in REVISTA PROGREDIR | FEVEREIRO 2015
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Ser autêntico tem muito que se lhe diga. É talvez um dos valores mais raros de encontrar na sociedade atual e ao mesmo tempo um dos mais importantes. Todos os dias lidamos com a cultura da modelagem, as crenças e preconceitos sociais. “Se os outros se comportam de determinada forma, porque hei-de ser diferente? Será que sou eu que estou errado? Se as minhas opiniões forem mais radicais e destoarem das do resto do grupo, por que não alterá-las?”. Temos medo de ser originais, de ser exatamente como somos. Vivemos numa procura constante do que é ideal e acabamos por nos esquecer de aproveitar as capacidades e aspetos que nos definem. Há que contrariar esta tendência valorizando-nos e afirmando-nos mais!
Ser uma pessoa autêntica ou atuar com autenticidade?
Poderemos optar por ser autênticos apenas em alguns contextos ou situações e o mesmo se passa com as pessoas. Infelizmente é fácil escondermos o que pensamos ou sentimos em função da mensagem que pretendemos transmitir e das expetativas que queremos criar. Se, por um lado, é através das relações interpessoais que moldamos a nossa personalidade e definimos os ideais com que queremos reger a nossa vida, por outro são também estas que nos levam a colocar muitas vezes em causa a educação e formação transmitida pelos pais e a família.
Na realidade, e tal como afirmou Ralph W. Emerson, pensador e filósofo: “O homem só é totalmente sincero sozinho”.
A autenticidade não nasce connosco, é conquistada e praticada por nós. Em primeiro lugar, interessa que nos conheçamos, nos aceitemos (auto-confiança e auto-estima) tal e qual como somos: com as nossas qualidades e fraquezas, bem como, características físicas e psicológicas. Essa fidelidade a nós mesmos permitir-nos-á atrair uma maior quantidade de pessoas e situações, não tendo propriamente a preocupação constante de agradar e corresponder aos outros. É impossível que todas as pessoas se identifiquem connosco - seria até bastante cansativo tentarmos contrariar esse facto. Em segundo lugar, importa relacionar autenticidade e respeito pelos outros. De facto devemos procurar viver em conformidade com os nossos valores e objetivos de vida, mas preservando e salvaguardando sempre a integridade dos outros. É por isso fundamental ter em consideração a forma como nos expressamos e comportamos em todas as ocasiões.
Temos a capacidade de nos expor verdadeiramente aos outros quando somos autênticos interiormente. Trata-se de um equilíbrio entre o que sabemos que se passa na nossa consciência e no nosso coração e o que exteriorizamos. É curioso perceber que a linguagem corporal e facial demonstra muito acerca dos nossos sentimentos, por exemplo. Permite-nos transmitir ideias erradas aos outros acerca do que realmente sentimos face aos acontecimentos e utilizar sinais concretos tais como o sorriso ou o choro para o fazer. Comportarmo-nos de forma autêntica deve ser uma escolha e não uma consequência. Decidimos ser íntegros e verdadeiros por nós próprios e não porque os outros o são connosco. Se assim fosse, possivelmente não acreditaríamos em metade dos valores que defendemos no nosso dia-a-dia.
Quais os riscos de uma vida sem autenticidade?
O crescimento exige naturalmente mudança. Para nos adaptarmos a diferentes contextos ou especificidades, somos obrigados, muitas vezes, a alterar crenças e comportamentos. O que não é necessariamente negativo, antes pelo contrário, é sinónimo de maturidade. Assim sendo, ao longo da vida poderemos apresentar traços de personalidade distintos, bem como objectivos, sonhos, ideais, valores, opiniões, entre outros. Ser autêntico é estar em sintonia com o momento presente, com a realidade que atravessamos e com as eventuais potencialidades que temos para lidar com ela. O maior risco de vivermos sem autenticidade é sermos infelizes e consequentemente tornarmo-nos pessoas solitárias. Durante algum tempo até conseguiríamos sustentar algumas máscaras, mas não iria ser definitivo. Sofremos interiormente quando não somos verdadeiros, quando permitimos que o nosso corpo se manifeste de determinada forma, enquanto a consciência adota a perspetiva contrária. De uma forma geral desejamos estar rodeados de pessoas que confiem em nós, o que só é possível se lhes dermos motivos para tal, preservando a verdade e revelando-nos genuinamente.
A ideia mais importante que poderemos reter ao refletirmos sobre este conceito é que a autenticidade é para ser vivida no momento Presente. Mais do que nos preocuparmos com o dia de ontem interessa estarmos conscientes de que a oportunidade para sermos melhores e vivermos de forma espontânea e verdadeira começa agora! Muitas vezes as vivências passadas conseguem destruir a nossa capacidade de atuação. Não só estas deverão ser controladas como as expetativas que criamos acerca do Futuro. Viver o aqui e agora, com o máximo de intensidade e sobretudo tendo noção de que cada minuto da nossa vida é único e irreversível!
MARIANA SANTOS PAIVA PSICÓLOGA CLÍNICA COGNITIVOCOMPORTAMENTAL [email protected] in REVISTA PROGREDIR | FEVEREIRO 2015 (clique no link acima para ler o artigo na Revista) |