Por Carlos Lourenço Fernandes
in REVISTA PROGREDIR | JULHO 2013
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Outra realidade é constituída pelo mundo das nossas vivências. As vivências, sobretudo dos seres humanos, são construtos de outra realidade. Onde se verificam estados e processos conscientes e inconscientes. São as vivências com a complexidade inerente às relações no universo das verificações de relacionamento. As relações humanas, entre indivíduos, grupos, nações, Estados ou instituições, as vivências edificam uma outra realidade, um outro mundo que, pelo menos prima facie, é claramente distinto, diferente, da realidade material da natureza. As vivências já não são natureza. Estão além/ao lado/ acima da realidade material das coisas. É outra realidade.
Realidade distinta ainda a que se configura e desenha através dos produtos objetivos do espírito humano. Sapatos, aviões, computadores, esculturas, filmes, artefactos. O mundo produzido, gerado, pelo espírito humano. Outro mundo. Distingue-se da realidade material das coisas, das vivências. Três mundos que vivem em interdependência acrescida, estabelecendo relações diversas, mas distintos. Natureza, vivências, produtos objetivos da inteligência humana. Coisas (loisas) diferentes. Mas em interdependência. Nós somos o autor da obra, do produto e simultaneamente somos moldados por ela. E no confronto com as realidades materiais primeiras (a natureza) e amadurecemos com as vivências (que nos conformam também).
É importante a consciência de que sabemos pouco e pouco sabemos das consequências imprevisíveis dos nossos atos. Mas dispomos dos melhores meios: o ensaio e o erro. Julgamos, com razão, que podemos e devemos contribuir para a melhoria do nosso universo. Com razão, trabalhamos para um futuro melhor. A competitividade entre as teorias conduz à eliminação das teorias inúteis. No passado remoto (mas ali) o defensor de uma teoria ou era segregado ou morto. Hoje, pelo menos nas democracias ocidentais, no ocidente político, podemos deixar morrer as nossas teorias e sobreviver a elas. Hoje é possível a aplicação da crítica consciente, não violenta e, por conseguinte, a revelação de teorias sem o aniquilamento dos seus defensores ou autores. Podemos eliminar as falsas teorias sem violência mediante a crítica. Mesmo a crítica semi-violenta já é um desempenho e progresso para o estado da razão. Já é um estádio transitório para o desenvolvimento da razão.
O método da ciência é a correção do erro. Não é o abandono da aventura por um futuro melhor. O abandono e a prevalência do domínio e subordinação à realidade material das coisas – à natureza – é uma fraude. Uma teoria inútil que, na competitividade entre teorias, desaparecerá, sem violência.
Professor, Escritor, Conferencista
[email protected]
REVISTA PROGREDIR | JULHO 2013