indivíduo isolado.
Além disso, ao partilhar os seus conhecimentos e a sua experiência, o altruísta tende a ganhar a admiração e o respeito do outro, de modo que acaba por destacar-se e ser valorizado; aumenta a sua influência e visibilidade no grupo.
O altruísmo e a empatia são responsáveis por formar laços de confiança e colaboração entre os diversos funcionários de uma organização; cultiva as relações e estimula o desenvolvimento de talentos. O altruísta tem maior capacidade de atrair, construir e conquistar relações ricas e saudáveis; cria e fortalece laços de cumplicidade com o próximo.
É um comportamento saudável, uma vez que pressupõe uma valorização e validação das suas próprias competências e recursos, reconhecer que temos algo de bom para dar e partilhar.
Estudos etnológicos demonstram que o homem tende a tratar pior os membros de fora do grupo. Mais, quanto menor o grupo, mais provável que os membros cooperem e sejam amigáveis entre eles. À medida que este aumenta, os laços de pertença decrescem, o que nos leva a intuir que a atitude altruísta no seio de uma empresa aumenta em equipas de pequenas dimensões e é mais frágil em grupos grandes, uma vez que diminui o reconhecimento individual e o potencial de reciprocidade dissipa-se. Finalmente, quanto menor o grupo, melhor os sujeitos se conhecem e mais importante é a reputação. O anonimato diminui o fardo de se preocupar com a reputação.
Em última instância, do ponto de vista evolutivo, o altruísmo e os comportamentos cooperativos estão na base da evolução e sobrevivência das espécies, na construção do futuro, na manutenção do equilíbrio do ser humano, da sociedade e do planeta como um todo. São fonte de progresso, desenvolvimento e são a forma mais efetiva de adaptação ao meio ambiente. Neste prisma, os grandes génios, os grandes inventos e avanços tecnológicos e científicos têm uma orientação social, uma vez que são valiosas contribuições para a humanidade.
Uma das maiores fontes de satisfação e gratificação no trabalho é o impacto do nosso trabalho no outro, na medida em que beneficia e é construtivo para os outros, tornando-se o sujeito um membro de valor para a comunidade e para si próprio.
PSICÓLOGA CLÍNICA E PSICOTERAPEUTA PSICANALÍTICA EM ESPECIALIZAÇÃO
tacoenjessica.wixsite.com/psicologaclinica
[email protected]
in REVISTA PROGREDIR | JANEIRO 2020
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)