Por Tamar
in REVISTA PROGREDIR | OUTUBRO 2013
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Os efeitos desta carência manifestam se a nível da terra, desrespeitada e atacada, levando à poluição das águas e do ar, ao abate de florestas ancestrais, ao desejo de privatização da água e das sementes; numa palavra, à castração do puro gérmen da vida. Manifestam-se, igualmente, ao nível do ser humano, naquilo que é a sua ligação com a alma e o corpo. Nesta espiral decadente, a sexualidade enquanto pilar fundamental para a vida, foi menosprezada, apagada, tornada coisa suja e mais uma doença.
O carácter vital e sagrado da energia sexual, que faz de nós quem somos aqui e agora e que é simultaneamente um veículo para a cura, transformação e transcendência, foi usado como apanágio para prazeres egóicos, jogos de poder, abuso e trocas comerciais, inclusive. Prevalece uma cultura sexual falocêntrica, vincada pela valorização da forma, dos resultados imediatos, do desempenho físico, do sexo enquanto descarga física, em detrimento do conteúdo e do propósito, da caminhada até ao êxtase e do sentir erótico.
Mas a alma pressente que há algo mais, o corpo vibra com algo que conhecemos mas não lembramos. Identificando e transmutando memórias obsoletas sobre os conceitos sexuais, estaremos disponíveis para receber a intimidade enquanto “um dos lugares onde Deus se faz particularmente presente. Porque, nesse momento, há a participação directa, concreta e física, no acto criador que faz girar a terra, as estrelas e o coração humano.” (Thomas Moore) E é aqui que entramos no campo da sexualidade sagrada, segundo a qual a energia sexual é não só natural, mas bela, essencial e uma forma de nos conectarmos com a corrente de vida que circula dentro de nós, nos abrirmos e potenciarmos a nossa cura, transformação e expansão. Neste contexto, o sexo pode ser medicinal; sensual, despertando o corpo e as emoções; sexual, por ser excitante e gerar ondas de prazer e multidimensional, partilhado com o nosso self e com o(s) outro(s) e ligando-nos aos vários planos e dimensões, conhecidos e misteriosos. Tal é o poder criativo, fértil e da energia sexual, que culturas antigas espalhadas um pouco por todo o planeta trabalhavam, honravam e ofertavam esta energia em rituais de fertilidade para a terra, para cura e iniciação, bem como para conhecimento oracular.
É, pois, uma via de desenvolvimento pessoal para mulheres e homens, sendo que abordarei aqui o trabalho com a sexualidade sagrada para a mulher, enquanto criadora e doadora da vida. O propósito é o de colocar a mulher em relação com o corpo e a sua energia: percecionar o corpo como matéria-prima, através da qual ela poderá vir a conhecer e valorizar suas próprias e profundas emoções, intuições e sabedoria instintiva,tornando-se este aquilo que já é - sagrado e um templo sempre recetivo a si próprio e à vida.
Visa igualmente o contacto e expansão com a energia erótica e a consciência e libertação de padrões emocionais antigos obsoletos, com benefícios para a auto-estima, confiança em si, capacidade de vivenciar relacionamentos maduros e de reciprocidade e para uma postura inteira e criativa perante a vida. Sendo cada mulher um universo em si, as abordagens ajustam-se aos temas específicos de cada uma, sendo que nos meus recursos mais usuais contase: técnicas de respiração, som e movimento corporal para consciência corporal e ativação, geração e expansão da energia erótico-sexual; meditações; massagens; escrita (registo/diário de emoções, do ciclo menstrual, da história de vida), desenho, dança intuitiva e rituais.
É procurado por mulheres que querem ligar-se à sua natureza feminina, curar feridas e bloqueios sexuais, conhecer a simbologia e poder dos órgãos sexuais e trabalhar o corpo para recuperar e/ou expandir a capacidade orgiástica, desenvolver a auto estima e o amor-próprio, assim como a abertura a relacionamentos plenos, irradiar energia e integrá-la em todos os atos da sua vida.
Quando a energia sexual é desperta e aceite, há fluidos criativos que são estimulados e as fronteiras ou limites racionais são impelidos para o domínio do não convencional e do irracional. A mulher passa a permitir-se ser tocada pela beleza, pela alegria, pela espiral de mudança contínua, pelos ciclos da vida e pelas estações da terra, pelo prazer e pela alegria; abre o coração e torna-se permeável, dança com Eros e inspira e alimenta à sua volta.
E esta é a porta de entrada para a sustentabilidade do bem mais precioso que nos foi doado: a vida nesta terra. A sensibilidade e o cuidado para com todos os seres e a entrega à cura e regeneração deste chão que nos sustenta torna-se uma causa natural, presente nos gestos diários e transmitida às nossas sementes – crianças e jovens.
SOCIÓLOGA, FORMADORA COMPORTAMENTAL, TERAPEUTA SEXUALIDADE SAGRADA FEMININA
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in REVISTA PROGREDIR | OUTUBRO 2013