Por Ana Agostinho
in REVISTA PROGREDIR | MARÇO 2014
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Crescemos a brincar com bonecas, a brincar com o conceito de mulher que o mundo criou. O mundo educa-nos suaves, sensíveis e intuitivas. A vida empurra-nos para um Yang de carros, de força, de conquistadores, para um Yang que complete a metade rasgada da fotografia.
Esta é a epiderme da mulher na sociedade... Mas, em essência, somos muito mais. Hoje, sim.
Asser tivas, confiantes por dentro e às vezes por fora, somos pessoas que se deitam à noite com o cinzento da emoção e que acordam de manhã com o branco da força de quem conquista.
É verdade que somos uma energia confusa... A mulher sabe ser um zero de palavras que diz tudo no silêncio e um oceano de caracteres difusos e incoerentes, e por vezes tudo isto no decorrer de uma só conversa!
É verdade que os homens nem sempre nos compreendem, mas não foi para isso que fomos feitas. Nem educadas. Nem coisa que se pareça! Os mais belos poemas foram escritos nesta interrogação, e é também a par tir dela que se forma a atração dos sexos...
Mas calma... Depois da capa e dos primeiros capítulos, chega de forma diligente o capítulo mais esperado e mais assustador. O de ser mãe. Somos um ser que é mãe. E isso é mais do que intuitivo, é mais do que a racionalidade de três letras, é um superpoder.
É a capacidade de sentir para além de nós, é um sentimento que nos transcende e que ultrapassa a nossa condição…
Mete medo. Todos os dias. Esta extensão de nós arranca-nos pedaços de tranquilidade, arranca-nos sentimentos de calma e arranca-nos instantes de felicidade, que guardamos connosco naquele pequena caixinha de memórias que guardamos religiosamente.
Sem receios, é o momento em que somos soldados numa guerra, se for preciso. É o momento em que somos sábias, não sabendo de nada… É o momento em que aprendemos a parar o coração, em emergências.
É o momento para o qual nada nos preparou, época de brisas, furacões e acalmias, tudo ao mesmo tempo. É o trabalho que fazemos sem ordenado e com a melhor recompensa de todas… É aquele que, mais do que o sono, nos retira a necessidade de dormir! E dizem os livros que a mulher é o sexo fraco. Esses livros já viram mulheres a tentar levantar móveis sem sucesso, mas nunca as viram com um filho ao colo, outro no chão, dois sacos de compras, uma mochila e uma bola que um dos filhos não quis levar na mão, porque estava muito cansado.
Livros que não sabem da vida, enfim. Mas há outros que também nos dizem muito. Já o Saramago escrevia que, “se virmos a realidade, as mulheres são mais sólidas, mais objetivas, mais sensatas. Para nós, são opacas: olhamos para elas, mas não conseguimos entrar lá dentro.”
Visto do lado feminino, não podíamos ser mais transparentes, não podíamos ser mais simples… Um misto de par te do que faz o homem homem e de tudo o que faz de nós mulheres. Fácil, não é? Uma pitada de razão, vários quilos de emoção e toneladas de paixão, em tudo o que fazemos. É ter várias fases da lua, ser personagem de vários filmes, protagonista num filme de comédia e figurante num outro de ação, é viver 90 horas num só dia, é encaixar a paixão do trabalho na prioridade da família.
Se estamos cá para educar e para renovar o mundo, também não calhava mal ter mais do que 24 horas no dia… Ou no fim de semana! Fica a sugestão.
Em suma, nós, mulheres, temos um turbilhão do mundo dentro de nós, que vamos soltando com a vida.
Muito mais do que Yin, muito mais do que a palavra mulher encerra em si, somos muito mais do que isso. Hoje, sim.